19 de setembro de 2010

A MULHER DO GATO

Em “Sampa” acontecia o Revelando São Paulo no Parque da Água Branca, uma festa onde os melhores e mais variados grupos musicais regionais se apresentam. Você podia comer inusitados pratos paulistas, inclusive alimentos antigos usados pelos bandeirantes. Lá se expõe também as peças originais dos maiores artesões do estado.

Embora não seja muito divulgado trata-se do maior espetáculo artístico do estado. A grandiosidade é tal que imagino ser pário duro para o próprio carnaval carioca.

Pois bem, nesta festa cujos adjetivos não são suficientes para classificar sua grandiosidade, estava eu, de mala e cuia acampado com minha pesada tralha de arte esculpida. Foi lá que uma jovem senhora se encantou pelo meu gato elaborado em cedro rosa. Paparicou a peça, elogiou-me e disse em seguida:

- É o Jonathan com certeza, escarrado e cuspido!

Na verdade, não poderia ser a cara de gato nenhum, pois era obra moderna de formas estilizadas. Depois de contar-me a história do dito cujo, desde bebê, da mamadeira que usava, da caixinha com areia, do jeito no qual o bicho dormia com ela, da comida balanceada, do câncer que adquirira na velhice despediu-se, tecendo novos elogios a meu respeito prometendo retorno.

E assim, não passava um dia sem sua visita elogiando-me e pedindo para não vender o gato . Um dia reclamava dos R$ 1400,00 gastos com a químio do amado felino. Dizia que meu gatinho era caro para quem estava tão debilitada de dinheiro. Noutro dia, reclamava porque gastará R$ 400,00 com remédios e pedia desconto. Novo dia, mais gasto com o bichano, ora era novo remédio, ora ambulância, ora alimento, ora banho. A dona pensava seriamente num analista para o bichinho, mas embora já tivesse dado desconto ela queria mais.

Assim transcorreram os sete dias da festa, com visitas freqüentes da infeliz, choramingando pelo sofrimento do Sr. Jonathan, elogios ao “grande artista” e pedidos de descontos até o último dia quando a coitadinha que gastara dezenas de salários mínimos com o precioso levou meu gato de madeira de R$ 180,00 por R$ 60,00.

Pois é, depois de passar sete dias sem defecar porque banheiro químico nem morto uso. Depois de tomar só 3 banhos na semana, pois concorrer com outros 100 artesões um só chuveiro era duro “pra cachorro”, depois de passar uma semana sem dormir em meio a uma multidão de camas, depois de,todos os dias, ter saído às cinco da manhã e ficado na feira até 22 horas. Não podia levar todas as obras de volta sem deixar a família e as contas pra lá.

Afinal, nem todo mundo pode ser um Jonathan na vida.

A feira acabou e, consciente de que o ocorrido representava bem a nossa nova sociedade contemporânea (indiferente, fútil e hipócrita), a promessa de um descanso breve me deu forças para cantar na viagem de volta a canção do Eduardo Dusek : “Troque seu cachorro por uma criança pobre...”

JABÁ

Foi numa noite de outono do ano passado quando minha esposa manifestou o desejo de comer carne seca. Fiquei contente e havia motivos para isso, pois há anos não pedia qualquer coisa especial, algo para si mesma. Portanto, essa era a oportunidade de agradar essa mulher que tanto amo, companheira no trabalho e ainda cuida com carinho de todo mundo sem nada exigir.

Está certo, o pedido era muito simples, coisa que qualquer um poderia cumprir, mas era a única ocasião de servir alguém tão bondosa, cujo bom senso nunca permitia dar o passo maior que a perna. Daí o motivo de um desejo tão simplório.

Pus-me na rua, em busca da carninha saborosa, ansioso por satisfazer a amada que tanto merecia. Durante o caminho lembrava-me daquelas carnes secas penduradas em ferros por ganchos, junto com salaminhos e outras carnes nos açougues, das carnes secas que vinham em pacotinhos de plástico transparente e sem rótulos que há tempos não comprava.

No supermercado mais próximo aquela exposição – bem elaborada – de frios e queijos com todo tipo de carnes salames e carnes saturadas, estrangeiras com todo tipo de rótulo faziam uma festa para os olhos e uma mina de saliva na boca. Mas, cadê a carne seca?

Estava escurecendo, corri apressado a uns dos últimos açougues ainda resistindo à modernidade e nada achei.

A semana correra depressa comigo garimpando carne seca em supermercados diversos. Essa empreita já se tornara uma questão de honra. Três semanas após quando decidi que traria a tal carne nem que fosse ao nordeste buscá-la comentei com uma funcionária do supermercado mais perto de casa que não achava mais carne seca em lugar nenhum, justo um produto tão comum na nação brasileira não deveria ter sumido assim. Ela respondeu-me:

- Olha aqui a carne seca, é da Mondeli uma boa marca.

