26 de janeiro de 2010

FUNCIONÁRIO DO SUB-SOLO

Chamado de rato do subsolo,
Sua profissão: empacotador, despachante, quebra galho.
E todo mundo ele embrulhou,
Empacotou o diretor,
Despachou o administrador
E na sua voz, sem voz,
A sua volta contou
Que estacionado no subsolo.
Estava sob a terra,
Debaixo do céu, dentro a terra – no centro do planeta.
Nessa “encucação” a imaginação fertilizou.
Foi de subsolo a abrigo anti-atômico.
Então a temperatura destemperou-se,
Pela falta de chuva, sol e vento.
Somente uma galáxia se formou,
Da poluição e do mundo lá fora se comentou.
Contraditório no seu espaço,
Mil caminhos procurou,
Na quarta dimensão penetrou,
Num disco voador o subsolo se transformou.
Foi daí que ele voou,
Subiu para o quinto andar, o nono, décimo,
Ao céu chegou.
Em Marte, um pouco parou
E, pelo universo enveredou,
Um belo planeta avistou,
E na Terra muito pensou.
Então de pane se enrolou,
De saudade se inflamou,
No subsolo pensou.
O infinito encontrou.
Revoou: Marte, Décimo, nono, quinto andar.
Enfim no subsolo entrou
Aos amigos abraçou.
A amizade bem fundo lhe calou.
O amor estava bem ali.
Alcimar...
Do sonho acordou
Finalmente o subsolo funcionou
Tchau.

Rubens Prata – escrito para o amigo, companheiro de trabalho no subsolo do prédio da empresa Hoechst, era falador e enrolado o tal amigo Alcimar em 1973.
,

ALGUMAS PITADAS

Para dizer-te palavras lindas
Eu preciso de uma pitada de tristeza,
Um bocado de mágoa,
Uma pá de revolta.
É que sou poeta.
Poeta feliz.
Infelizmente...

Rubens Prata – 05-10-09

INCOMODAÇÃO

Uma coisa me incomoda,
A falta de inspiração.
A perda do tesão.
Não falo de tesão de macho,
Mas daquilo que acho,
De excitação,
De emoção,
De tesão pela vida,
Do que dá sentido a tudo.
Da dor de ficar mudo.

Nem o canário da terra
Que pousa na sucupira,
O curió que berra,
O beija flor do Ipê branco,
O sanhaço azul
Visitando-me diariamente,
Nem os cães de rua
Passando para um cumprimento
Encantam-me o bastante
Para trazer-me alento.

Nem o vento avareense
Que refrigera o calor
E congela o frio,
Traz o meu amor.

Ah! O vento...
O vento mora em Avaré.
Nem ele, tem inflado a vela da paixão.
Mas, aqui tomo meu café,
Aqui eu moro
E falta pouco,
Bem pouco,
Para estimular-me
Como louco.

Rubens Prata 03-10-09

PRÉ-SAL

Estrangeiro explorar o petróleo do Brasil,
Ainda vender para nós o barril.
Ah! Eu grito.

Não tolero lero-lero,
Privatização eu não quero.
Já me livrei dos partidos,
Hoje sou muito mais querido.

Dilapidar nossa riqueza
Transferindo-a ao estrangeiro,
Financiada pelo BNDS
Sem cobrar imposto.
Ninguém merece.

Peço aos congressistas,
Não permitam desnacionalizar o pré-sal
Tomem cuidado.
É um bem que pode virar um mal.

Se você está de acordo,
Não lamente,
Reclame,
Arrebente.

Rubens Prata 05-10-09

PAPEL DA ARTE

Penso que a arte,
Deva trazer beleza
Para o mundo,
Encanto para as pessoas.

Mas palavra
Na madeira
Não se lavra
Não se pinta
Com pincéis.
Como não posso enviar por E-mail
Minha arte plástica.
E, não sou tão bom artista da palavra.
Para pintar por escrito
O que sinto
Apenas digo:
Como é gostoso ter sua amizade.

Rubens Prata 12-09-09

CHOVE LÁ FORA

Tirei folga.
Queria fazer
Alguma coisa nova.
Mas chove lá fora.

Quem sabe encontre
Inspiração para escrever
Mas o tempo é frio, cinza,
Escuro, molhado
E, chove lá fora.
Tai-Chi-Chuam talvez.
Mas sem companhia,
Sem estímulo?
Chove lá fora.

Tirar uma soneca
Seria uma boa.
Mas a alma irrequieta,
Fervilha!
Chove lá fora.

Há tempos
Uma escultura do São Francisco
Espera para ser feita.
Mas há compromissos outros.
Chove lá fora.

