7 de maio de 2011

A TIA DORA
Repentinamente invadiu-me a alma a saudades de um minúsculo momento de infância. Era o jeito carinhoso de a minha tia Dora colocar a mesa.
Estendia a toalha, ajeitava as xícaras “colorex” com pires, derramava o leite, bem fervido que naquele tempo era vendido em litros, colocava café do bule de louça e açúcar recém retirado do açucareiro. Tudo era bem doce. Cortava ritualmente o pão caseiro e, com a manteiga retirada da mantegueira untava impecavelmente até a extremidade das fatias.
Percebia-se nessas minúcias do café da manha a bem-querência da minha tia por todos que ali estavam.
Foi uma lembrança boa do fazer para os outros, do que conta na vida e do que, provavelmente, conta mais para o Criador.

R. Prata
Ser poeta não rende lucro
Só encanto
É o jeito de um solitário
Tecer seu canto
R. Prata
Como são incoerentes esses novos religiosos.
Se contrato o serviço deles,
Ou termino roubado,
Ou sai sempre muito mal feito.
Se me contratam
Não pagam,
Ou esquecem da encomenda.
E que Deus seja louvado assim mesmo.
Ser poeta é o prazer
De estar só
E ao mesmo tempo
Cheio de relações
R. Prata

ESTAMOS NO PARAÍSO
Quando morava no subúrbio paulistano, na zona leste, viajava sempre atento a janela do trem na esperança de vislumbrar, por segundos, algum verdezinho como: uma árvore, um pequeno arbusto, num relance e ao longe perdido entre o céu cinza e o chumbo sujo da metrópole.
Fiz o que meu anseio pedia. Portanto, há trinta anos mudei para o interior cercado de verde por todos os lados onde o céu azul e o por do Sol saúdam a vida com espetáculos majestosos e variados a cada dia.
Esse casamento entre eu, o verde, o azul, o ar, o Sol, a Lua perdurará até que a morte nos separe. Infelizmente!
Digo Infelizmente, porque essa convivência mostrou-me o tempo perdido discutindo picuinhas, amealhando quinquilharias, fabricando infernos em meio a esse paraíso que o Criador nos presenteou. Além do mais, tenho certeza que na Terra, posso banhar-me na lagoa, protegido por esse Éden a minha volta. Depois da morte o que poderemos encontrar?

R. Prata        
P.S. (As imagens acima são mesma de minha cidade de Avaré)
Ser poeta é amar
Sem saber a quem amar
É escrever
Sem ter ninguém para ler
R. Prata
Algo está mudando em mim. A palavra anda sumida, minha arte resumida.
Sei que preciso mudar, despojar-me das velhas roupas, das idéias pré-concebidas, desprender-me de mim mesmo, começar de novo o novo, sabotar meu estilo de vida, esquecer a dívida, desobedecer-me irremediavelmente. Desmontar o intelecto, não ser discreto, desaprender, renascer, perder o horário. Dormir do outro lado da cama, escutar quem me ama, não trabalhar no domingo.
É tempo de travessia e sei que é preciso executá-la, ir direto ao inusitado, fazer arrelia. Será preciso subverter a ordem, subjugar a rotina, virar o dia do avesso, ser moleque travesso. Dormir à noite, Ir ao rio nadar, subir o morro, amar, amar, amar.
Andar seis quilômetros.
Inverter parâmetros.
E, nessa altura da vida, ainda é preciso ousar. Se assim não for talvez morro.
Só não sei como fazê-lo.

R. Prata
Ser poeta é passar dias e dias,
Dando voltas e mais voltas
Para solucionar um problema
Que se resume apenas numa palavra que faltava.
R. Prata

Sou prolixo
É só o que sei
Não sei se poeta
Trovador?
Há dúvidas!
Cronista?
Talvez!
Proseador
Com certeza
Muita coisa não sei
Se sou bom artista
Se escrevo direito
Só sei que nada sei
Isso sim eu sei!
R. Prata

4 de maio de 2011


Ser poeta é a loucura deste notívago
Que fica excitado pela Lua
Que goza
Na relação com o papel.
R. Prata
PAULISTANOS
O paulistano tem jogo de cintura.
É um sobrevivente,
ninguém o segura.
Anda como pingente.
Não me empurra.
Vive um caos urbano,
enfrenta desemprego, assalto.
Respira gás  metano.
Tem palhaço no asfalto.
Tem crack, bolinha, coca-cola
Tem na praça o pregador religioso,
o mendingo pedindo esmola,
salgadinho gostoso,
o negro de Angola.
o transeunte com o cachorro asqueroso.