Peguei o pacote todo desenhado com carnes rodeadas de alface e li devagar:

- JER-KE-ED - BE-EF. Nossa! Jerkeed Beef é o nome do jabá agora, justo esse produto tão nacional, herança dos navegadores portugueses e talvez até de índios.
Cansado mas satisfeito, resolvi incrementar o pedido com couve, laranja, feijão preto, farinha de mandioca, paio e um pouco de toucinho bem vermelhinho – que hoje chamam de bacon.

Sai pensando nos absurdos de hoje, os quais não posso entender como: fast food, delivery, place, dowloads, self-service, ...

7 de setembro de 2010

Não me arrependo jamais,
Amei muito, profundamente,
Incondicionalmente,
Amei demais
Minhas irmãs, esposa, filhos, netos,
Os filhos dos outros,
Os amigos.
Não me arrependo de nada do que fiz,
Mesmo das horas nas quais errei.
Só me arrependo das coisas que não fiz:
Dos sonhos que não vivi
Dos abraços apertados que não dei
Do beijo que não roubei,
Da música que não dancei,
Da desculpa que pedi,
E daquela que não pedi,
Da palavra que não falei,
Da risada que contive,
Da lágrima que aprisionei.

Por que ter nostalgia de uma geração
cujo medo, covardia, machismo, comodismo, tabus
foram dominantes e nem sequer admitíamos?

NOTA: Acho que já usei algumas frases repetidas que está em outro verso, mas enfim, era o que estava pensando ontem a respeito das pessoas um pouco mais velhas como eu por exemplo

A VELHA SENHORA

Tenho na Praça Padre Tavares um quiosque, onde exponho minha arte. Visitam-me no local muita gente de fora que encantadas, tiram fotos, filmam fazendo-me acreditar que o box tornara-se um novo ponto turístico da cidade. De vez em nunca, vendo uma peça.

Passam por lá boas pessoas que gosto e também gente má que não desgosto. Há umas especiais e outras essenciais.

Entre elas, há a velha senhora paupérrima mãe de dezoito filhos, é analfabeta, mas nunca pediu qualquer coisa. Ela não lembra, mas a conheço do tempo quando passava em casa e perguntava se tinha um terreno para carpir ou um jardim para cuidar.

Pois é, exatamente ela que apanhou do marido por anos a fio, que pariu em quase todo cio, que agora feliz e viúva visita-me uma vez por mês para apreciar minhas obras e apesar da pouca instrução que a existência não lhe permitiu, ainda é ela cuja sensibilidade artística ultrapassa de longe a de qualquer letrado prá lá de instruído a afirmar ter encontrado alguém como eu com o Dom de Deus, com mãos de anjo e coração de santo.

Passa horas admirando tudo, comenta sobre as peças e me segreda que sempre vê – com a vidência própria de quem guarda relações íntimas com a natureza – minhas personagens vagando por aí, pelo mundo astral ao nosso redor.

Sempre cogita de comprar um pilão mostrando um violeiro na parte exterior. Propõe me pagar a prestação, mas sempre consigo dissuadi-la da idéia, porque apesar de seu amor a arte, imagino as privações que passaria para possuir tal obra.

Sempre antes de se despedir, derrama sobre minha mesa de trabalho, uma sacola com balas, frutas e legumes repartindo-a criteriosamente comigo – meio a meio – o conteúdo de sua pobre sacola.

As pessoas ficam abismadas, sem entender o que leva uma pessoa tão pobre a agir assim. Mas eu, bem lá no fundo da alma, percebo o motivo deste gesto e acato com prazer e respeito.

31 de agosto de 2010

O TEMPO É CURTO

O tempo é curto
Estou hoje Efervescente,
Delirante
Borbulhante de paixão
Abundante de desejos
O Tempo é curto
Para tudo o que desejo escrever
Para tudo o que desejo ler
Pode vir que o tempo é curto
Estou fervendo
Tinindo de graça
Mas o tempo é curto
E tudo passa
O tempo é curto
Para tudo o que desejo ouvir
Para tudo o que desejo aprender
Para o tanto que quero viver
Para o muito a fazer
O tempo é curto
Não importa o que eu faça
Estou hoje gigante
Pronto para explodir
Como nunca estivera dantes
Venha quero amar-te
Como nunca te amara antes
Vem, o tempo é curto
Vem que neste momento,
O tempo eu curto
Todas as horas, minutos, segundos
Eu furto
Para passar estes meus últimos momentos na Terra

Ahahahahah! Que loucuraaaaa!!!!!
Fazer tudo neste meu pouco tempo

AHAHAHAHAHAH!!!!
Nem há tempo
Para vírgula, ponto,acento
Rimas, correção neste meu pequeno e explosivo momento.

