24 de dezembro de 2012

EM NOME DA VIDA, AMÉM!




Em nome da vida vc vira ator do próprio drama,
Escala montanhas de dificuldades,
Supera todos os vexames,
Sobe no prédio pelo lado de fora.

Em nome da vida vc se torna atleta,
robusto lavrador, levanta uma perua Kombi no muque, se torna pessoa delicada,se faz intelectual  refinado, artista da palavra, pintor de emoções. .

Em nome da vida vc estuda, enfrenta percalços, faz escola, ensina educa, aprende, ama sem condição.

Em nome da vida vc mata um leão por dia, carrega nas costas um montão de amores, cuida e, de vez em nunca, até cura.

Em nome da vida vc desce do muro, batalha pelos outros, toma partido, enfrenta desilusões, defende causas.

Em nome da vida vc sabe que os sãos não precisam de médicos, supera traições, perdoa, esquece e ainda estende a mão ao infame.

Em nome da vida a gente faz tudo isso e muito mais,
Em nome da vida amém.

Rubens Prata

Sem essa de Rádio Pirata, na verdade se todo mundo fosse livre para montar uma transmissora, isso só ajudaria a informação, a comunidade, o conhecimento, a democracia e o direito de escolher o que quisermos ouvir sem as imposições e o jabá que há hoje.

62 ANOS



Aos 62, reconheço que já vivi a maior parte da vida neste planeta. Portanto, devo aproveitar cada minuto usufruindo desse paraíso chamado Terra porque do outro lado ninguém sabe como será .
Não suporto pessoas que não admitem envelhecer, o que é tão natural e bom.
Não admito ninguém com mais de 60 incomodado com a barriga, as rugas, porque isso é  só um efeito do tempo e da gravidade.
Também não gosto de pessoas as quais não se pode falar da morte ou de tristeza  - sentimento tão natural  àqueles possuidores de sentimentos.
Com minha idade, reconheço que o mundo vive um culto ao corpo exacerbado, onde morrer é incômodo, por isso a maioria das pessoas morrem em hospitais e não em casa ao lado dos seus.
Não posso perder tempo com discussões infindáveis de pessoas desejando ter a supremacia sobre outras.
Não posso perder o meu tempo correndo atrás de fortuna e fama. Só posso ser eu mesmo.
Não perco um minuto com gente incomodada com a vida alheia, mas perco todo o tempo com aquelas que têm muito a dizer sobre a vida.
Aos 62, conscientizo-me perfeitamente de as pessoas estarem vivendo numa “Matrix” onde todos estão sendo constantemente manipulados a fim de  submeterem-se a um modus-vivendi de escravos das corporações, bancos e consumo, realizando uma competição  infindável e inútil a fim de obterem uma vida confortável inalcançável.
Nesta idade só posso aceitar muitos amigos, o melhor filme, a música mais linda, afagos, carinhos, colinho para os pequeninos, bom papo e uma bela lagoa para banhar-me.
Sobra-me outro imenso prazer quando comemoro meu aniversário com grande festa, amigos reunidos e muita música, pois um ano a mais é uma vitória a ser comemorada com pompa e circunstância.

Rubens Prata

RAZÕES




Não me peçam razões por defender as causas e pessoas as quais defendo.
Pois há atitudes maiores do que a própria razão,
Elas partem do coração
Da vivência e do tempo vivido,
De experiência no mundo das sensações.

Não me peçam razões por agir desta ou daquela maneira,
Porque todas as razões serão hipócritas se só representam minha maneira de pensar.
Porque todas as razões serão mentirosas, uma vez que não se pode por uma vida inteira de argumentos numa frase.

Não me peçam razões se sei que o instinto de preservação sempre age certo mesmo quando não temos razão para reagir. Ou seja, porque há coisas mais certeiras e acertadas do que a própria razão.

Enfim, não me peçam razão porque quase nunca não as tenho;

Rubens Prata

A comunicação comunitária é um direito de todos e não poderia, segundo o bom senso, ser criminalizada. O que deveria ser criminalizado é a proibição do livre direito de se comunicar

AOS AMIGOS GUERREIROS




Parece que somos gotinhas a pingar num oceano de desonestidade, mas há milhares de gotas neste oceano só balançando conforme a maré e que também não são desonestas, gananciosas - só não sabem para onde vão. Somos sim a maioria absoluta capaz de criar a maior tempestade no planeta. Pois é, essa gente só está caminhando sem rumo porque não reconhecem que foram destinados a ser livres e escolher seus caminhos. 
Mas, se vc notar com muita atenção verá que no mundo está se criando e se avolumando uma nova luz onde não cabe mais a mentira,o engodo, a manipulação. Aqueles que praticam usura, os corruptos, os manipuladores estão começando a ficar a descoberto e cada vez mais pessoas nesse oceano já os estão identificando e uma tempestade incrível se avoluma no ar. 
Não creio que ressuscitaremos um socialismo marxista, mas algo
ainda mais divino na base da solidariedade plena, do cuidar das coisas da Terra, do respeito ao outro. Acredito que os anjos trabalham conosco nisso e se vivermos, pelo menos, mais uns dez anos, teremos a oportunidade de vislumbrar essa nova e maravilhosa era.

