23 de agosto de 2010

SINA

Enjeitado, desde tenra idade,
Distante do privilégio de uma paternidade,
Triste e só pelas ruas vivi,
Passei fome,
De frio morri,
Mas, de nada me arrependi.
Com o tempo,
Muito aprendi.
Saí ileso, sem perder o juízo,
Dessa sina, não colhi prejuízo.

Agora, mais velho,
Não me desespero,
Faço tudo o que eu quero,
Já posso sonhar com a Lua Cheia,
Jogar futebol com bola de meia.
Nas águas do Jurumirim,
Ponho-me a brincar
Despreocupado,
Como pequeno curumim.

PAURA

Tem dias que a gente vive assim:
Triste, deprimido, no poço,
Bem lá no fim.
Como quem desta vida já partiu.
Nada desperta interesse,
O sentido de tudo sumiu.
O medo não deixa colocar o pé na vida,
Não dá vontade nenhuma para a lida.
Seria um ciclo que encerra?
Algo novo que se enseja?
Só sei que tudo se esvaziou,
A criatividade acabou.

Mas...
O tempo conspira a nosso favor,
E esse vazio, dizia minha irmã:
-É o espaço que desocupamos para nos encher de novo
Com novas Artes e mais amor.

Afinal já dizia Epíteto:
“-Deixa que a vida te leve em teu próprio rumo certo.”
Ontem foi dia dos pais, fiquei emocionado com um vídeo, falando de mim, que minha filha produziu. A outra filha fez um ótimo churrasco.
Já há tempos tento escrever algo belo, mas ultimamente nada consigo.
Pensei no amor, motivo de muitas atitudes aqui em casa,
Amor que se reflete em pequenos detalhes como:
No feijãozinho com pouco sal para não fazer mal à saúde,
Na benção distribuída conscientemente para os netinhos,
No telefonema diário para minha amada conferindo se está tudo bem mesmo.
Pensei até nesse amor cúmplice,
Nesse amor eterno adolescente,
Que por aqui permanece.
Mas, infelizmente nenhuma poesia saiu.

2 de agosto de 2010

PARA QUEM DEIXOU SAUDADES

Tem Gente que parte, mas fica por cá
Guardado, bem no fundo, do coração da gente,
Na lembrança de um encontro de supermercado,
Numa conversa alegre,
Em determinada música que se ouve no rádio.
Fica em versos e prosas
Gravado na lembrança dos amigos,
Em sorriso singelo,
No prato que deixou saudades,
Na palavra sincera,
Na peça de sucesso,
No arranjo da sala de estar,
Nos detalhes da vida.

“Inté” Eron!
Até mais ver.

TERRA a nossa casa

Estou aqui, como sempre, a trabalhar ao som da orquestra que da velha vitrola se esparrama pelo ar.

Olho a rua, penso na vida, nos acontecimentos.

Lembro que os papagaios invasores da cidade no ano passado se foram.
Partiram como o vento da cidade que há tempos anda sumido.

Pois é, hoje o ventinho passou para uma visita, presenteou-nos com um pouco de refrigério para este calor em pleno inverno.

Agora, deve estar empurrando uma chuvinha para trazer um lenitivo para secura do ar que a muitos faz mal.

Considero relevante este ventinho que diariamente só aqui ocorria, pois amenizava o clima e dava uma face à cidade que há tempos apagara seu rosto ao dilapidar o patrimônio, o ambiente, ao esquecer seus valores naturais.

Lembram-se - no começo do ano – de quando nosso ventinho revoltado partiu daqui transtornado num vendaval, causando prejuízos, destelhando casas?

Entortou até minha parabólica, arrancou telhas, justo de mim que tanto reconhece seu valor.

Tudo bem, está perdoado. Saí ileso, de bolso seco, mas ileso.

Saímos ilesos, a cidade é abençoada pelo Divino, mas não estamos imunes. A natureza desconfia da gente, haja visto o lixo que se despeja nos terrenos baldios da cidade, os restos atirados no chão ao lado da lixeira vazia. Até entulhos nos rios são jogados e o que não dizer de nossas árvores.

Enfim, o planeta percebe o desrespeito a casa na qual moramos. Sabe que não planejamos, elaboramos, fiscalizamos, penalizamos e não colocamos em prática uma política para recuperar o ambiente na cidade.