POLÍTICA E RELIGIÃO NÃO SE DISCUTE

A experiência ensina a não discutir política e religião se quiser manter a paz. Por outro lado, a consciência afligir-nos-á muito mais se a covardia calar-nos. É da natureza do brasileiro ficar quieto frente a temas polêmico, mas essa quietude oprime quando tem-se que renegar as próprias raízes principalmente a negra, indígena e até a cristã. Não são estas culturas que identificam nossa maneira de ser?

Deve-se a elas nossa música, culinária, hospitalidade, literatura, língua, tolerância, fraternidade até a capacidade de ser canibal.

Acontece que de uns 20 anos para cá um fundamentalismo crescente vem solapando sutilmente essa exuberância brasileira ao renegar, até atacar nossa realidade nos propondo um “cristo” insuportável. Não é de hoje a percepção de que estes homens são perigosos e intocáveis, pois falar deles é o mesmo que ”cutucar onça com vara curta” e absurdamente, colocados no pedestal no qual estão qualquer coisa dita vai provocar vingança em vez de perdão, desentendimento onde deveria existir compreensão, ódio no lugar do amor. Isto é fundamentalismo!

Acabaram-se as rádios que nos entretinham com programação em acordo com os mais puros sentimentos, uma das últimas que apresentava MPB de boa qualidade em SP, fora adquirida no ano passado por mais um desses grupos. O que não dizer da invasão dos lares por estes religiosos através das TVs?
Hoje, o mundo ficou mais feio, não é mais possível “viver a alegria de ser um eterno aprendiz”, “desesperar jamais”, não há mais aquela pedra no meio do caminho, nem “as rosas exalam o perfume que roubam de ti”. Terminaram as tardes de Itapoá. “Os poetas, seresteiros namorados correram...”

Agora só nos resta: aceitar Jesus.

30 de agosto de 2010

O ARQUEIRO NO OLHO DO OUTRO

É natural chocar-se com as declarações do Sr. Stallone a respeito dos brasileiros e não faz tempo Robin Williams fez piadinha quando o Brasil ganhou o direito de sediar as olimpíadas de 2016. Quanto ao Robin, era só piadinha de mal gosto como também aqui se faz com outros.
Comentários antipáticos não acontecem só hoje, em 1966, De Gaulle (antigo presidente da França) já dizia: “O Brasil não é um país sério” e assim muito estrangeiro desatento tem visto o brasileiro como exótico.
É legal fazer um boicote ao filme de Stallone como alguns E-mails sugerem. Mas, será que na hora “H” não iremos correndo assistir ao famigerado matando “trocentos bandidos” latino-americanos?
Pois é, o brasileiro é mesmo exótico, com todos adjetivos e sinônimos que cabem nesta palavra. Inclusive canibais, a deglutir coisa ruim vinda de fora. Exóticos sim, mas não por defeito e sim por virtude, pois é o brasileiro semente hibrida da Terra, mistura de todos os gens de todos os povos. Somos o sal da terra, capacitados a aceitar a diferença, de perdoar e amar o próximo mesmo que esse próximo não nos enxergue direito.
A grande ironia é que a gente vê o arqueiro no olho do outro mas não vê o próprio rabo. Pois, não foi a Record que alardeou intensamente a declaração do Stallone. Também não foi esta emissora que passou e repassou um filme chamado: Turistas onde os brasileiros eram mostrados como pessoas sem escrúpulo roubando, matando, drogando, estrupando e esquartejando todo o estrangeiro que aqui chegasse. As cenas eram grotescas, horripilantes; só tinha calor, sujeira, pobreza, florestas insuportáveis, pessoas perigosas, esconderijos de contrabandistas e traficantes..Era o inferno do qual o turista nunca conseguia escapar. É possível até, que esta película fora feita especialmente para minar o turismo no Brasil.
Ora, qual o critério da Record? Ninguém teceu comentário a respeito desse filme, muito menos o boicotou.
Rubens Prata