É em Sampa, onde convivem os povos em paz.
Tem ateu,
gente que faz.
Tem judeu, árabe e o Sr. Irineu.
Tem bairro japonês,
todos os museus.
Tem gente do Paraná,
ingleses,
franceses bebendo guaraná.

SP tem o nordestino
na construção,
o homem sem destino
o gaúcho da pradaria,
o carro na contramão,
o português da padaria.
Tem italiano,
                libanês,
                       pernambucano.
SP de todos os pratos,
                de todos os temperos,
                           de todos os fatos.

SP tem gosto,
tem sabor.
Na Praça Buenos Aires
encontrei o meu amor.

Eu, Rubens
Se juntarmos nossos problemas para comparar com os problemas dos outros. Desejaríamos ter os nossos.
Sou feito de sonhos não vividos
De decisões interrompidas
De amores não realizados
De choros que não despencaram
De lugares que não conheci
De presença que não estive
De fugas que não fugi
De palavras que falei
Quando devia ter calado
De palavras que não falei
Quando devia ter falado
Da coragem que nunca tive
Da presença não esperada
Sou só Ser humano
R. Prata
O órgão sexual mais importante do corpo humano é o cérebro.
Regina Brett – 90 anos
A COISA QUE TODO MUNDO QUER
Quero uma coisa nova
Assim... Como diríamos?
Não precisa ser nenhuma...
Máquina de lavar de marca
Nem grande, muito menos pequena
A coisa...
Não precisa ser alta ou baixa,
Magra ou gorda,
Dura ou mole,
Durável ou passageira,
É só uma coisa,
Sem leveza nem peso.
Uma coisinha
Nem concreta,
Nem abstrata.
Pode ser visível,
Mas também invisível.
Não é material,
Imaterial,
Sobrenatural.
É só uma coisa nova,
Sem sabor
E ao mesmo tempo,
Cheia de sabor.
É só uma coisa
Que com a palavra pode ser descrita
Mas também pode ser escrita.
Inclusive, às vezes,
Não pode ser escrita,
Bem menos descrita.
Todo mundo quer uma coisa. Não é?
Eu só quero...
Encher linguiça
R. Prata
Um pensamento de amor sincero atinge seu alvo instantaneamente.

3 de maio de 2011

COMO SERIA SEM MINHA COMPANHEIRA


Como dizia o Vinícius:
“Eu sem você não sou ninguém”.
Sem você sou o dia sem sol.
A noite sem sono.
Um colibri a procura de flor.
Um espinho a procura da rosa.

Sem você não sou ninguém.
Só um homem sem sonho,
Um mar sem  água.
Um barco sem rumo.
Sem você não sou alguém.

Sem você . Sou quem?
Só um escultor sem criação.
Um músico sem emoção.
Uma bomba a espera da explosão.

Sem você...
Não sou ninguém.

Eu, Rubens

2 de maio de 2011


Tem gente que está morta. Vazia.
Sem nada a dizer.
Estou cheio. Só espero não dar azia.
Por estar transbordando, escrevo.
Escrevo aos meu amores;
esposa, filhos, netos, amigos internautas.
Palavras que sejam flores,
para encartar mesmo inimigos e até astronautas.

Amar não é sofrer,
Viver é pensar,
Amar é viver.
É realizar o que manda o coração.
É ouvir a que clama a alma .
É nunca ter sempre razão.
Amar , é ter um pouco de calma.
É também chamar a atenção.
Dar bronca
e sentar a mão.