A propósito: Eu adoraria voltar a fazer compras com a antiga sacola, para não usar saquinhos plásticos. Mas onde poria meu lixo?

Pois é, é preciso retornar aos antigos hábitos de quando colocávamos o lixo na lata do lixo, sem que o lixeiro a levasse.

Só quero escrever

Quero escrever,
Nem sei sobre o que,
Mas quero escrever.
Amanhã é minha folga,
Mas já vi. Vai chover!.
Não importa,
A minha alma fará sol.
Eu só quero é viver,
Brincar de futebol,
Assistir ao entardecer,
Tomar uma Skol.
Mas, o que devo dizer?
Não sei.
Mas isso posso dizer:
AMO VOCÊÊÊÊÊ!

DIFÍCIL CONVERSA

Pois é, fica difícil ter o que dizer quando:
Não se é adepto de nenhuma organização,
Não se vive fudido,
Não se toma partido,
Não se vive iludido.
Nada tem sentido.

Fica difícil ter o que dizer quando:
Você não é empregado nem patrão,
Não explode de paixão,
Da corda você é o elo mais frágil,
É gordo, meio velho, sedentário e fraco,
O que está na TV, nos jornais é só um saco.
MAS SEMPRE SOBRA UM PENSAMENTOZINHO A MAIS
AINDA QUE NÃO COMBINE MUITO COM O TEXTO.
Fica fácil falar quando se tem amor.
-Benhê!. Ta na hora do seu remédio.
-Tire o dedão da boca pirralho!.
-Deus te abençoe meu filho!
-Eu te amo meu bem!
-Ulisses, já escovou...
-FIM.
AHAHAHAH!

27 de julho de 2010

SINFONIA

O Sol acorda animado na cabeceira da avenida,
O Ipê amarelo da calçada dá o tom
O Carmim da primavera do vizinho
Mostra-se, pela primeira vez, afinado com a orquestra.
O Branco das paredes,
Reflete a vida se espalhando pelo ar.
No rádio,
Vinícius está mais vivo do que nunca.
Ainda tenho meus livros, meus disco, meus amigos;
Filhos, muitos netos e nada mais.
Só não brotaram,
A multidão de rosas no jardim.
Mas, certamente, a vida não é mais um nada.
À noite, já posso passear na Lua cheia.
E, mais tarde, encantar-me, com o Sol se deitando no pé da rua.
Posso até, repartir esse tiquinho de prosa.

PERDIDO

Ultimamente...
Passei tempo demais correndo atrás do dinheiro.
Aprisionei-me, cada vez mais, à matéria.
Fiz-me mudo por inteiro,
As lindas palavras secaram.
Agora...
Triste, deprimido,
Peço desesperado ao Criador
Que minha alma sonhe,
Peço o milagroso comprimido
Que cure a secura do meu coração
E me torne um ébrio de emoção
Para levar aos amigos
De todas as paragens
Com amor, beleza, harmonia,
As mais lindas mensagens.

Obrigado meu Deus

24 de julho de 2010

Já escrevi um dia, que chegando a idade, a gente tem consciência de não ter todo tempo do mundo. Então, priorizamos só o mais importante. Daí Coloca-se as bandeiras de lado, cultiva-se mais os amigos, não se perde tempo com discussões infrutíferas, e assim por diante.

Por isso fujo das falações, escolho o melhor, o bom, o belo; cultivo amigos, muita música e arte.

É no meu pczinho deficiente de banda estreitinha que tenho encontrado muita coisa boa. São inúmeros e-mails e recados no orkut com slides e mensagens maravilhosas, motivos para rir sem parar, muita flor iluminada na tela, artes das melhores em imensa variedade, mensagens sadias e cristãs, recados inteligentes – escritos de próprio punho. São amigos virtuais. Anônimos artistas plásticos, poetas, escritores, músicos, artesões e funcionários desvelando suas almas criativas numa imensa confraternização que só torna o mundo um pouco melhor.

É a todos esses amigos que me parabenizaram por meu aniversário que agradeço do fundo do meu coração.

26 de abril de 2010

MEU BOM, MEU MAU

Fui um bom menino,
Ia à missa todo domingo,
Respeitava pai e mãe,
Chamava os mais velhos de Sr. E Sra.
Acatava as ordens do patrão.