28 de agosto de 2010

SUGESTÕES OPORTUNAS

Pensando na humildade. Certamente não deve tratar-se de vestir-se pobremente, muito menos, ficar calado quando se deve falar. Provavelmente, humildade seja reconhecer os próprios limites.
Considerando esses limites, pode-se afirmar: nem todo mundo é astuto, tem jogo de cintura, diplomacia, malícia, tempo, capacidade e conhecimento para administrar – muito menos liderar - uma campanha importante como foi a da FICHA LIMPA. No entanto, qualquer um pode propor e esperar que aconteça.
Uma vez que os congressistas não tomam iniciativa, outras campanhas poderiam acontecer como a da PUNIÇÃO COM CERTEZA e CIDADE LIMPA, por exemplo.
Ocorrendo a PUNIÇÃO COM CERTEZA, alegrar-nos-ia ver os antigos anões do congresso devolvendo tudinho o que levaram da nação. É lógico, se os crimes não prescrevessem e não tivesse tanta apelação.
E se, os tais criminosos de “colarinho branco” nunca mais exercessem cargo público ficando realmente presos por bom tempo? Já se ouviu falar: “A quem muito se é dado, também muito lhe será cobrado”. Ora, a sociedade investiu nessa gente, condições, educação, oportunidades e é natural que sendo esses “instruídos” ladrões da nação, deva-se cobrar muito mais deles.
Os anões andam quietinhos usufruindo o fruto do roubo, mas a campanha política deste ano ainda mostra velhas raposas que a dezenas de anos empurram a justiça com a barriga.
Olha, ver essa turminha no xadrez daria até samba, com direito a desfile na Marques do Sapucaí.
Agora, falando de CIDADE LIMPA, imagine o meliante jogando porcaria no chão sendo multado. É claro, não pagando a multa seu nome iria para o SPC e não renovaria o C.P.F.
Com sinceras segundas intenções.
Rubens Prata

23 de agosto de 2010

ASSIM EU SOU

Eu sou mesmo assim:
Anormal!
Gostem ou não de mim,
Não morro por causa de dinheiro,
Não penso nunca no mal.
Faço arte o tempo inteiro.

Sou criança,
Mimada pelo Universo,
A quem amo e faço verso.
Não corro, Não bajulo,
Não peço nada,
Mas a ninguém anulo.

Eu sou mesmo assim,
Gostem ou não de mim.
A música me inspira,
A vida me incita,
Ando na rua,
No mundo da Lua.

PESSOAS QUE FAZEM UM MUNDO MELHOR

Quinta, enquanto esperava meu neto terminar a aula de violino, fiquei na biblioteca a ler no jornal, crônicas do José Carlos dos Santos Peres – um excelente escritor e poeta daqui da região. Elas lotavam a página. Uma falava de o dinheiro brasileiro apresentar vestígios de cocaína, outra discorria sobre velhice e previdência, uma terceira tinha detalhes sobre futebol e assim por diante o assunto variava de modo a distrair-me de forma diferente.
À noite, depois de ter ouvido horas da boa música irradiada pela Cidadania, assisti ao filme: “As filhas do Vento” na TV Brasil.
As ocorrências desta quinta me obrigam a reconhecer que pela criatividade de um cronista e de um cineasta o dia tornara-se maravilhoso. Pois, como pode alguém escrever tanto, muito bem e de forma variada num só dia. Como pode um cineasta produzir um bom filme baseado só num pequeno mal entendido, com fatos do cotidiano, com gente corriqueira, num lugar comum – sem heróis ou bandidos, sem tiros ou grandes personalidades. Pois é, há que se perceber que são estas pessoas que tornam, sutilmente, o mundo melhor.
Se por um lado há quem faça o mundo melhor, há outros que entulham a mídia com filmes, reportagens, programas que, por mais que evitemos, acabam nos infundindo as vibrações mais baixas do nosso ser. Que a pretexto de alertar-nos, informar-nos, distrair-nos até salvar-nos acabam inconscientemente, fazendo apologia à baixaria, às drogas, à violência e inclusive a um apartheid religioso e social.
Acaba-se sentido e mesmo crendo que a vida é só isso. Só falta agora a gente passar a ter medo de vampiros.
Eu moro em Avaré e é lógico que aqui tem tudo o que tem por aí. Mas tem, sobretudo e muito mais, operários, escritores, poetas, músicos, atores, artistas plásticos transformando em melhor e mais bonito o nosso planeta.
É, sem nenhum preconceito,
Não dá mesmo para eu ser prefeito,
Sempre acho defeito,
Naquilo que tenho feito.
Pinto e bordo,
Esculpo e escrevo,
Mas percebo,
Nada sai perfeito.
Desse jeito, não tem jeito,
A tudo que faço rejeito
Acabo sempre insatisfeito.
Perfeito? Só Deus tem feito!
Mas a Ele agradeço,
Pois Ele me fez...
Deu-me um Dom
Para que na vida eu procurasse ser ...

SINA

Enjeitado, desde tenra idade,
Distante do privilégio de uma paternidade,
Triste e só pelas ruas vivi,
Passei fome,
De frio morri,
Mas, de nada me arrependi.
Com o tempo,
Muito aprendi.
Saí ileso, sem perder o juízo,
Dessa sina, não colhi prejuízo.