Rubens Prata

A liberdade de imprensa no Brasil, na verdade é a liberdade do dono da imprensa

SER CORINTHIANO



Explicar para quem não é corinthiano é o mesmo que querer dizer quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha.
Ser corinthiano é um estado de espírito que só quem o é pode entender.
E, estado de espírito se explica?
No entanto, posso afirmar que é ter certeza de  sentir-se parte do povão, de ser arqui-brasileiro, Zé povinho como os grandões falam.
É como fazer parte da vida com mais intensidade, satisfação, tesão com a boca salivando de desejo.
Ser corinthiano é ter a consciência de que vc faz parte da massa que mesmo sendo pobre sabe que tem garra suficiente para enfrentar o rico poderoso com sua máquina demolidora e vencer.
Ser corinthiano é ter confiança frente a  qualquer obstáculo mesmo
quando todos os prognósticos  dizem o contrário.
Assim como aconteceu recentemente no Japão.
E quando a massa festeja... Sai de baixo!
Ser corinthiano...  É ser bonito assim.

Rubens Prata

Felicidades, crescimento, iluminação é o que desejo a todos  neste momento no qual se inicia uma nova e boa era para a humanidade.
Que os ensinamentos do Mestre Jesus e de tantos outros mestres calem profundamente nas atitudes de todos os seres humanos. Que o conhecimento da verdade em todos os setores se expanda tanto a tal ponto que nenhuma pessoa corrupta, gananciosa, praticante de usura fique sem ser conhecida. Que nenhuma corporação, mídia que emporcalha nosso mundo continue com seus malefícios e que uma era de entendimento, conhecimento e sem drogas seja o destino de todos nós neste maravilhoso planeta Terra.
Rubens Prata

17 de outubro de 2012

AH! COMO SERIA BOM SE ESSE VELHO MUNDO ACABASSE



A princípio, haveria apreensão, lamentações pelo fim do velho mundo. Apegados aos bens terrenos estariam mortos, pelo desespero de perder suas posses. Outros sucumbiriam pela incompetência em controlar seus ímpetos.

Já dizia o mestre: “Bem aventurados os mansos e pacíficos porque eles herdarão a terra”.

Ficaríamos sem energia, sem satélites e consequentemente sem saber nada da vizinhança, muito menos do mundo. Acabar-se-ião as grandes corporações. Logo, não  existiria, laboratórios, bancos e indústria alimentícia.

“A espoliação dos recursos do planeta, a abundante produção de energia ou de mercadorias, o lixo e os resíduos do consumo ostentoso hipotecam a possibilidade de sobrevivência de nossa Terra e das espécies que nela habitam.”

A vida na Terra teria de reorganizar-se de forma bem diferente e seria  justamente esta a maior realização dos herdeiros do planeta que deverão solidarizar-se completamente para reestruturar-se em seu novo mundo.

Certamente, profissões, tidas como importantes, terão desaparecido já que não existirão instituições que as utilizem. Obviamente, não haverá o medo de perder o emprego, a contaminação por produtos químicos, os alimentos industrializados cuja química acarretam doenças, a poluição, governos, patrões, corruptos e.,
  banqueiros a praticarem usura contra o estado e a população,

“Esses imbecis das corporações e determinados políticos tentam convencer-nos de que uma simples mudança em nossos hábitos seriam suficientes para salvar o planeta de um desastre.
Enquanto nos culpam continuam poluindo sem cessar, nosso meio ambiente e nosso espírito.”

Nesse novo mundo a doceira fará compotas em sua própria cozinha. O cozinheiro oferecerá os pratos do dia em sua morada, o fabricante de calçados estará na sua sapataria, a costureira costurará para sua comunidade com tecidos que o tecelão fará no fundo do quintal.

‘’É o homem inteiro que é condicionado  ao comportamento produtivo pela organização do trabalho, e fora da fábrica ele conserva a mesma pele e a mesma cabeça.’’

Em virtude do fim das grandes corporações causadoras de todo tipo de doença teremos muito pouca patologias sendo cuidadas com manipulações de substâncias na própria comunidade. Serão de maior relevância as massagens, fitoterapias, acumpunturas, yogas, exercícios diversos, passes.

Sem o império do capitalismo, as tecnologias escondidas pela cobiça e ambição dos poderosos estarão disponíveis. Portanto,  teremos formas novas de energias como a do hidrogênio, a gravitacional, magnética.
Hoje, já há descobertas suficientes para produzir energia tanto para uso em casas, como para movimentar veículos.

‘’O urbanismo é a tomada do meio ambiente natural e humano pelo capitalismo que, ao desenvolver-se em sua lógica de dominação absoluta, refaz a totalidade com seu próprio cenário.’’

Bom, escrevi este lacônico comentário porque há meses tenho vivenciado um conto que desejava escrever, trata-se da história “Vila dos Botocudos” onde os moradores do antigo bairro das Paineiras em Avaré  vivem uma nova e diferente vida após um cataclismo mundial. No entanto, o conto exigiria muito tempo para ser escrito, tempo este, que não tenho tido apesar de até sentir momentos de êxtase ao vislumbrar esta nova sociedade.

