24 de março de 2011

 Certos homens constroem templos
Paras chegarem a Deus
Outros – os poetas – com tristeza, alegria, ou loucura,
Estão em Deus.
R. Prata

ÁGUAS DE MARÇO

A vontade vai embora
Nas águas de março
Com céu cinzento
O espírito nublado
Nada faço
Mas bastou
Um tostão de azul
Para por fim
Ao meu asco
Para parar
O rio no asfalto
Para animar-me
A caminhar de novo
A trabalhar horas com gosto
A sonhar com o novo
Foi só uma pincelada de azul no céu
Para dar um pouco de cor a minha alma
Obrigado Senhor

10 de março de 2011

“Perdoe-me se não podes me conhecer. Nem mesmo eu me conheço.”
R. Prata
LUCUBRAÇÕES DE UM NOTÍVAGO

É madrugada,
O pensamento pulula
A mente varia
Invade a alma
Um universo
Conto, crônica,
Prosa ou verso?

Não tenho tema fixo
Nenhuma consistência
Falta-me existência
Não durmo
E a cabeça?

Falta-me meditação
Um pouco de ação
O mundo é bonito
Mas o homem o faz feio
Sinal dos tempos?

Cultuam o corpo
Nunca o caráter
O programa é sexo
O valor é consumo
Nada tem nexo
Ninguém entra no prumo
A humanidade
Perdeu o rumo?

Calvino está a solta
A igreja valoriza a riqueza
O negócio é na “moita”
O culto é exterior
Onde está o amor ao próximo?

Nada é consistente
A droga prolifera
Amor não é tão resistente
Os homens
Tornaram-se fera?

Criança não brinca mais na rua
Mulher mesmo, é bom nua
Tomo um banho de lua
O fulano responde:
É a tua!

O pensamento não se ordena
Minha mãe está na cama
Virou vegetal
A consciência me condena
E coisa e tal

A insônia é um problema
To ficando louco
Qualquer dia eu morro
A vida passa num sopro

Não consigo me ater a um só tema
Minha ânsia é extrema
Escrevo, pinto, esculpo?
Aboliram o trema?
E bla, blá, blá.

R. Prata - (Sempre louco)
P.S. Olha! Esse tema já entupiu o saco e todo mundo já o conhece. Penso mesmo, que nada novo consigo escrever.
“Quase ninguém entende quando pensa que entende. Só se entende mesmo, quando são os olhos da alma que vêem e ouvem”
R. Prata

O BELZEBU DA CENTRAL DO BRASIL

É lá na Central do Brasil que os fatos ocorrem e ninguém fica sabendo. Lá o rapaz pratica surf em cima do trem, o pastor prega e recolhe o dízimo, o menino vende balas de goma, o pagode esquenta.

Pois é, lá o crime acontece e o Belzebu aparece.

Às vezes, um capeta vestido a caráter, com cavanhaque, chapéu coco, terno, gravata, botas tudo vermelho vinha mancando e rosnando como besta pelos trilhos.

De vez em sempre aparecia o outro; o Belzebu do vagão. Este era o pior, escolhia uma garota nova, encoxava e bulinava até fazê-la desmaiar. Todo mundo se sentia mal, mas ninguém se atrevia. Ele era grande e forte como cabia a um verdadeiro diabo, cheirava a enxofre, sua voz alta, grosseira, dava a sensação que ressoava das profundezas do inferno, era estúpido e ameaçador como o “coisa ruim”.

O Trem sempre lotado cheirava a misturas de urina, suores, desodorantes baratos, comida azeda. Podia ver-se a sujeira esparramada por todo lado, inclusive fezes reais. As pessoas viajavam apertadas ao extremo e de vez em quando, uma marmita amassava e entornava o caldo sobre outra pessoa. Atrasos, briga, gritaria, discussão sempre foram o cotidiano desse transporte.

Evitando a presença do Belzebu, tanto homens como mulheres, procuravam outro vagão ou até mesmo esperavam o próximo trem.

O tempo passava e esse inferno continuava na Central do Brasil, até quando, o Belzebu sumiu. Cogitou-se que uma gang o matara, ou um “rambo” sumira com ele, pensou-se até que as rezas do pastor o fizeram desaparecer. Mas qual nada, fora apenas uma pequena costureira, mãe de uma jovem molestada, que após retalhar o rosto do maldito com uma gilete, o recortou com sua tesoura.

Ah! Mulheres...
Como é bom tê-las para nossa proteção!

P.S. Apesar de o Belzebu sumir a Central do Brasil continua a mesma coisa.