Agora, mais velho,
Não me desespero,
Faço tudo o que eu quero,
Já posso sonhar com a Lua Cheia,
Jogar futebol com bola de meia.
Nas águas do Jurumirim,
Ponho-me a brincar
Despreocupado,
Como pequeno curumim.

PAURA

Tem dias que a gente vive assim:
Triste, deprimido, no poço,
Bem lá no fim.
Como quem desta vida já partiu.
Nada desperta interesse,
O sentido de tudo sumiu.
O medo não deixa colocar o pé na vida,
Não dá vontade nenhuma para a lida.
Seria um ciclo que encerra?
Algo novo que se enseja?
Só sei que tudo se esvaziou,
A criatividade acabou.

Mas...
O tempo conspira a nosso favor,
E esse vazio, dizia minha irmã:
-É o espaço que desocupamos para nos encher de novo
Com novas Artes e mais amor.

Afinal já dizia Epíteto:
“-Deixa que a vida te leve em teu próprio rumo certo.”
Ontem foi dia dos pais, fiquei emocionado com um vídeo, falando de mim, que minha filha produziu. A outra filha fez um ótimo churrasco.
Já há tempos tento escrever algo belo, mas ultimamente nada consigo.
Pensei no amor, motivo de muitas atitudes aqui em casa,
Amor que se reflete em pequenos detalhes como:
No feijãozinho com pouco sal para não fazer mal à saúde,
Na benção distribuída conscientemente para os netinhos,
No telefonema diário para minha amada conferindo se está tudo bem mesmo.
Pensei até nesse amor cúmplice,
Nesse amor eterno adolescente,
Que por aqui permanece.
Mas, infelizmente nenhuma poesia saiu.

2 de agosto de 2010

PARA QUEM DEIXOU SAUDADES

Tem Gente que parte, mas fica por cá
Guardado, bem no fundo, do coração da gente,
Na lembrança de um encontro de supermercado,
Numa conversa alegre,
Em determinada música que se ouve no rádio.
Fica em versos e prosas
Gravado na lembrança dos amigos,
Em sorriso singelo,
No prato que deixou saudades,
Na palavra sincera,
Na peça de sucesso,
No arranjo da sala de estar,
Nos detalhes da vida.

“Inté” Eron!
Até mais ver.

TERRA a nossa casa

Estou aqui, como sempre, a trabalhar ao som da orquestra que da velha vitrola se esparrama pelo ar.

Olho a rua, penso na vida, nos acontecimentos.

Lembro que os papagaios invasores da cidade no ano passado se foram.
Partiram como o vento da cidade que há tempos anda sumido.

Pois é, hoje o ventinho passou para uma visita, presenteou-nos com um pouco de refrigério para este calor em pleno inverno.

Agora, deve estar empurrando uma chuvinha para trazer um lenitivo para secura do ar que a muitos faz mal.

Considero relevante este ventinho que diariamente só aqui ocorria, pois amenizava o clima e dava uma face à cidade que há tempos apagara seu rosto ao dilapidar o patrimônio, o ambiente, ao esquecer seus valores naturais.

Lembram-se - no começo do ano – de quando nosso ventinho revoltado partiu daqui transtornado num vendaval, causando prejuízos, destelhando casas?

Entortou até minha parabólica, arrancou telhas, justo de mim que tanto reconhece seu valor.

Tudo bem, está perdoado. Saí ileso, de bolso seco, mas ileso.

Saímos ilesos, a cidade é abençoada pelo Divino, mas não estamos imunes. A natureza desconfia da gente, haja visto o lixo que se despeja nos terrenos baldios da cidade, os restos atirados no chão ao lado da lixeira vazia. Até entulhos nos rios são jogados e o que não dizer de nossas árvores.

Enfim, o planeta percebe o desrespeito a casa na qual moramos. Sabe que não planejamos, elaboramos, fiscalizamos, penalizamos e não colocamos em prática uma política para recuperar o ambiente na cidade.

A propósito: Eu adoraria voltar a fazer compras com a antiga sacola, para não usar saquinhos plásticos. Mas onde poria meu lixo?

Pois é, é preciso retornar aos antigos hábitos de quando colocávamos o lixo na lata do lixo, sem que o lixeiro a levasse.

Só quero escrever

Quero escrever,
Nem sei sobre o que,
Mas quero escrever.
Amanhã é minha folga,
Mas já vi. Vai chover!.
Não importa,
A minha alma fará sol.
Eu só quero é viver,
Brincar de futebol,
Assistir ao entardecer,
Tomar uma Skol.
Mas, o que devo dizer?
Não sei.
Mas isso posso dizer:
AMO VOCÊÊÊÊÊ!