Acontece que creio plenamente na possibilidade de um mundo melhor, onde as pessoas não viveriam sob o estigma do medo da doença, do desemprego, da violência, da fome. Onde os homens saberão que são as empresas que precisam dele e não eles das empresas, que a maioria das doenças origina-se na falta de escrúpulo dos fabricantes de alimentos, dos venenos colocados no solo e aplicados nos animais, que a miséria e as crises são forjadas pelos banqueiros. Onde o ser humano terá conhecimento que existem até laboratórios evitando a cura definitiva, criando vírus e depois o remédio,  que o custo de suas drogas caríssimas é extremamente baixo. Perceberão o quanto são manipulados pela mídia e pelos governos e quantos crimes e horrorosos sofrimentos não acontecem e se propagam por desejo e empenho de alguns poderosos, cujo único e absoluto interesse é só dinheiro e poder.
Neste, novo mundo o homem compreenderá o planeta como um paraíso, um presente da criação, um ente vivo  a ser curtido, respeitado e cultivado por ele e não como algo a ser explorado até a plena exaustão.

“Mostrar a realidade, tal qual é na verdade e não tal como mostra o poder, constitue a mais autêntica subversão.”


Assim compreendem os viventes na “Vila dos Botocudos” onde o dinheiro será apenas um bônus chamado: “Caiowas” auferido às pessoas pelo tempo de dedicação ao trabalho dedicado a outras pessoas, bem como, pelo esforço de conhecimento que este trabalho exigiu.

Estando livres do consumismo incrementado pela mídia e do enorme tempo exigido no trabalho para pagar dívidas acumuladas os moradores da Vila imaginária, dedicam seu tempo usando a manhã  em casa, para hortas, flores e cuidados em geral, o período da tarde, dedicam à comunidade para produção de artefatos, ensino e tudo o que precisam para viver, á noite para a distração, exercícios, estudos e tudo o que atrai e agrada a alma.

A criatividade dessa sociedade ganha extrema importância, pois que falicitará a vida ou encantará  a existência tornando o mundo mais belo.

Na  Vila dos Botocudos, as ruas não terão nomes de “coronéis ou personalidades violentas”, mas de flores, músicas, poetas, árvores, pois o culto à personalidade deixará de existir.

‘’Meu otimismo está baseado na certeza que esta civilização vai desmoronar.
Meu pessimismo está em tudo o que ela faz para arrastar-nos em sua queda’’

Rubens Prata

NOTA: Estes comentários estão baseados em alguns livros como: 1984 de George Owel, Guy Debort – A Sociedade do Espetáculo, Cristophe Dejoues,
Nietzche,Denis Diderot vídeos do You Tub: http://youtu.be/IK8uxMcN5cI, site: Maria Lucia Fattorelli: Estado máximo, só para os bancos,  http://www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/fraudegananciaeusura.htmlhttp://www.youtube.com/watch?v=bQE9NGljtqg&feature=share vídeos como a corporação, Da Servidão Moderna – Jean Françoies Brient, A era da EstupidezAA
A corporação, A conspiração e outros.Alguns postados neste blog.

8 de outubro de 2012

COISA FEIA DE AMIGO VIRTUAL


Não consigo ficar mesmo em cima do muro, me arrisco, tomo partido e tenho partido e se descobrir que errei, peço desculpas em público. Porém, por causa das eleições, o número de publicações a esse respeito nas redes sociais  prolifera insanamente, pois uma consciência mais apurada há de tomar cuidado em verificar se aquilo que compartilha tem compromisso com a verdade, a justiça o bem e o belo., se contribui para um mundo melhor.

Tomo cuidados, nem sempre perfeitos, mas tomo – como no caso do mensalão que considero da maior relevância, o qual nada compartilho e nada opino, pois não estou inteirado dos detalhes e quem nos diria a verdade, a grande mídia que há anos faz disso um espetáculo inconsequente?

Tenho ciência de esse ser o maior julgamento da história do Brasil, mas só o é porque não ocorreram outros como o do mensalão do PSDB, o da PRIVATARIA, do CACHOEIRA que graças a essa mesma mídia poderá não ocorrer, pois é evidente que estas organizações informativas, tomam partido, tem partido,escondem os fatos, são notavelmente parciais e manipulam descaradamente. Sim, elas têm e tiveram privilégios da direita e da elite por longo tempo, basta investigar as facilidades lhes auferidas até pela ditadura, do rabo preso com as privatizações as quais tiveram seu quinhão de benefícios e as verbas que lhe são  destinadas por prefeitos e governadores.

Bom, tenho indignação suficiente  para continuar a relatar sobre fatos como este, mas vamos ao assunto inspirador, dessa história – a coisa feia do amigo virtual.
Acontece que fulano não percebe a manipulação a qual estamos sujeitos, então dispara a compartilhar mensagens na rede social sem a menor averiguação, aumentando assim a insatisfação e a crença de que todo político é corrupto. Essa irresponsabilidade chega a atacar pejorativamente a própria pessoa focada e não as ideias, as realizações e, quando você esclarece o fato, lembra-lhe das manipulações, o fulano diz que não tem partido não gosta de política. Todos os políticos são corruptos e que é vivido suficientemente para não ser enganado.

Ora, se ele não acredita absolutamente em ninguém, por que publicar opiniões na rede social? Por que contribuir para um desserviço a humanidade, com a maledicência, a descrença no bem e  no próprio país? 