O corpo dói,
Mereço descanso,
Mas trovoa, venta, relampeia
Sobretudo em minha alma.
A chuva da alma
Molha minha face.

Rubens Prata 10-09-09

TUDO MUDOU

Do saber,
Só sei agora que nada sei.
Partido político?
Só o meu, o das Artes!
Do religiosismo
Sobrou a religiosidade.
Do ter que fazer
Ficou o fazer por prazer.

O forte ficou cauteloso.
O instrutor
Virou aprendiz.
O hábito de ensinar
Misturou-se a mania de amar.
O correr,
Agora é só, discorrer.

O medo transmudou-se em confiança.
O adulto virou criança.
O Deus procurado,
Mora comigo.

Mas...
Como dizia Drumont:
“De tudo ficou um pouco”

Rubens Prata 13 -9-09

PRAÇA PADRE TAVARES

O paraíso é aqui.
Do passeio do Turista.
Da cerveja gelada,
Do caminho do vento,
Da mesa na calçada.

O Brasil é logo ali:
Rua Bahia, Pará,
Rio Grande do sul,
Rio de Janeiro.
Não me tirem daqui.

O sorvete gostoso da esquina,
Na Cidadania uma boa canção,
Na rua, a bela menina,
O rapaz com o violão,
O encontro de amigos,
A paz do hippie.
A majestosa Nossa Senhora das Dores.
Por favor, não me tirem daqui.

A música na Concha,
O espaço vazio,
O menino do Skate,
O quiosque do Rubens,
A alegria do Tadeu,
O encontro de artistas.
Não me tirem daqui.

Não me tirem daqui
Da sombra das árvores,
Tem bem-te-vi me olhando,
Maritaca na palmeira reclamando
Curió no ipê branco,
Sabiá laranjeira voando
Tem Azaléia,
E petúnia florando.
O paraíso é aqui
Na Praça Padre Tavares.

Rubens Prata 13-9-09

VAZIO, VAZIOZINHO

As palavras fugiram.
Não as encontro.
Ando vazio:
Vazio de idéias,
Vazio de sentimentos,
Vazio de tristeza,
Vazio até de sofrimento.

Se houvesse, pelo menos,
Uma gota de mágoa,
Seria motivo para as palavras brotarem.
Mas, até as lágrimas me esqueceram.

Ando vazio de vazio.
Vazio já seria alguma coisa a ser cheio!
Ando nulo, incólume, indiferente.
Pior ainda: Conformado!
Conformado com a incompetência,
O desrespeito,
A má vontade,
A preguiça,
A desordem...

O que me dá medo,
É que não esteja só com o corpo velho.
Mas com a alma cansada, enrijecida.
Pois, não brigo,
Nada falo.
Não grito:
Basta!

Ando vazio,vaziozinho!

Rubens Prata 28-8-09

POUCAS PALAVRAS

Eu não minto
Palavras são importantes para mim.
Queria tê-las:
Para dizer o que sinto,
Para secar os prantos.
Para fazer graça,
Provocar um encanto.

Queria tê-las
Para trazer paz à existência,
Para contar do universo conspirando a nosso favor.
Para abrir um sorriso em faces tristes.
Para do fundo do coração, dizer:
Amamo-nos,
Como irmãos, como amigos, como família!
Somos amados
Como almas que caminham pela eternidade.
Somos amados pelo que fazemos,
Até pelo que não fizemos.
Somos amados por anjos e entidades
Que embora desconhecemos.

Queria ter palavras
Palavras meigas, alegres,
Para distribuí-las a mãos-cheias.

Rubens Prata 20-08-09

EU QUERO É BRASIL

Basta desses mesmos rostos,
De tanto chá
Com o mesmo gosto.
Eu quero é Brasil,
Goiabada cascão
Com muito queijo
Dar-te na rua, em público,
Na boca, um grande beijo.

Basta desta única dança,
Dessa repetida canção.
Eu quero é Brasil
Com tanta nuança.
Rock, Baião, Bossa, Samba-canção.

Basta desse único, venerado,
Enorme e sujo rio.
Eu quero é Brasil,
Do rio Iguaçu, do novo,
Do de Janeiro.

Eu quero é Brasil.
Seja: “Tupi or noTupi”
De branco, ruivo, amarelo,
De Negro, cafuzo,
De vermelho,
De pardo confuso.

Basta de monstros,
Super-heróis, policiais.
Eu quero é Brasil
Copacabana,
Central do Brasil.

Eu quero ver
O maior amor do mundo,
Curumim, Pererê, Magali
Menino Maluquinho
E tudo o que vem por aí.

Nada disso de mesma religião,
Do mesmo partido.
Eu quero briga!
Brasil, confusão.
Desigualdade,
Liberdade, emoção.