Hoje sou um homem mau,
Tenho religiosidade,
Mas religiões? Nunca!
Meus pais não foram perfeitos,
Detesto patrão.
Além de tudo, fumo!
E ainda por cima, sou gordo!

NAÇÃO FUNDAMENTALISTA

Cansado de ver Tanto programa religioso na TV,
Comprei uma parabólica.
Ta certo, conheci novas e boas Tvs Públicas.
Porém, os canais religiosos se multiplicaram.
Será o Brasil no futuro uma nova nação evangélica fundamentalista?

DOCES PALAVRFAS

Eu queria ter palavras
Mas não daquelas que se perdem ao vento,
E sim daquelas que grudassem na alma
De um jeito pior do que super-bond.
Não seriam palavras que dariam IBOPE
Mas que trouxessem encanto
Que dessem bem a noção da abundância
Que o Criador colocou ao nosso dispor
Algumas dúzias de estrelas no céu já não bastariam para o nosso deleite?
Não! O Criador colocou “ilhões” delas e ainda por trás, mais uma infinidade.
Uma dúzia de tipos de peixes, três dúzias de tipos de flores, não bastariam para alegrar nossas vistas e satisfazer nosso paladar?
Não! O criador colocou uma infinidade disso e de tudo mais.
Plantas, frutos, árvores e animais que a gente usa e nem precisa usar estão aí colocado abundantemente para nosso prazer.
Se Ele veste tão bem um lírio do campo como não haveria de vestir-nos?
Pois é, eu queria ter palavras que levassem encanto aos desencantados.
Paz aos aflitos,
Cura aos doentes.
Resolução aos problemas alheios.
Mas como não sei dizer estas palavras,
Fico num canto quietinho só desejando o bem,
Às vezes, oro sem chamar a atenção.
Há muito tempo não consigo escrever nada. Mas dia 28 e 01 de abril consegui reiniciar um pouco meus escritos. Espero ter inspiração novamente e que o Criador me ajude.



No entanto, estou fazendo, pelo menos uma coisa que aguardava fazer. Trata-se de um entalhe de 14 quadros representando a via Sacra para a Igreja N. Sra. Auxiliadora. Trabalho este, que desejava e para o qual vinha me preparando. Felizmente aconteceu a encomenda.


Obrigado Meu Criador por tudo.






R. Prata

PALAVRAS INDIGNADAS




As palavras fugiram,

Levaram embora um pedaço de mim

Para que eu não as usurpasse,

Para que eu não as escravizasse,

Para que eu não as vendesse

Por anseio material.



As palavras fugiram

Porque pequei contra elas,

Porque pequei contra minha alma.

Foi imperdoável,

Usá-las para o lucro

Como um gigolô a vender sentimentos para estranhos.



R. Prata 28-03-2010

SALA DE VISITAS



Na minha sala de visitas,

O curió acorda a vida,

A orquestra incendeia a manhãzinha.

São sabiás, curiós, pica-paus,

Até canários tenores.



Na minha sala de visitas,

Revejo amigos,

Abraços fraternos,

Lembranças felizes.

A música da Cidadania

Acompanha o dia.



Na minha sala de visitas,

O show acontece,

A notícia se espalha,

O Sr. Coriolano aparece,

Tadeu proclama:

-“Só alegria!”



Na minha sala de visitas,

Passa tudo,

Passam afobados crentes,

Passam amantes,

Passam viajantes,

Inclusive turistas encantados.



Na minha sala de visitas,

Não passa boi,

Nem passa boiada.

Tem teto solar,

Poltrona de cimento,

Tapete de mosaico português.

O nome da sala

É Praça Padre Tavares.



R. Prata 01-04-2010

O QUE SOU?


No momento...

Essencialmente um artista

Preferencialmente plástico

Arte corre nas veias

Ocupa o dia de hoje

Ocupará o de amanhã

Preenche meus sonhos

Meus anseios, pensamentos, Minha vida, entretenimento

Arte é fundamental

Arte é vida

Muita lida

Arte é sorte

Será minha morte

Satisfação se puder trazer encanto,

Decepção se eu não fazê-la tanto

Arte é meu hobby, meu prazer,

Meu tesão meu amor

É no corpo, muita dor

Arte é ritmo, balanço, som, palavra, dita, esculpida, pintada.