Mesmo quando não gosto do político, evito compartilhar fotos montadas com o balãozinho dizendo palavras que o desafeto não disse. Evito mesmo, postar imagens do congresso com notas torpes, pois seria um desrespeito ao valor de nossa democracia. Resumo-me a expor ideias, charges para mostrar minhas concordâncias e discordâncias sem achincalhar pessoa alguma. Acho que todos devem participar, mas com o cuidado de vigiar-se para ver se estão colaborando com um mundo melhor.
Rubens  Prata

ELEIÇÃO



Hoje é dia 7 de outubro, dia de ‘’Cidadania Obrigatória”, minha insônia insisti  em viver mais alguns minutos do  dia que já passou há seis horas atrás. Na rua, pipocam santinhos de candidatos emporcalhando a relva, guardam sonhos de poder para o bem e para o mal. A Lua a minguar compartilha comigo, o ensejo do Sol pintando com luz colorida as nuvens recém acordadas. É pena, uma águia americana escapa da minha máquina fotográfica, mas o Astro do Dia pousa com pompa e circunstância.

Às vezes, invade-me  um desejo de ser igual esse pessoal da ‘’geração saúde’’ como hoje, por exemplo, queria andar explorando as maravilhas da vida de quem acorda cedo, anda, malha e tem o privilégio de dormir à noite, mas não passei do outro lado da calçada. O dia me encantou de pronto e, corri de volta para descrevê-lo.

Bem, novamente ao notebook, à música da noite, às leituras de quem me interessa, ao cafezinho e indignado comigo pelo terceiro maço de cigarros aberto nessa imensidão de horas sem dormir. O conto – Vila dos Botocudos – que há meses se vem montando na minha cabeça ainda não foi para o papel, desanimo só de sabê-lo longo demais e não escrevo. Além do conto, indignações diversas, com política e atitudes de gente querida me prendem ainda mais desperto. Mas, é preciso tentar, o Sol brilha alto agora, vou tomar outro banho e tento dormir pelo menos duas horas.
Até mais.
Rubens Prata
07-10-2012
NOTA: A foto é de hoje da rua de minha casa em Avaré

27 de agosto de 2012


’Meu otimismo está baseado na certeza que esta civilização vai desmoronar.
Meu pessimismo está em tudo o que ela faz para arrastar-nos em sua queda’’

Mostrar a realidade, tal qual é na verdade e não tal como mostra o poder, constitue a mais autêntica subversão.

A vida é muito para ser insignificante!

13 de agosto de 2012

DILEMA



Meu criador, é preciso parar,
Mantive minha religiosidade,
Sou-Lhe mais fiel do que nunca.
Mas reneguei minha ‘’religião’’,
Desmontei meus conceitos,
Desarrumei minha educação filial,
Esvaziei meus medos
Incutidos pelos pais.
  
Agora...
Um dilema que afeta meu coração
Precisa de inadiável solução.
Desligar-me do partido
Que  sempre amei de paixão.

Como posso defender meus heróis,
Se eles querem construir usinas atômicas?
Se também privatizaram aquilo que era do povo?
Como posso admirar um representante público
Que não faz auditoria na dívida pública,
Divida esta, que desrespeita a constituição,
Tira o prato do faminto,
O médico do doente,
O salãrio do professor,
Dívida da usura dos banqueiros
Que dilapida a nação.

Como posso defender e votar em alguém,
Que apesar de defender meus direitos
Aceita um salário de deputado que
somados aos benefícios ultrapassa os cem mil reais?
Como posso lutar por eles
Se a dívida pública retira todos os nossos direitos?
Só sei que é preciso coragem e verdade
Para acabar com essa vergonha.
E essa coragem e verdade ninguém se atreve.
Rubens Prata