Eu quero essa criança imatura
Com tudo por fazer.

Rubens Prata - 03/08/09 – 5,30 hs

OPINIÃO É TABU

Interessante...
Entre nós tupiniquins, fofoca está na “Caras”.
Tem revistas, programa de
Fofoca na TV. Fofocas há, entre visinhos, companheiros de trabalho, no jornal.
Mas se você falar que não gosta de programa religioso na tv. Nossa! Aí o bicho pega.
Se disser que ama de forma diferente os filhos. Cuidado! Você pode ser linchado.
Experimente dizer que não gosta dessa nova música sertaneja. Vai arrumar intriga, pelo menos uma peleja.
Pois é, nada é tão ruim que não possa piorar.
No país da fofoca, opinião é tabu.

Rubens Prata – 04/01/09

CRIANÇAS

Criança!...
Criança é criança. Uai!
Despertam na gente
Os mais bonitos sentimentos.
A puxada do cobertor na madrugada,
O beijo na testa,
Cujo carinho, propositadamente,
A febre atesta.

- Ulisses. Põe a blusa!
- Augusto.Olha o carro,
Saia da rua!.
- Olha vovô a minha dança!
-Tá bom Eduarda, mas não saia do banheiro nua.

Criança é alegria.
Um abraço apertado
Prendendo-lhe os joelhos
E outro, ao mesmo tempo,
Sufocando-lhe o pescoço.
- Vô. Eu te amo!
- Vô. também te amo!

- Augusto!...
Não coma toda torta.
- Felipe!...
Não bata mais a porta.

Criança é arrelia,
Folia sem escrúpulo,
Um ataca a geladeira,
Outro sobe pelos batentes,
E o pequeno bate a porta do armário
Que outro, um dia, já quebrara.

Vovó é alegria dos netinhos,
Dá bronca,
Faz bolo,
Fica tonta.

- Olha o Felipe comendo Isopor.
Isabella
- O Felipe defecou!
Bem, nem tudo é perfeito.

Rubens Prata 15/08/09 – 3,00 Hs.
HOJE EU DESABAFO
Não vou fazer aqui nenhum novo poema, poemas são para artistas especiais, vivendo e respirando arte.
Quero desprender-me das amarras que tolhem meu Tesão
Digo tesão não no sentido de macho. Mas daquela gana explosiva e incontrolável de desejo de realizar arte, de encantar as pessoas, de trazer para o mundo o melhor de si.
Pois, essa excitação que dá sentido à vida, o motivo maior para existir, sempre me pertenceu; agora me falta. E, não é de hoje, mas de algum tempo.
Perscruto minha alma para encontrar esse vírus maldito que me aprisiona. Nada encontro. Definho.
Meu corpo padece as dores da idade, do sedentarismo, mas o espírito ainda vibra, clama por entusiasmo criador.
Meu desejo não mudou , mas transformou-se a vida a meu redor, a casa, as pessoas.
A conversa é frívola, há gritos constantes, não se planeja, não se deseja, não se fala, não se ouve arte.
O mofo substituiu a caiação, a telha vasa alagando a lavanderia, os reboques sobressaem nas paredes dando aquele aspecto de desmazelo. O jardim da calçada abandonado, a calçada sempre suja, um monte de gatos que só se interessam por comida, as crianças e os gatos vandalizam os vasos de flores restantes, todas as a maçanetas quebradas o ateliê com brinquedos esparramados, minha esposa sem forças. Até as drosófilas e moscas de ralos instalaram moradia fixa na casa.
O que mais é preciso para se estar vazio?
Meu criador me ajude, eu lhe peço!.
Me dê forças para mudar esta situação.


Rubens Prata

UM PC FERIDO

Meu pczinho de 246 MB de banda estreitíssima parecia o tal, aguentava qualquer brincadeira, participava de muita prosa. Até o dia, no qual ocorreu o acidente.
Acabou na U.T.I. cheio de vírus, HD fraturado, todo encrencado.
Três meses para recuperação não foram suficientes. Ficou capenga, perdeu a memória dos livros que guardava, as histórias em quadrinho, uma centena de poemas e trocentas fotos que mostravam arte e aventuras por Avaré.
Mas é com essa mesma mula manca, totalmente cega para scraps complicados e vídeos que retorno para os amigos tentando reabilitar-me com novas emoções e bons sentimentos. Tirando do fundo do coração palavras fresquinhas que levem alegria, encanto e um abração a todos os que me mandaram congratulações e esperanças de um pronto restabelecimento de contato.

Rubens Prata 17/08/09

DESENCANTO

Hoje...
Não consigo encantar ninguém com minha arte,
Nem mesmo, me encantar com a vida.
Não canto aos meus amores.
Nem posso falar de flores.
Não posso brincar de rimas,
Navegar na internet com minhas primas.