R. Prata
“Se você me achar um cara meio estranho, me aceite assim mesmo. Até eu tive que me aceitar.”
R. Prata
O Sol levanta na cabeceira da minha rua
Radiante
Incendeia o dia
Os operários ressurgem
As fábricas acordam
Sirenes anunciam a hora
A vida acorda no bairro Jardim Paineiras.
R. Prata
“Música?
Música é imprescindível!.”
R. Prata

QUANDO O SOL ADORMECE














O Sol adormece no pé da rua
Nada tão sublime e íntimo.
À noite, a Lua me agasalha
E eu, sonhando com as luzes do entardecer,
Acordo,
Transcendo,
Procuro a palavra chave,
A senha da alma,
O sentimento profundo.
Palmilho versos,
Garimpo vocábulos,
Abstraio metáforas.
Astros nublados pipocam
No céu de minha alma,
Percorro as sílabas
Uma a uma.
Que a Lua conceda-me
No labirinto das palavras
A frase perfeita;
Como quem responde ao apelo do espírito,
Como quem viaja nas profundezas da alma,
Como quem salta ao infinito universo,
Como quem fica suspenso nas estrelas,
Na cadência do universo.
R. Prata
“Viver realmente é quando tudo o que se faz é proveniente das profundezas da alma.”
R. Prata/

A epidemia que estressa
A epidemia que destrata
A epidemia que adoece
A epidemia que separa
A epidemia que esmaga
A epidemia que mata
A epidemia que vicia
A epidemia que empobrece
A epidemia que escraviza
Tem nome:
CONSUMISMO

 

2 de março de 2011

“A gente pensa que sabe muito, mas quem poderia dizer-me que conhece sua própria alma? Por mais que eu tente, não consigo conhecer realmente o que é minha alma!”
R. Prata
Cá estou como sempre só
Abraçados eu e a noite
Companheira de sonhos
Que volitam no ar
Desejos de realizar
A arte de amanha
A palavra certeira
A música que encanta

Cá estou eu
Fumaça de cigarro
Tela de computador
Música suave
Palavra vadia
Silêncio noturno

Cá estou eu
A velar o sono dos meus
Amor transbordante
Respostas mudas
Desejos de amar

Cá estou eu
Palavras pensadas
A noite vazia
Solidão absoluta
Esperando uma permuta
De abraços
Beijos
Sôfregos de amor sobejante.

R. Prata
“Aprender, Entender, é sempre limitado. Sentir sim, é sublime.”
R. Prata

SEU JOÃO - “EM NOME DE JESUIS”

Religião, hoje em dia, está muito em voga. Parece moda do século vinte e um. Haja vista, a pregação televisiva, os Gospels, a proliferação de igrejas com seus neófitos.

Digo religião e não solidariedade, honestidade, honra, ética, respeito, compromisso. Esses princípios, por incrível que pareça, ficaram totalmente démodé. Com perdão da palavra antiga.

Diz-se até que fulano é de determinada religião, para confirmar sua honestidade. Quem não se lembra da campanha política, onde um dos candidatos se denominava: “do bem”.

Nunca esqueço de quando resolvi ampliar a casa, contratei um pedreiro religiosíssimo sem pechinchar, pois respeito o trabalho alheio. Cada duas palavras faladas colocava o nome de Jesus no meio. Aliás,“Jesuis”. Era educado e exaltava sempre as palestras do pastor. Fazia tudo em nome de Jesus. - Se Jesus quiser seu Rubens. - Fique com Deus seu Rubens . – Deus te abençoe seu Rubens. – Pode deixar, Jesus está com a gente seu Rubens. E assim, Jesus estava na boca dele diariamente.

Confiante nesse religioso, e para não atrasar a obra comprei todo o material para a construção antecipadamente.
Trabalhava todos os dias até 23 ou 24 horas para prover em dia o pagamento desse atencioso cristão. É lógico, no escuro da noite, via alguma coisa que não fora bem feito, mas...
Perdoar é divino! Principalmente quando não se tem dinheiro para comprar novamente o mesmo material.

Obra terminada à dois meses, tudo pago, podíamos dizer que nossa casa era como um hotel de mais de cinco estrelas. Pois, pelos rachos abertos na parede podíamos deitar olhando a Lua e muitas outras estrelas.

Tínhamos também duchas e sprinklers instaladas em vários cômodos da casa. A água esguichava pelos fios e globos das lâmpadas explodindo-as toda vez que chovia.

O bom mesmo era não precisar de despertador, porque o Sol brilhando cedinho pelas frestas criadas em nossa morada despertava-nos antes da hora de ir para o trabalho.