17 de julho de 2012

O PACTO



          As inconsequências dos governantes mal calculando a economia somada à doença crônica da esposa redobravam o trabalho na modesta casa de Ananias.
         João, o filho mais velho, começara no trabalho desde tenra idade, sua inconsistente instrução escolar transcorria à noite à custa de horas mal dormidas. Uma canseira notável acrescentava à franzinice herdada de sua genitora um aspecto ainda mais debilitado, quase a denunciar futuras complicações na saúde.
         Ananias nunca reclamava da vida apertada e, se o desânimo apoderava-se de alguns de seus familiares, dizia:
         --Vocês não perceberam, mas temos exatamente o necessário para progredirmos. Se não sabemos o motivo de nossas dificuldades, é por desconhecer o que antecedeu nossa existência na Terra, mas... Deus é Pai e nos quer bem. Sabe o que será necessário para o burilamento de nosso caráter. Se hoje passamos privações, confiemos, pois será justamente este sofrimento que nos aprimorará, dilapidando-nos para vivências mais felizes no futuro. Tenhamos a certeza do doente que se expõe às dores do bisturi, ao recato nos seus hábitos, a disciplina de ministrar-se o remédio para depois obter a saúde, à responsabilidade em cuidar-se com mais zelo e ao caráter disciplinado para não recair em convalescença.
         A regularidade com a qual João e Ananias supriam o lar permitia ao caçula Tiago certa liberdade. Cuidava superficialmente da casa, zelava pela mãe, tinha tempo para o estudo e os amigos. Frequentava a escola diurna. Assemelhava-se ao pai, olhos vivazes, robustez, prometendo ser um pouco mais alto que seu genitor.
         O irmão João, não se sabia se por ciúmes, encanto com a incrível disposição física e hilaridade do irmão, ou por recriminar-lhe os passeios, sem critério ou pela escolha das companhias e por causa da duração da viagem, dizia:                  --Tiago tem rodinhas nos pés, nunca para em casa, conhece a cidade inteira. Digo isto porque quando saímos juntos, Tiaguinho relata fatos vividos por quase todos transeuntes avistados pelo caminho.
         Noite após noite, Ananias e João, devido à rotina de seus dias, tinham pouco a conversar. No entanto, Tiago os distraia,
 ora descrevendo entusiasticamente fatos curiosos e engraçados acontecidos na escola, ora mostrando condoído as desgraças ocorridas no vilarejo. Ananias sempre atento ao dever paterno nunca descuidava da educação filial. Aproveitava o enredo das histórias do
Tiago para alertar sobre o malefício da algazarra em classe, o respeito ao professor, o benefício da instrução, sempre lembrando que más amizades aproximam-nos do erro, da desgraça que a imprudência, o vício, a preguiça, a desinformação, má educação eram em grande parte a causa dos dramas da vida de muita gente.
         Os dias transcorriam arrochados ao extremo. Só evitava as eminentes revoltas contra a carência daquela família, a incontestável paciência, dedicação e firmeza de propósitos que emanava quase sem palavras daquele homem, como algo a magnetizar aquele ambiente amainando de antemão as explosões de desespero. A nobreza de caráter e atitudes eram-lhe tão expressivas e latentes que a sua simples presença, em casa como no trabalho, impedia que uma palavra mais grosseira fosse pronunciada e, se alguém tivesse o ímpeto para uma atitude mais desonesta, era como se fosse impelido se conter diante dele. Ajudava a consolidar a paz, renovar-lhes a esperança, reforçar-lhes a consciência do valor da vida e do dever,  havia ainda, as metódicas leituras do Evangelho de Jesus realizadas a cada semana por um dos membros da família.
         Passavam-se os dias... Tiago já ultrapassa para um pouco a estatura do pai, o corpo bem formado consolidára-se num aspecto mais consistente. A instrução, mais completa, fizera com que os casos que contava diariamente fossem acompanhados de opiniões mais concludentes.
Ao contrário do que se esperava, João libertara-se da aparência franzina. Embora menor que Tiago, o trabalho forjara-lhe no corpo a resistência à fadiga acrescentando-lhe a capacidade de dedicar-se por horas a fio no cumprimento de uma tarefa. O brilho que começara a iluminar seus olhos negros deixava transparecer o caráter vigoroso de um homem acostumado a controlar-se em meio a adversidades.
No transcorrer dos dias... Com o agravo da doença da esposa. Ananias prazerosamente a cobria de carinhos e atenções; consolava-a utilizando as palavras do Mestre ao dizer que seu reino não era deste mundo, falava do lugar revervado aos aflitos, ao mesmo tempo repartia com ela as ideias do que deveriam fazer para o bem dos seus filhos.
Pensava Ananias:
--João tornara-se forte dispensando maiores atenções para a saúde, adquiriu profissão na lida desde pequenino e, por mais empecilhos que lhe sucedam nosso incentivo, o trabalho, o estudo custoso fizeram-lhe enraizar nas profundezas d’alma um desejo irredutível de buscar os por quês da vida, de tal forma que, com ou sem curso superior, acabará progredindo. Além do mais, a pobreza, a dificuldade de aprender as matérias escolares e os erros ensinaram-lhe a se esquivar de pensamentos orgulhosos. Quanto ao Tiaguinho... Será que errei, permitindo-lhe uma vida mais fácil?
Descuidei-me... (repetiu algumas vezes recriminando-se por não saber onde poderia estar errado).
O que ele tem de melhor, além da facilidade em fazer amigos e demonstrar certa insatisfação pelos sofrimentos alheios?
Não seria esta justamente sua melhor virtude? Já que lhe é fácil relacionar-se com os outros, um curso superior na área de ‘’Humanas’’ cair-lhe-ia sobmedida. Diplomando-se poderia aprimorar essa virtude auxiliando a diminuir os dramas que lhe pesam tanto. Certamente encontraria um sentido para a vida e muita alegria ao ver felizes os que hoje ele vê sofrendo.
Mas... E o dinheiro para a faculdade?