R. Prata

ERA FÁCIL
Antigamente era fácil,
Os mauzinhos usavam farda,
Os bonzinhos usavam barba. E agora?

4 de fevereiro de 2010

A NOTÍCIA QUE NÃO SAIU NO JORNAL


No mês de janeiro, essa lembrança me aporrinhava a cabeça. Relutei demais para escrever sobre o assunto, pois não dá poesia ainda menos, boa prosa. Mas se não escrevo, nem durmo.
Em dezembro de 2009, saiu a notícia sobre os passageiros da Central do Brasil depredarem um trem – (isso já aconteceu umas poucas vezes). Nenhum passageiro foi entrevistado. O noticiário se resumiu a chamá-los de “vândalos”.
Os repórteres da TV foram abruptamente afastados pelos policias federais (específicos da Central), a pretexto de conter a “possível” rebelião dos passageiros. Interessante é que, como sempre, nem notaram a truculência dos mesmos.
Até uma rádio daqui de Avaré igualmente chamou os usuários desse famigerado trem de “vândalos”. Lógico, baseando-se no noticiário televisivo.
Liguei para a rádio e disse que se esse trem circulasse na Espanha já tinham queimado a estrada de ferro inteira etc, etc. O repórter, disse que eu ligara e, mais uma vez, repetiu que essa era uma atitude de vândalos. Fiquei fulo. Ele não falou o que eu disse.
Durante anos viajei nesse trem e, em todos esses anos escrevi para os grandes jornais reclamando de suas más condições. Nunca publicaram meus apelos. Até um dia, no qual um repórter, de tanto receber minhas cartas, respondeu-me que nunca publicariam tais fatos por causa do patrocínio do jornal. Também era desculpável, pois a abertura política mal começara no Brasil.
Pois bem, aconteceu no dia 13 de maio de 1980 às 22,40 hs. Comemorava-se no dia, a assinatura da Lei Áurea e o presidente era o Figueiredo. Morava eu, em Itaquaquecetuba quando o trem no qual viajava, após uma curva em alta velocidade, chocou-se violentamente com uma composição parada logo após a curva. Nem vi o acontecido. Uma mulher gemendo, pedia socorro e quando fui socorrê-la percebi que também não podia. Só aí, percebi que havia muitas pessoas nas mesmas condições, inclusive eu. Os ferros onde as pessoas se seguravam tinham caído e alguns estavam retorcidos, os bancos estavam fora de lugar, imagino que meu corpo havia se chocado contra uma lateral do banco de madeira.
Devo ter passado algum tempo desmaiado e precisava sair do trem. O vagão estava meio tombado e era difícil descer. Sentia uma dor tão grande que nem tinha coragem de olhar para ver o que acontecera com meu corpo.
Mesmo assim, com um esforço sobre-humano desci do trem e andei uns seis quilômetros até em casa. A esposa dissera-me que eu estava com uma protuberância gigantesca nas costas. Esperei pela melhora durante uma semana, até ter condições de ir a um médico. Esperei muito, pois nos bairros que margeiam a Central do Brasil não tem médicos ou prontos socorros.
Não sei quantos ou quem morreu, Todos os que ouvi, pelo menos, gemiam muito, outros estavam apenas caídos, sem voz e muito machucados. Esperava um ressarcimento da Central pelos meus danos. Por isso, acompanhei avidamente o noticiário da TV. O papa João Paulo II tinha sofrido um atentado dia treze, o tornado Kalamazoo atrapalhou a vida em Michigan, Lady Di namorava o príncipe Charles, Jimmy Carter tropeçara na escada do avião, a inflação galopava, corrupção, violência, analfabetismo. O mundo estava lá, menos o terrível acidente.
Não sei como recolheram os destroços em surdina, mas sei que na Central do Brasil, ninguém, ouve, ninguém vê, ninguém sabe.

Rubens Prata 04-02-2010 - 00,58 hs.
Notas:1- Na expectativa de fazer-me ouvir, ainda pintei alguns quadros, cujo tema, eram os dramas da Central do Brasil.
2 – Nas imediações da Estação de Itaquaquecetuba, aconteciam, em média, uma assassinato por semana.
3 – As pessoas, nos bairros do subúrbio dormem cedo, pois acordam de madrugada para o trabalho. Portanto, não se encontrava ninguém na rua após o acidente e devo ter chegado em casa lá pela 1 hora da madrugada.