Mais tarde, soube que o referido profissional levava embora tudo o que podia até arrastou os ferros de minha construção pela cidade presos ao seu fusquinha. Terminara rápida a construção porque tinha proposta alvissareira para fazer um grande muro. Para ir embora depressa jogou os paus em cima da casa e esparramou as telhas sobre eles sem nenhum cuidado.

Durante um bom tempo refleti sobre as recompensas que teriam pessoas assim e, amargurado demais, deixei a casa por muitos anos até quando novamente pude juntar um bom dinheiro para consertá-la.

P.S. Seu João construiu um boteco para ele com o material levado de minha casa.
“Não se pode recriminar o fato de se estar triste. Pois, às vezes, é exatamente a tristeza a inspiradora dos melhores poemas, músicas ou peças de arte.”
R. Prata

A ILHA

Há anos, ciente de não ter mais todo o tempo do mundo, decidi só viver o melhor que o mundo teria a oferecer-me.

Precavido, mantive minha centena de long-plays. Vieram os CDs, DVDs, Pen-Drivers. Nenhuma destas novidades reproduzia as melhores orquestras, os grandes intérpretes e bons compositores. Como se não bastasse, o som dessa modernidade dita: “perfeita” parecia ressoar numa caixa de plástico.

Pois é, nada como o encanto dos velhos vinis ecoando numa antiga vitrola. O único incoveniente é trocar o disco toda hora.

Mas, qual a relação da música com viver o melhor que o mundo tem a oferecer?

Bom, música é imprescindível, influencia nosso estado de humor e sendo eu um escultor, uso orquestradas no ato da criação, rock e blues durante a elaboração da obra a ponto do ritmo marcar o compasso e a velocidade do bater do meu macete nas goivas (instrumentos de trabalho) e durante o prazer da lida, sobram minutos para ensaiar uns passinhos de dança.

É lógico, neste planeta, não há como evitar, vez ou outra, situações indesejáveis e nem a música resolve nossos problemas.

Quem desejar viver o melhor do mundo, há de se munir de muita atitude e apetrechos apropriados.

Se não tiver dinheiro para comprar uma ilha particular deverá construir a sua própria, esteja onde estiver. O que sai mais em conta é fazer da própria casa uma ilha.

É natural, cada um muda de atitude como melhor lhe convém.

No meu caso, afastei-me irremediavelmente de todo político de plantão, de pessoas dadas ao exagero na bebida, Aperfeiçoei-me em dizer não, fugi dos religiosos, aproximei-me mais dos amigos solidários. Desobriguei-me dos horários e haja o que houver, os compromissos esperarão enquanto me delicio com todos os por do sol pelo resto da vida. No mínimo, banhar-me-ei na Jurumirim uma vez por semana. Cerveja será bem vinda nos momentos oportunos.

Um ato difícil foi aposentar a TV aberta com tudo que ela tem de “bom” como: o desfile ininterrupto de marginais e corruptos, o oportunismo dos religiosos ocupando vários canais, as “celebridades”, os heróis vampiros, os heróis do Bial que tem “muito a dizer” no big-brother e suas respectivas companheiras curvilíneas, a música “maravilhosa”, o exibicionismo de certos apresentadores entre outras coisas.

Agora o apetrecho indispensável para qualquer possuidor de uma ilha é um PC com muitos gigas, uma banda bem larga e com as caixas de som trocadas por outras bem melhores.

Pasmem, pela internet você encontra rádio para o mais refinado ouvido, milhões de bons músicos jamais mostrados pela mídia do consumo, livros, os melhores artistas plásticos, os poetas e pessoas que sempre desejamos conhecer. Através dela faço pesquisas, escolho programas e filmes, ainda recebo lindas mensagens ilustradas com slides incríveis.

Penso que finalmente, agora posso desocupar o espaço dos meus queridos discos.

R. Prata

25 de fevereiro de 2011

“Não espero verdade absoluta. Mesmo porque a inferioridade humana não é capaz de abrangê-la.”

SEM PROBLEMAS

Venha ver o por do sol.
Mas, sem os problemas que o dia esqueceu.
Venha
Sem compromissos noturnos,
O amanha a Deus pertence.
Sinta o entardecer
Desarmada,
Sem reservas,
Sem remorsos por aquilo que não fez
Hoje,
Ontem,
No passado.
Esqueça-se,
Seja só alma.
Abebere-se do amarelo
Que estampa a rua,
As casas,
O seu semblante.
É vida,
É luz,
É saúde,
É beleza,
É encanto,
É a criação,
É o Criador.
Nada repara tanto
Nada tão inspirador.
Não é mesmo?
Pois é,
Nem só de Lua vive um poeta.