DIFÍCIL CONVERSA

Pois é, fica difícil ter o que dizer quando:
Não se é adepto de nenhuma organização,
Não se vive fudido,
Não se toma partido,
Não se vive iludido.
Nada tem sentido.

Fica difícil ter o que dizer quando:
Você não é empregado nem patrão,
Não explode de paixão,
Da corda você é o elo mais frágil,
É gordo, meio velho, sedentário e fraco,
O que está na TV, nos jornais é só um saco.
MAS SEMPRE SOBRA UM PENSAMENTOZINHO A MAIS
AINDA QUE NÃO COMBINE MUITO COM O TEXTO.
Fica fácil falar quando se tem amor.
-Benhê!. Ta na hora do seu remédio.
-Tire o dedão da boca pirralho!.
-Deus te abençoe meu filho!
-Eu te amo meu bem!
-Ulisses, já escovou...
-FIM.
AHAHAHAH!

27 de julho de 2010

SINFONIA

O Sol acorda animado na cabeceira da avenida,
O Ipê amarelo da calçada dá o tom
O Carmim da primavera do vizinho
Mostra-se, pela primeira vez, afinado com a orquestra.
O Branco das paredes,
Reflete a vida se espalhando pelo ar.
No rádio,
Vinícius está mais vivo do que nunca.
Ainda tenho meus livros, meus disco, meus amigos;
Filhos, muitos netos e nada mais.
Só não brotaram,
A multidão de rosas no jardim.
Mas, certamente, a vida não é mais um nada.
À noite, já posso passear na Lua cheia.
E, mais tarde, encantar-me, com o Sol se deitando no pé da rua.
Posso até, repartir esse tiquinho de prosa.

PERDIDO

Ultimamente...
Passei tempo demais correndo atrás do dinheiro.
Aprisionei-me, cada vez mais, à matéria.
Fiz-me mudo por inteiro,
As lindas palavras secaram.
Agora...
Triste, deprimido,
Peço desesperado ao Criador
Que minha alma sonhe,
Peço o milagroso comprimido
Que cure a secura do meu coração
E me torne um ébrio de emoção
Para levar aos amigos
De todas as paragens
Com amor, beleza, harmonia,
As mais lindas mensagens.

Obrigado meu Deus

24 de julho de 2010

Já escrevi um dia, que chegando a idade, a gente tem consciência de não ter todo tempo do mundo. Então, priorizamos só o mais importante. Daí Coloca-se as bandeiras de lado, cultiva-se mais os amigos, não se perde tempo com discussões infrutíferas, e assim por diante.

Por isso fujo das falações, escolho o melhor, o bom, o belo; cultivo amigos, muita música e arte.

É no meu pczinho deficiente de banda estreitinha que tenho encontrado muita coisa boa. São inúmeros e-mails e recados no orkut com slides e mensagens maravilhosas, motivos para rir sem parar, muita flor iluminada na tela, artes das melhores em imensa variedade, mensagens sadias e cristãs, recados inteligentes – escritos de próprio punho. São amigos virtuais. Anônimos artistas plásticos, poetas, escritores, músicos, artesões e funcionários desvelando suas almas criativas numa imensa confraternização que só torna o mundo um pouco melhor.

É a todos esses amigos que me parabenizaram por meu aniversário que agradeço do fundo do meu coração.

26 de abril de 2010

MEU BOM, MEU MAU

Fui um bom menino,
Ia à missa todo domingo,
Respeitava pai e mãe,
Chamava os mais velhos de Sr. E Sra.
Acatava as ordens do patrão.

Hoje sou um homem mau,
Tenho religiosidade,
Mas religiões? Nunca!
Meus pais não foram perfeitos,
Detesto patrão.
Além de tudo, fumo!
E ainda por cima, sou gordo!

NAÇÃO FUNDAMENTALISTA

Cansado de ver Tanto programa religioso na TV,
Comprei uma parabólica.
Ta certo, conheci novas e boas Tvs Públicas.
Porém, os canais religiosos se multiplicaram.
Será o Brasil no futuro uma nova nação evangélica fundamentalista?