Algumas semanas depois uma temperatura irregular assolava a região. Às vezes num só dia ocorriam calor, chuva e frio intenso. Esse clima durou o bastante para derrubar muita gente forte na cidade. Houvera incontáveis casos de pneumonia e de uma gripe tão forte que acamava o mais resistente dos homens. Foi nessa época tenebrosa que, apesar das vigílias, orações. Carinhos, atenções e de se ter usado todos os recursos médicos, Carolina, a esposa de Ananias deixou a carne partindo para nova existência.
Embora desconfiassem que sua permanência sobre a Terra fosse curta, seu desenlace contrariava as expectativas da casa, pois a presença de Carolina representava um forte elo de união devido ao amor ao se dirigir a todos e do respeito que sempre fazia questão de ressaltar. Possuía uma afabilidade inconfundível e, mesmo não podendo, esforçava-se para realizar as tarefas importantes no lar.
Ananias sentia-se mais órfão do que os filhos. Porém, mantinha o ânimo, o equilíbrio e a certeza de reencontrar sua amada em futuro próximo. Tiago por viver mais tempo perto da mãe e por estar menos sujeito aos revezes da vida chorava copiosamente durante muitas noites. João, doído, continha-se pela consciência de que a vida continuava também para os desencarnados e sabia que aqueles possuidores de afinidades espirituais reencontrar-se-iam novamente em novos caminhos pela eternidade afora.
Ano e meio mais tarde... Cicatrizavam-se as feridas, Tiago e João concluíram o ensino secundário e sem necessidades de remédios o arrocho em que estavam diminuíra. Ananias, homem afeito a um único amor, jamais cogitava, em contrair novo matrimônio; mas, uma preocupação atazanava-lhe o pensamento, pois esse pequeno desaperto monetário criava a oportunidade do Tiaguinho na faculdade.
Ananias corou de alegria quando o próprio caçula, sem que seu pai sugerisse, manifestou o desejo de estudar alguma área de Humanas justamente por ter facilidades em relacionar-se com todo mundo.
O custo da empreita era grande, portanto cabia exigir empenho redobrado do Tiago. No intervalo, entre o término do secundário e o início Ananias esclarecia que cumprisse rigorosamente seu dever escolar, uma vez que João também o auxiliaria. Fazia ver que faculdade era uma oportunidade rara. Bastava observar na vila onde moravam quantos tiveram essa chance. Falava:
--A instrução não deve servir unicamente para facilitar a aquisição de conforto para o formado, mas, sobretudo, dar-lhe uma nova vida utilizando o conhecimento para melhorar a vida também dos semelhantes.
Tiago prometia ajudar os que sofriam assim que se formasse na faculdade. João sabendo de algumas traquinagens que o irmão escondera do pai, desconfiava; pressionava-o a fim de que a promessa não fosse outra mentira. Fazia-o entender que essa promessa com o pai era um PACTO. Pois ele e o pai, não aguentariam vê-lo jogar por terra o esforço para mantê-lo estudando. Tiago irritava-se. Não costumava refletir nos porquês dos seus maus humores; não atinava com a causa do seu nervosismo, nem mesmo se via irritado. Não percebia que o motivo de sua irritação era um germe de comodismo incrustado bem no cerne de sua alma. Tiago, quase adulto, deveria assumir as responsabilidades da maturidade, mas, não conhecendo a si próprio assumiria o estudo na faculdade sem dar-se conta que o motivo era retardar as responsabilidades de um adulto.
Tiago jurava de pé junto, prometia ao pai que ajudaria os
semelhantes depois de formado. Quando João forçava-o a lembrar dos juramentos descumpridos anteriormente. Tiago retrucava com beiras de ira.
         --PACTO É PACTO. UMA VEZ FEITO NÃO DÁ PARA SER DESFEITO SEM DEIXAR DE RESPEITAR-SE COMO HOMEM. Dizia o caçula sem notar que esta resposta estava mais ligada ao orgulho do que a uma consciência do dever.
Ano e meio ficaram para trás... A promessa de Tiago para trabalhar com o pai meio período foram se reduzindo para três e duas horas, isso quando não dormia até tarde demais. João, sem a companhia noturna do irmão, sem as correrias atrás de remédios para socorrer a mãe, absorvia-se em livros e debates produtivos com o pai a respeito do que lia.
         Determinada manhã, na oficina onde trabalhavam face cerrada, aspecto incisivo, Tiago pediu ao pai uma motocicleta. Argumento que os amigos tinham e ele ficava sempre fora dos passeios próprios para sua idade. Além do mais, era-lhe dificultoso ir à faculdade, à biblioteca, fazer pesquisas e trabalhos em grupo com os colegas de estudo.
         Ananias, enérgico como nunca se havia mostrado antes, retrucou:
         -- Não! Não! Não! Você é egoísta, não percebe o mundo à sua volta, não nota que, embora dignos, vivemos no limite de nossa condição, não podendo exceder de poucas moedas a mais em nossa despesa sem que isso gere um corte luz, de água ou o nome sujo no crédito da cidade.
         Intimidado pelos olhares atentos e recriminativos dos companheiros de trabalho do pai, Tiago saiu cabisbaixo.
         No mês subsequente, espalhou-se como uma bomba a notícia de que Tiago abandonara os estudos. Constatado o fato, Ananias não viu outra saída para melhorar o caráter de Tiago senão a rigidez. Forçou-lhe a volta à faculdade ao propor ao filho que, só poderia viver em casa se continuasse estudando e pagasse a faculdade com o próprio salário. Tiago pensou que deveria mesmo estudar, pois ficaria sem teto, sem alimento e acabaria até sem roupa se não cumprisse a vontade do pai.
Não precisando ajudar o irmão nos estudos, João preparou-se para o casamento, trabalhando com o pai, nos fins de semana, na construção de uma edícula, em terreno anexo à sua casa, onde moraria com a esposa.
O casamento realizou-se modesto no civil, com a terceira anista em sociologia Clara.
Pequena e dedicada, chamavam-na carinhosamente de Clarinha. Abeberava-se ela também, de nova compreensão dos deveres da vida na velha e metódica reunião de Evangelho na casa do sogro. Essas leituras transmitiam-lhe tanta compreensão dos problemas da vida que desejava que o mundo inteiro soubesse do bem que ela proporcionava. Por isso, convidava a todos que conhecia, fossem necessitados ou simplesmente pessoas que buscavam novos conhecimentos. Ao cabo de dois anos, a casa de Ananias quase não podia conter tanta gente.
