6 de abril de 2023

UM CAVALO DE OUTRO MUNDO




Bons amigo são pessoas que o tempo não apaga nunca da nossa lembrança.

Pois é, entre as décadas de 80 e de 90 do século passado tinha eu uma boa e grande marcenaria com alguns companheiros de trabalho.

Fazia todo tipo de móveis de pinus, madeira esta, plantada em toda a regiâo de Avaré - SP. Portanto, era barata e fácil de encontrar em serrarias.

Entre o fazer móveis, esporadicamente pegava entalhes para fazer em madeira mais nobre.

A especialidade mesmo, era fazer móveis e, para isso mantinha sempre uma quantidade de Pinus secando, já que para móveis a madeira deveria estar sempre bem seca para não abrir ou rachar. 

Sempre que precisava comprar madeira em outra cidade pedia para sair com o Sr. Urbano que, sem cobrar nada, trazia a madeira de uma cidade próxima. 

O Sr. Urbano era um tipo de mascate que vendia linguiça Cambuí e mortadela em vendinhas pelo interior mais próximo de Avaré. 

Eram vendinhas que vendiam para trabalhadores rurais. Vendas estas , que eram marcadas numa caderneta e os trabalhadores pagavam no fim do mês ao receberem seus salários.

Era do mesmo jeito que o Sr. Urbano fazia com os donos das vendinhas. Entregava o novo pedido depois olhava na sua própria cadernetinha o que o freguês estava devendo do mês anteiror. Devo ressaltar que são atitudes de honra e confiança que caracterizam parte do povo brasileiro.

Toda vez que o Sr. Urbano parava para vender e conversar com o proprietário da venda eu saia da sua Kombi para esticar as pernas e observar a região, suas árvores, casas e comportamento das pessoas.

Foi aí que no vilarejo da Barra Grande entre um grande cercado de tábuas brancas, bem distante avistei um maravilhoso cavalo no outro extremo do cercado , bem longe e de costas para mim.

Fiquei impressionado! Era um cavalo  grande e forte, de cor beje muito brilhante, crina e rabo longos e brancos esvoaçando levemnte com a brisa do campo.

Extasiado, fiquei  observando e refletindo por bom tempo como um cavalo poderia ser tão maravilhoso.

Pus-me de sobressalto  quando o distante cavalo, ainda de costas, virou o pescoço e olhou-me por alguns segundos. Fiquei nesse instante paralizado, estupefato, meu corpo estremeceu.

Pensei;  será que esse animal captou  um amor que já sentia por ele?

E não foi que ele virou-se e veio caminhando devagar, passo a passo, em minha direção olhando-me fixamente.

Meu coração batia cada vez mais forte, sentia que algo nunca sentido antes acontecia naquele momento.

Quanto mais se aproximava, com o Sol refletindo em seus pelos, mais parecia que ele possuia sua própria luz. Ainda com o coração batendo a mil refletia como eu e um cavalo que nunca havia visto pudéssemos nos entrelaçar com sentimentos tão inusitados.

Pois bem, quando chegou perto de mim passou a cabeça por cima do cercado e, assustado afastei-me, minha mente não ainda não discernia direito entre tanta emoções surpreendentes, mas ele balançou a cabeça para cima e para o lado como se dissesse: aproxime-se. Cheguei mais perto e cuidadosamente passei a mão sobre sua testa e ele esfregou suavemente sua cabeça em mim.

Ele tinha olhos azuis e uma manchinha branca na testa. Aquele acontecimento despertou em mim uma sensação maravilhosa de entrosamento com o cavalo e a natureza naquele dia.

Depois disso, eu e o Sr. Urbano nos dirigimos à serraria para pegar a madeira que precisava.

Depois de alguns anos um conhecido falou-me que aquele cavalo era especial mesmo, pois ele fazia espetáculos com seu proprietário. 

Enfim, a lembrança do Sr. Urbano, da sua esposa Dona Izabel  e do cavalo que já partiram para outra vida permanecem muito forte em meu coração.

Rubens Prata


5 de abril de 2023

ANDANÇAS

 

Andei!...


Andei muito mesmo!

Andei com palavras fartas

Que às vezes me fugiam,

Outras, se faziam de rogadas.

Caminhei  por ciências diversificadas,

Por crenças desconhecidas,

Por mistérios insondáves,

Escondidos entre letras e livros.

Andei...

Andei para encontrar

O que sou, 

De onde vim, 

Para onde vou.

Andei em busca de propósitos

De ideais

De vivências. 

Andei entre 

Enganos e desenganos

Erros e Acertos

Farturas e carências.

Andei por aí

Com borracha, lápis e cartão Canson.

Andei armado de palavras que ferem

E de palavras que salvam. 

Sim! Reconheço que tenho sombras,

Mas continuo caminhando. 

Nossa!...

Andei nas asas de uma áquia,

Pelo espaço sideral,

Num planeta escravizado,

Em outras dimensões.

E, só aos 50 anos

 Encontrei meu melhor propósito

De ser só eu mesmo,

De viver só o dia de hoje

Sem "sabedorias", medos,

Incertezas,

Sem nada mudar.

Agora, após 72 anos

Desgastado precocemente

Pelas dores da idade,

Pelo exagero da andança, 

Pelos vícios;

Percebo que andei sempre

Sobre as Mãos do Criador.

E, posso afirmar

Que nessa caminhada,

Que mesmo nos muitos tropeços, 

dores, amarguras;

Sempre fui muito feliz.

Compreendo perfeitamente hoje

Que minha andança pela 3ª dimensão

foi uma dádiva, um presente,

A misericórdia da Fonte Criadora.

TUDO TENHO A AGRADECER!

Rubens Prata