2 de março de 2011

“Aprender, Entender, é sempre limitado. Sentir sim, é sublime.”
R. Prata

SEU JOÃO - “EM NOME DE JESUIS”

Religião, hoje em dia, está muito em voga. Parece moda do século vinte e um. Haja vista, a pregação televisiva, os Gospels, a proliferação de igrejas com seus neófitos.

Digo religião e não solidariedade, honestidade, honra, ética, respeito, compromisso. Esses princípios, por incrível que pareça, ficaram totalmente démodé. Com perdão da palavra antiga.

Diz-se até que fulano é de determinada religião, para confirmar sua honestidade. Quem não se lembra da campanha política, onde um dos candidatos se denominava: “do bem”.

Nunca esqueço de quando resolvi ampliar a casa, contratei um pedreiro religiosíssimo sem pechinchar, pois respeito o trabalho alheio. Cada duas palavras faladas colocava o nome de Jesus no meio. Aliás,“Jesuis”. Era educado e exaltava sempre as palestras do pastor. Fazia tudo em nome de Jesus. - Se Jesus quiser seu Rubens. - Fique com Deus seu Rubens . – Deus te abençoe seu Rubens. – Pode deixar, Jesus está com a gente seu Rubens. E assim, Jesus estava na boca dele diariamente.

Confiante nesse religioso, e para não atrasar a obra comprei todo o material para a construção antecipadamente.
Trabalhava todos os dias até 23 ou 24 horas para prover em dia o pagamento desse atencioso cristão. É lógico, no escuro da noite, via alguma coisa que não fora bem feito, mas...
Perdoar é divino! Principalmente quando não se tem dinheiro para comprar novamente o mesmo material.

Obra terminada à dois meses, tudo pago, podíamos dizer que nossa casa era como um hotel de mais de cinco estrelas. Pois, pelos rachos abertos na parede podíamos deitar olhando a Lua e muitas outras estrelas.

Tínhamos também duchas e sprinklers instaladas em vários cômodos da casa. A água esguichava pelos fios e globos das lâmpadas explodindo-as toda vez que chovia.

O bom mesmo era não precisar de despertador, porque o Sol brilhando cedinho pelas frestas criadas em nossa morada despertava-nos antes da hora de ir para o trabalho.

Mais tarde, soube que o referido profissional levava embora tudo o que podia até arrastou os ferros de minha construção pela cidade presos ao seu fusquinha. Terminara rápida a construção porque tinha proposta alvissareira para fazer um grande muro. Para ir embora depressa jogou os paus em cima da casa e esparramou as telhas sobre eles sem nenhum cuidado.

Durante um bom tempo refleti sobre as recompensas que teriam pessoas assim e, amargurado demais, deixei a casa por muitos anos até quando novamente pude juntar um bom dinheiro para consertá-la.

P.S. Seu João construiu um boteco para ele com o material levado de minha casa.
“Não se pode recriminar o fato de se estar triste. Pois, às vezes, é exatamente a tristeza a inspiradora dos melhores poemas, músicas ou peças de arte.”
R. Prata

A ILHA

Há anos, ciente de não ter mais todo o tempo do mundo, decidi só viver o melhor que o mundo teria a oferecer-me.

Precavido, mantive minha centena de long-plays. Vieram os CDs, DVDs, Pen-Drivers. Nenhuma destas novidades reproduzia as melhores orquestras, os grandes intérpretes e bons compositores. Como se não bastasse, o som dessa modernidade dita: “perfeita” parecia ressoar numa caixa de plástico.

Pois é, nada como o encanto dos velhos vinis ecoando numa antiga vitrola. O único incoveniente é trocar o disco toda hora.

Mas, qual a relação da música com viver o melhor que o mundo tem a oferecer?

Bom, música é imprescindível, influencia nosso estado de humor e sendo eu um escultor, uso orquestradas no ato da criação, rock e blues durante a elaboração da obra a ponto do ritmo marcar o compasso e a velocidade do bater do meu macete nas goivas (instrumentos de trabalho) e durante o prazer da lida, sobram minutos para ensaiar uns passinhos de dança.

É lógico, neste planeta, não há como evitar, vez ou outra, situações indesejáveis e nem a música resolve nossos problemas.

Quem desejar viver o melhor do mundo, há de se munir de muita atitude e apetrechos apropriados.

Se não tiver dinheiro para comprar uma ilha particular deverá construir a sua própria, esteja onde estiver. O que sai mais em conta é fazer da própria casa uma ilha.

É natural, cada um muda de atitude como melhor lhe convém.

No meu caso, afastei-me irremediavelmente de todo político de plantão, de pessoas dadas ao exagero na bebida, Aperfeiçoei-me em dizer não, fugi dos religiosos, aproximei-me mais dos amigos solidários. Desobriguei-me dos horários e haja o que houver, os compromissos esperarão enquanto me delicio com todos os por do sol pelo resto da vida. No mínimo, banhar-me-ei na Jurumirim uma vez por semana. Cerveja será bem vinda nos momentos oportunos.

Um ato difícil foi aposentar a TV aberta com tudo que ela tem de “bom” como: o desfile ininterrupto de marginais e corruptos, o oportunismo dos religiosos ocupando vários canais, as “celebridades”, os heróis vampiros, os heróis do Bial que tem “muito a dizer” no big-brother e suas respectivas companheiras curvilíneas, a música “maravilhosa”, o exibicionismo de certos apresentadores entre outras coisas.

Agora o apetrecho indispensável para qualquer possuidor de uma ilha é um PC com muitos gigas, uma banda bem larga e com as caixas de som trocadas por outras bem melhores.