Que loucuraaaaa!
Eu, Rubens
(batendo pino) 

ELES NÃO USAM BLACK TIES


Eles não usam Black Ties
São só padeiros que fazem o pão nosso de cada dia.
Eles não são os tais.
São só lavradores trazendo alimentos à nossa mesa.
Elas não são os doutores da medicina.
São só mães carinhosas, cuidando das meninas.
Eles não são engenheiros.
São só os que constroem nosso lar.Os pedreiros.
São só carpinteiros que cobrem nossa casa.
Elas não estão no topo da mídia.
São só cozinheiras, na frente do fogão fazendo nossa comida.
Eles não são banqueiros.
São só aqueles que limpam nossas ruas e recolhem nosso lixos.
São os garis e os lixeiros.
Eles não são usineiros.
Ela é só uma imprescindível costureira.
Eles não são advogados, deputados.
Legisladores, legislando em causa própria.
Eles são só: educados, humildes, trabalhadores.
Eles usam Black Tiés
Felizmente. São só os garções que põem nossa mesa.
 

Eu, Rubens

O POEMA QUE NÃO SAI


Quero escrever um poema,
Um poema que fala da vida.
Mas a vida é boa!

Quero falar da dor do existir.
Porém, não vivo desgraças.
Poderia mesmo até fingir,
Pra mim... Mentira não tem graça.

Quero falar de amor
No entanto, minhas paixões
não são daquelas
que se cantem em poemas.

Meu amor é diferente
Não amo nenhuma mulher.
Amo só uma.
Amo meus netos,
filhos e amigos.
Amo meu trabalho,
a vida, o mundo.
Penso mesmo, que amo a Deus.

Quero escrever um poema
Mas é preciso um bocado
de tristeza.
Agora, só posso dizer:
Obrigado meu Deus
Obrigado meu Deus
Obrigado meu Deus
Obrigado...
R. Prata

29 de março de 2011

AMOR DEMAIS

Gostar das tuas orquídeas
Mesmo quando elas não se mostram
Gostar da tua conversa
Mesmo quando nada tens a falar
Gostar das tuas violetas
Nos vasos esparramados pela casa
Gostar de ouvir seus desejos
Mesmo quando não os revela
Gostar dos teus cabelos
Mesmo quando não o arrumas
Gostar de estar contigo
Mesmo quando estás longe
Gostar dos teus segredos
Mesmo que não sejam segredos para mim
Gostar das tuas histórias
Mesmo que as tenha sempre ouvido
Gostar das rosas num copo
Mesmo quando não as coloca
Gostar de perscrutar os seus sonhos
Mesmo quando não os lembra
É tudo o que eu quero
É tudo o que eu vivo.
R. Prata

OPZ!

Despenquei a falar
Não sei de quê
Não sei por quê?
Despenquei a falar
Sem beira,
Sem eira,
Não sei porque
Falo sem estribeira
Asneira
Minha mãe morreu ontem
Não sei o porquê
Falo besteira
Sem ponto nem vírgula
Sobre o que não tem palavras
Das lágrimas que não produzem águas
Das poucas e pequenas mágoas
A vida não é brincadeira
Morte, alegria, tristeza
São a sina verdadeira
A vida é uma luta
Ninguém me escuta
Meu Deus me acuda
Não sei se é um RAP
Mais sei que o duro
É que Homem maduro
É sempre um doente
Esperando a morte chegar
Esperando a morte chegar
R . Prata

Espelho, espelho meu.
Existiria alguém mais egocêntrico do que eu?
R. Prata
Trago dentro de mim
Um montão de histórias para contar
Das viagens que pensei em fazer
Das aventuras que não realizei
Das paisagens que observei
Da janela do meu ateliê
Das lutas que não lutei
Das mulheres que não amei
Dos livros que nunca li.

Traga dentro de mim
Um montão de histórias
E, por mais que já as tenha contado
Nunca terão fim
E embora sempre novas
Serão sempre só pedaços de mim.
R. Prata

Tenho palavras esquentando no forno
Espero que logo fiquem prontas
Com temperos de versos e recheios de amor.