Clara certificou-se de que o verdadeiro conhecimento não se adquiria pela simples ostentação do canudo universitário, pois João era-lhe uma prova incontestável. Quando conversando com professoras na casa do sogro, observavam-no com mais entendimento do que vários deles. Reconhecia que conhecimento só pode se realizar nas relações entre as pessoas e que esse só teria sentido e significado se produzisse o bem comum. Essa certeza encaixava plenamente em seus sonhos, pois, quando terminou os estudos, resolveu usar o que aprendera, solucionando vários problemas nas redondezas. Para levar a cabo suas intenções, convidava a todos que participavam de reuniões na casa de Ananias para trabalharem em beneficio dos necessitados da vila. Não demorou muito para alguém se apresentar para alfabetizar, outro para cozinhar, aquele outro para ensinar profissão, mais três se colocaram a disposição sem saberem exatamente o que e João em podiam fazer, muitos aceitaram contribuir com pequenas mensalidades.
Sete anos depois... Sentia-se a forte impressão de que a Providência Divina juntara ali exatamente as pessoas necessárias para resolverem muitos dos problemas identificados por Tiago na sua adolescência.
Constituiu-se com muita simplicidade, no terreno de João em frente à sua casa, um centro de atendimento, com salão, sanitários, cozinha e três salas menores. Tudo era modesto, sem forro, chão de cimento, mas o que valia era a eficiência. Desde as sete ate altas horas da noite, havia movimento naquele lugar. Revezando os dias da semana, por falta de espaço, la atendiam um barbeiro, uma cabeleireira, cursos profissionalizantes, música, jogos de xadrez e ping-pong aos sábados e domingos. Um médico e um dentista atendiam há um ano num trabalho preventivo, todas as sextas; almoço sempre tinha, alfabetização de adultos toda noite. Clara, João e Ananias se revezavam em palestras e o estudo do Evangelho diariamente. Enfim, esta casa tornara-se centro de integração e atitudes fraternas para o bairro.
João ainda trabalhava na velha oficina, mas quando voltava para casa, era seu prazer ter alguma coisa para fazer no centro.
Ananias, já aposentado, tinha o tempo cheio entre reuniões, ajuda a Clara, atenção aos netos. Clara usava a habilidade adquirida nos estudos para organizar tudo o que se referisse aquele centro de integração social.  
         Por outro lado... Tiago formado e morando em outro bairro, sempre recebia visitas da família. Ananias ciente de que o filho só realizaria a finalidade da vida quando pudesse livrar-se do egoísmo, lembrava-lhe da promessa. João irritava-o  dizendo que a promessa era um PACTO. Tiago respondia no início:
         --Vou cumpri-la sim, mas acabei de casar e o tempo me é precioso para consolidar minha união.
         O tempo passava. A cada indagação do pai Tiago ia respondendo:
         --Espera um pouco mais. Sua neta com esse corpo frágil exige em cuidados todo meu tempo de sobra. E assim as desculpas se multiplicavam.
         --Agora com dois filhos preciso esperar por melhores ganhos para dar-lhes o que precisam. Cumprirei a promessa assim que completar a casa. Já que meus meninos estão crescidinhos posso refazer a mobília da casa, uma vez que, estragaram quando eram menores. Só mais um pouquinho pai, não vê que dois filhos na faculdade exigem-me horas extras em demasia!
Muitos anos depois, Tiago respondendo repetiu:
--PACTO É PACTO, NÃO DÁ PARA SAIR DELE SEM DEIXAR DE RESPEITAR-SE COM HOMEM. Mais uma vez o filho invigilante não se apercebera do próprio orgulho. Ananias sem notar que por traz dessa resposta havia outra desculpa, disse:
         --Finalmente! Você vai ver quantas benção receberá por se dedicar aos semelhantes. E nem havia terminado o que desejava dizer. Tiago o interpelara:
         --Não é bem isso. Vou cumprir, mas as despesas com o casamento de minha filha primogênita exigem-me trabalho redobrado no escritório.
         O pai falecera, suas últimas palavras foram:
         --Encontrar-me ei com Carolina daqui a pouco         
Tiago não tinha mais a presença do pai lhe cobrando atitudes, mas tinha a lembrança do PACTO a lhe perseguir.
         Beirando os 50 anos, corpo arcado, da fisionomia desprendia, quase imperceptível, um ar de sovinice. O olhar não escondia ainda um pequeno brilho de ambição lhe restando. Uma ruga mais forte na testa quase denunciava que fora desenhada pela dor da consciência por não ter cumprido alguma promessa.
         Pensava ele...
        “Enfim, juntei o suficiente para usufruir do descanço, do prazer de realizar meus desejos”.
Interrompeu-lhe o sonho uma velha irritação, porque não conseguia esquecer sua promessa.
        --Ah!... A promessa? Mas depois de tantos anos de luta, estou cansado!
        Puxa! Estou mesmo tão exausto, nem cosigo levantar-me desta cama!
        Deixe-me tentar!  Engraçado... Não consigo mover nem minhas mãos, o pescoço está duro e minhas pernas parecem coladas à cama. Por quê?
        De repente... A voz da esposa ecoa no ar:
        --Depressa doutor, não sei mas... Parece que sofreu um enfarte!
        Tiago aflito, tenta se lembrar das palavras do pai nas horas de desespero:
         --Não lembro!... Não lembro!... Mas e a promessa? Preciso cumpri-la! Meu Deus dá-me tempo, tenho muito por fazer. Olha meu Deus, a consciência fala-me clara agora: A prepotência com que tratava todos e os cuidados ininterruptos comigo mesmo precipitaram-me muito rápido para a morte! Dá-me outra chance Senhor, eu vos suplico. Serei diferente, prometo!
         Antes que implorasse novamente uma voz carinhosa e conhecida interrompe-lhe:
         --Tudo foi lhe dado para cumprires tua missão na Terra, mas a promessa de caridade deve aguardar outra vida.
         Era Ananias acalmando-o.
         --Querido você terá outra oportunidade para valorizar melhor a vida, mas por enquanto acalme-se, pois o Criador sempre ouve aquele que se arrepende. Dizia Carolina afagando-o.