Hoje...
Estou triste!
Indignado,
Mortificado,
Amargurado.

Tenho vergonha de ser homem.
Portanto,
Não posso escrever um belo poema.
Não consigo olhar as aves no céu
Nem ver os lírios do campo.
Só posso pensar em gente aos pedaços.
Mãos, cabeças, pernas, olhos,
De mulheres, homens e crianças despedaçados.

Hoje...
Não consigo amar.
Estou puto,
De luto,
Com raiva,
Sou um bruto.

Minha alma está morta.
Morreu como morreriam
Meus pais,
Filhos, netos e primas.
Morreu com meus semelhantes
Num longínquo país.

O pior é que:
Não morreram por acidente,
Nem morreram por causas naturais.
Morreram por ódio,
Por racismo.
Em Gaza.

Hoje...
Só posso chorar
Com vergonha de pertencer à raça humana.

Rubens Prata

(Acreditando que a causa seja justa, peço aos queridos amigos e família que escrevam ou repassem este E-mail repudiando o ódio e o racismo em todo o planeta. Penso, que assim possamos manifestar nossa indignação com o que acontece em Gaza e em outros lugares.)

LEMBRANÇAS VAZIAS DE UMA VIDA EM SILÊNCIO

Como falar de uma sombra de si mesmo.
De uma existência espectral,
De viver em silêncio,
Dos anos sem acontecimentos?
É como dizer de um retrato na parede
Parado, extático e em branco e preto.

O que dizer de palavras do silêncio?
Por acaso. Poder-se-á contar as aventuras de uma vida –
Só de trabalho?
Como extrair alguma coisa
De quem viveu à margem dos acontecimentos?
Quais os sentimentos,
Dos melhores momentos?
Daria para lembrar-se de amores guardados no cofre!

Meus quadros são fortes e coloridos.
Retratos de uma existência retida
Em branco e preto.
As esculturas são fortes e expressivas.
Para contrapor talvez, um corpo disforme,
Sedentário, Parado.

Nunca fui preso,
Mas nunca saí ileso
Não tenho história que seja de peso.
Sou a bomba que não aprendeu a explodir,.
O viajante com medo de partir.
Nem tinha lugar aonde ir!

Rubens Prata - 24 – 12 – 2008 – 19,30 horas

SER BRASILEIRO

Quando lembro ser brasileiro,
Não recordo o subdesenvolvimento
Só penso na mistura de temperos
Com sabores de todas as raças,
Com aromas de todos os cheiros.

Quando penso ser brasileiro,
Lembro bem, como sou antropófago.
Saboreio bem o estrangeiro,
Degluto, transformo e,
Devolvo melhorado bem ligeiro.

Quando lembro que sou brasileiro.
Tenho certeza:
Sou guerreiro,
Sou bravo,
Sou forte.
Mas não sou filho do norte,
Nem do oeste,
Do sul e do Leste.
Sou filho e fruto da Terra,
Sou o seu melhor gem
Sou o sal da terra.

Rubens Prata 23 – 12 - 2008

TV ABERTA

Não quero saber de crises,
Nem assistir na TV
O show das meretrizes.
Mulher melancia,
Melão, moranguinho.
Que agonia!

Por favor,
Não quero saber
O que aconteceu
Com a morte do Zébedeu.

Não quero saber da programação
Que mais me apetece.
O que vem por aí,
Ninguém merece.

Chega de ouvir falar de bandido.
Esse assunto,
É tempo perdido.
Pior ainda,
É tempo sofrido.

O show do Ton,
Mulher Melão,
Pó ke mom,
Vá lamber sabão.

Rubens Prata – 24 – 12 - 2008 - 16,30 horas

O BEM E O MAL

O mal domina
Porque o bem é tímido.
Mas quando o bem se anima,
Todo mal termina.

O mal domina,
Faz da vida uma triste sina.
O bem aglutina,
Faz da vida uma feliz rotina.

O mal é morte.
Traz consigo devastação,
Corrupção de toda sorte.

O bem é forte.
Traz consigo construção,
União e muita sorte.

Desculpem estes versos
Simples e tão pobres.
Mas eu queria tanto dizer
Que o universo,
Ampara as almas nobres.

Contra o mal,
É preciso lutar
Sem nunca fugir.
Pois, é lícito reagir
Sempre,
Quando o mal,
Tornar qualquer vida, imoral.

Já dizia o mestre:
“É preciso que sejais
Quentes ou frios,
Porque se vós fordes mornos,
Eu vos vomitarei da minha boca.”

Rubens Prata – 24 - 12 – 2008 – 11 horas da manhã.