DOCES PALAVRFAS

Eu queria ter palavras
Mas não daquelas que se perdem ao vento,
E sim daquelas que grudassem na alma
De um jeito pior do que super-bond.
Não seriam palavras que dariam IBOPE
Mas que trouxessem encanto
Que dessem bem a noção da abundância
Que o Criador colocou ao nosso dispor
Algumas dúzias de estrelas no céu já não bastariam para o nosso deleite?
Não! O Criador colocou “ilhões” delas e ainda por trás, mais uma infinidade.
Uma dúzia de tipos de peixes, três dúzias de tipos de flores, não bastariam para alegrar nossas vistas e satisfazer nosso paladar?
Não! O criador colocou uma infinidade disso e de tudo mais.
Plantas, frutos, árvores e animais que a gente usa e nem precisa usar estão aí colocado abundantemente para nosso prazer.
Se Ele veste tão bem um lírio do campo como não haveria de vestir-nos?
Pois é, eu queria ter palavras que levassem encanto aos desencantados.
Paz aos aflitos,
Cura aos doentes.
Resolução aos problemas alheios.
Mas como não sei dizer estas palavras,
Fico num canto quietinho só desejando o bem,
Às vezes, oro sem chamar a atenção.
Há muito tempo não consigo escrever nada. Mas dia 28 e 01 de abril consegui reiniciar um pouco meus escritos. Espero ter inspiração novamente e que o Criador me ajude.



No entanto, estou fazendo, pelo menos uma coisa que aguardava fazer. Trata-se de um entalhe de 14 quadros representando a via Sacra para a Igreja N. Sra. Auxiliadora. Trabalho este, que desejava e para o qual vinha me preparando. Felizmente aconteceu a encomenda.


Obrigado Meu Criador por tudo.






R. Prata

PALAVRAS INDIGNADAS




As palavras fugiram,

Levaram embora um pedaço de mim

Para que eu não as usurpasse,

Para que eu não as escravizasse,

Para que eu não as vendesse

Por anseio material.



As palavras fugiram

Porque pequei contra elas,

Porque pequei contra minha alma.

Foi imperdoável,

Usá-las para o lucro

Como um gigolô a vender sentimentos para estranhos.



R. Prata 28-03-2010

SALA DE VISITAS



Na minha sala de visitas,

O curió acorda a vida,

A orquestra incendeia a manhãzinha.

São sabiás, curiós, pica-paus,

Até canários tenores.



Na minha sala de visitas,

Revejo amigos,

Abraços fraternos,

Lembranças felizes.

A música da Cidadania

Acompanha o dia.



Na minha sala de visitas,

O show acontece,

A notícia se espalha,

O Sr. Coriolano aparece,

Tadeu proclama:

-“Só alegria!”



Na minha sala de visitas,

Passa tudo,

Passam afobados crentes,

Passam amantes,

Passam viajantes,

Inclusive turistas encantados.



Na minha sala de visitas,

Não passa boi,

Nem passa boiada.

Tem teto solar,

Poltrona de cimento,

Tapete de mosaico português.

O nome da sala

É Praça Padre Tavares.



R. Prata 01-04-2010

O QUE SOU?


No momento...

Essencialmente um artista

Preferencialmente plástico

Arte corre nas veias

Ocupa o dia de hoje

Ocupará o de amanhã

Preenche meus sonhos

Meus anseios, pensamentos, Minha vida, entretenimento

Arte é fundamental

Arte é vida

Muita lida

Arte é sorte

Será minha morte

Satisfação se puder trazer encanto,

Decepção se eu não fazê-la tanto

Arte é meu hobby, meu prazer,

Meu tesão meu amor

É no corpo, muita dor

Arte é ritmo, balanço, som, palavra, dita, esculpida, pintada.



R. Prata

ERA FÁCIL
Antigamente era fácil,
Os mauzinhos usavam farda,
Os bonzinhos usavam barba. E agora?