Rubens Prata

P.S. Este é um conto escrito há mais ou menos 15 anos atrás para o Jornal Fraternos, ao reeditá-lo notei que muita coisa mudou na minha maneira de escrever. Espero que gostem.

19 de maio de 2012

O ANDARILHO



São quase cinco horas da madrugada e eu aqui, como um inveterado notívago, garimpando palavras para descrever as sensações ocasionadas pela presença daquele enigmático visitante.

Não é muito comum, mas vez ou outra, quando absorvido profundamente na tarefa de esculpir madeira, pressinto a presença de alguém me assistindo, ao desviar o olhar para ver quem está ao meu lado, nada vejo. Entretanto, fica-me a impressão indelével de que um ser realmente me especulava. Com o passar do tempo, deduzi que seria impossível enxergar com os olhos da matéria o que só a alma poderia apreender.

Pois é, foi numa tarde quente na qual, durante horas empolgado com a possibilidade de uma maçaranduba, submergido integralmente na tarefa de entalhá-la, percebi novamente uma entidade a olhar-me. Seria um homem?

Era um homem mesmo! No entanto, bem incomum, devia ter quase dois metros de altura, muito magro, barba, cabelos longos a cair sobre os ombros e olhos azuis muito brilhantes. Cumprimentei-o e ele retrucou.

-Admiro demais o trabalho feito por você, mas não queria interrompê-lo.

Impressionado com o magnetismo daquela personalidade cheguei a pensar, por momentos, que poderia ser um espírito materializado  testando-me em alguma coisa. Porém, suas roupas velhas e amarrotadas, seus pés encardidos calçando velhas havaianas, não deixavam dúvidas. Era um andante! 

Compreendo o papel da arte como algo feito para embelezar o mundo, incitar a reflexão, encantar as pessoas. Portanto, independente do dinheiro, trato especialmente bem a todos que deslumbrados admiram minha obra. Arte é uma apreensão da alma e não há título, dinheiro ou diploma que faça uma pessoa ter mais sensibilidade só por causa da fortuna ou da instrução recebida.

Imaginei que ele já devia estar lá há algum tempo, denotando humildade e respeito. Tratei-o com esmerada gentileza, mostrando todo meu trabalho detalhando os fatos que me levaram a produzi-los. O visitante argumentava demonstrando bom conhecimento de arte e dissera-me que já havia observado meu ateliê através da vitrine no dia anterior e, meu grande dragão tinha chamado demais a sua atenção, embora minha obra toda fosse primorosa.

Na despedida, ele tirou do bolso uma dessas panelinhas de pressão artesanais feitas com latinhas de refrigerantes. Confessei-lhe que não tinha dinheiro nenhum para comprá-la e mostrei outra latinha já adquirida  de um hippie anteriormente. Fiquei estupefato, pois ele só queria presentear-me com aquilo que só podia ser a única coisa que possuía. Ele insistiu, mas preocupado com sua pobreza, o convenci de que ele merecia vendê-la, pois estava muito bonitinha.

Após sua saída, fiquei a pensar no meu vexame, no quanto a arte pode impressionar as pessoas mais sensíveis. Lembrei-me da velha senhora paupérrima que vinha especular no meu ateliê toda semana e, ao sair, sempre abria sua sacola e despejava um montão de balas e frutas na minha mesa de trabalho. Houve também pessoas um pouco mais abastada que nada compraram, mas deram-me bom dinheiro pelo encanto que as obras lhes proporcionaram.

Continuo bem pobre como a maioria dos artistas desta nação, mas compreendo que a arte exerce um papel fundamental para o planeta - de despertar para a reflexão, do bom, do belo e do bem.

Rubens Prata