Pasmem, pela internet você encontra rádio para o mais refinado ouvido, milhões de bons músicos jamais mostrados pela mídia do consumo, livros, os melhores artistas plásticos, os poetas e pessoas que sempre desejamos conhecer. Através dela faço pesquisas, escolho programas e filmes, ainda recebo lindas mensagens ilustradas com slides incríveis.

Penso que finalmente, agora posso desocupar o espaço dos meus queridos discos.

R. Prata

25 de fevereiro de 2011

“Não espero verdade absoluta. Mesmo porque a inferioridade humana não é capaz de abrangê-la.”

SEM PROBLEMAS

Venha ver o por do sol.
Mas, sem os problemas que o dia esqueceu.
Venha
Sem compromissos noturnos,
O amanha a Deus pertence.
Sinta o entardecer
Desarmada,
Sem reservas,
Sem remorsos por aquilo que não fez
Hoje,
Ontem,
No passado.
Esqueça-se,
Seja só alma.
Abebere-se do amarelo
Que estampa a rua,
As casas,
O seu semblante.
É vida,
É luz,
É saúde,
É beleza,
É encanto,
É a criação,
É o Criador.
Nada repara tanto
Nada tão inspirador.
Não é mesmo?
Pois é,
Nem só de Lua vive um poeta.
“Meus pais, acho, planejaram uma vida para mim. Mas na verdade, alienaram-me de mim.”

SÓ QUERO VOAR NAS ASAS DE UMA ÁGUIA

Não quero a voz plena da razão
Mas o brilho nas profundezas da alma.
Não quero discussões acadêmicas
Mas o perfume do jasmim
Não quero especialista a mostrar-me o caminho
Mas caminhar com um índio Sioux
Não quero a fórmula descrita pelo professor
Mas enxergar a forma real do mundo das formas de Platão
Não quero viajar para Disney Word
Mas voar na alma de uma águia
“Simplicidade é uma conquista aflorada através do trabalho constante, experiência e exercício da alma.”
Há tempos venho me desconstruindo
Arrancando ervas daninhas
Tirando os tabus da minha geração
O medo que os pais me incutiram
O inferno que a religião me propôs
A rigidez que me impus
Os “Tenho que”.

“Arte? Arte é fundamental!”

POUCAS COISAS BASTAM PARA MIM

Não sou consumista,
Poucas coisas bastam para mim,
Nenhum bem material em vista,
Só desejo banhar-me na Jurumirim.

Poucas coisas bastam para mim,
Uma bermuda surrada,
Poucas rosas no jardim,
Boa música, bem cantada.

Poucas coisas bastam para mim,
Um Deus te abençoe meu neto,
Um aroma de jasmim,
Um amigo sempre por perto.

Com Deus, tenho uma aliança.
O beijo da amada,
O carinho da criança,
Um bom prato com salada.

Tenho tudo o que quero,
As goivas, o tronco virgem.
Só saúde eu espero
Para lavrar no tronco a bela imagem.
“Minha força, minha motivação para a vida provém do amor. Do amor pela Arte, do amor por pessoas.”

PERDI MEU POEMA

Já faz muito tempo,
Perdi meu poema
Agora, de alma vazia,
Vivo um problema,
Encontro eu a palavra
Que ponha fim a esse dilema?
O meu poema anda por aí,
Aposentado,
A vadiar com a brisa de Avaré.
Adormecido,
No ventre de um tronco de grevilha,
Esperando que eu retire dele
Encantadora musa.
Talvez, só talvez...
Volte quando a rosa da calçada desabrochar,
O Ipê amarelo do vizinho florir,
Quando a chuva parar,
O Sol surgir,
Talvez, só talvez...
“Eu me entrego, me rendo à arte nascida do fundo da alma, quando brota da madeira”

VENHAM

Venham as estrelas,
Tragam-me sonhos estelares,
Vem Lua clara iluminar minha alma,
Vem abundância da natureza,
Traga-me mil palavras com beleza
Vem lembranças,
Tragam-me os sonhos de criança,
A curiosidade, a descoberta, o encanto.
Venham amigos,
Tragam-me a prosa e verso.
Venham os anjos,
Encham-me de carinhos e paz.
Venha Universo
Realize meu desejo de escrever, de criar.
Pois sei que conspiras a meu favor.
Venha meu Criador,
Que seja feita vossa vontade.
“O que me traz a maior alegria do mundo é ver a tela branca de um PC com alma aberta e muita inspiração”

VELHOS

Quando a gente fica velho,
Tudo cai
É a lei da gravidade,
Do desgaste,
Do tempo,
Sei lá!

Quando o homem fica velho,
Dizem: “Mija no pé”.
Tudo murcha.
Só barriga cresce,
Fica exuberante.
A próstata, também cresce.

OBSESSÃO INFERNAL

O tempo passou e descobri que:
Não tenho que ser importante,
Não preciso de cartão de crédito,
Não é tão necessário ser macho,
Não é imprescindível falar inglês,
Não preciso mesmo visitar Paris,
Não tenho que ser magro,
Não preciso acumular,
Não preciso ter a mente jovem,
Não preciso de uma mente aberta,
Só preciso da mente que me cabe.
Não preciso ser o melhor amigo do filho
Porque já sou seu melhor amigo com algo a mais;
Não preciso de carro zero comprado a 80 prestações,
Com 60 ele já estará velho;
Não preciso de religião, só de religiosidade;
Não preciso de partido para ser político,
Não preciso ser politicamente correto,
Pois a preocupação em acertar só realça a diferença,
Não necessito disfarçar quando estou triste,
Ficar triste não é feio;
Nem preciso envergonhar-me por ter alegria.

Enfim, NÃO PRECISO DESSA VIDA MODERNA.
“Felicidade acontece quando eu tenho as goivas, a madeira é macia e a inspiração é farta.”