4 de fevereiro de 2010

A NOTÍCIA QUE NÃO SAIU NO JORNAL


No mês de janeiro, essa lembrança me aporrinhava a cabeça. Relutei demais para escrever sobre o assunto, pois não dá poesia ainda menos, boa prosa. Mas se não escrevo, nem durmo.
Em dezembro de 2009, saiu a notícia sobre os passageiros da Central do Brasil depredarem um trem – (isso já aconteceu umas poucas vezes). Nenhum passageiro foi entrevistado. O noticiário se resumiu a chamá-los de “vândalos”.
Os repórteres da TV foram abruptamente afastados pelos policias federais (específicos da Central), a pretexto de conter a “possível” rebelião dos passageiros. Interessante é que, como sempre, nem notaram a truculência dos mesmos.
Até uma rádio daqui de Avaré igualmente chamou os usuários desse famigerado trem de “vândalos”. Lógico, baseando-se no noticiário televisivo.
Liguei para a rádio e disse que se esse trem circulasse na Espanha já tinham queimado a estrada de ferro inteira etc, etc. O repórter, disse que eu ligara e, mais uma vez, repetiu que essa era uma atitude de vândalos. Fiquei fulo. Ele não falou o que eu disse.
Durante anos viajei nesse trem e, em todos esses anos escrevi para os grandes jornais reclamando de suas más condições. Nunca publicaram meus apelos. Até um dia, no qual um repórter, de tanto receber minhas cartas, respondeu-me que nunca publicariam tais fatos por causa do patrocínio do jornal. Também era desculpável, pois a abertura política mal começara no Brasil.
Pois bem, aconteceu no dia 13 de maio de 1980 às 22,40 hs. Comemorava-se no dia, a assinatura da Lei Áurea e o presidente era o Figueiredo. Morava eu, em Itaquaquecetuba quando o trem no qual viajava, após uma curva em alta velocidade, chocou-se violentamente com uma composição parada logo após a curva. Nem vi o acontecido. Uma mulher gemendo, pedia socorro e quando fui socorrê-la percebi que também não podia. Só aí, percebi que havia muitas pessoas nas mesmas condições, inclusive eu. Os ferros onde as pessoas se seguravam tinham caído e alguns estavam retorcidos, os bancos estavam fora de lugar, imagino que meu corpo havia se chocado contra uma lateral do banco de madeira.
Devo ter passado algum tempo desmaiado e precisava sair do trem. O vagão estava meio tombado e era difícil descer. Sentia uma dor tão grande que nem tinha coragem de olhar para ver o que acontecera com meu corpo.
Mesmo assim, com um esforço sobre-humano desci do trem e andei uns seis quilômetros até em casa. A esposa dissera-me que eu estava com uma protuberância gigantesca nas costas. Esperei pela melhora durante uma semana, até ter condições de ir a um médico. Esperei muito, pois nos bairros que margeiam a Central do Brasil não tem médicos ou prontos socorros.
Não sei quantos ou quem morreu, Todos os que ouvi, pelo menos, gemiam muito, outros estavam apenas caídos, sem voz e muito machucados. Esperava um ressarcimento da Central pelos meus danos. Por isso, acompanhei avidamente o noticiário da TV. O papa João Paulo II tinha sofrido um atentado dia treze, o tornado Kalamazoo atrapalhou a vida em Michigan, Lady Di namorava o príncipe Charles, Jimmy Carter tropeçara na escada do avião, a inflação galopava, corrupção, violência, analfabetismo. O mundo estava lá, menos o terrível acidente.
Não sei como recolheram os destroços em surdina, mas sei que na Central do Brasil, ninguém, ouve, ninguém vê, ninguém sabe.

Rubens Prata 04-02-2010 - 00,58 hs.
Notas:1- Na expectativa de fazer-me ouvir, ainda pintei alguns quadros, cujo tema, eram os dramas da Central do Brasil.
2 – Nas imediações da Estação de Itaquaquecetuba, aconteciam, em média, uma assassinato por semana.
3 – As pessoas, nos bairros do subúrbio dormem cedo, pois acordam de madrugada para o trabalho. Portanto, não se encontrava ninguém na rua após o acidente e devo ter chegado em casa lá pela 1 hora da madrugada.

26 de janeiro de 2010

INCONTINÊNCIA VERBAL

Hoje é 16 de Janeiro de 2010 – 11,30 hs. Raramente escrevo neste horário. Devo ter sofrido estes dias um ataque de normalidade, digo “normalidade” – entre aspas.
Faz 29 dias que operei minha vista e vou passar mais 30 dias de recuperação sem poder fazer arte. Sou um caso especial por ter uma única vista e fazendo meu tipo de arte, esparramo muita poeira prejudicial aos olhos.

Pois é:

Estou com raiva de mim.
Deixei-me contaminar com o vírus de “normalidade”,
Doença que faz o homem competir,
Em vez de solidarizar-se.
Que faz desconfiar,
Em vez de confiar.
Desacreditar
Em vez de acreditar.
É que falo pelos cotovelos.
Com um papel. É claro!
Que, humilde, tudo aceita.
Falo com o papel porque os normais.

Ah! Esses normais...
Treinados pelo ensino dirigido,
Hipnotizados pela mídia,
Iludidos pela sociedade do consumo
Estão muito ocupados.

Estou com raiva de mim,
Pois, deixei de ser louco.
A demorada convalescença,
O marasmo criativo,
Desesperou-me,
E, desespero é coisa de normal.

Pus-me a competir,
Como um animal novo a demarcar território.
Exatamente como os normais fazem.
Epa! Esse espaço é meu. Ninguém tasca!
Desmanchei meu diário com inúmeras notas
Para separar poemas como se fosse editar um livro.
Que obscena e inútil corrida!
Esqueci-me que o universo conspira a favor dos doidos.
Esqueci-me que um “lírio do campo” como ensinava o Mestre, jamais poderia vestir-se e transvestir-se tão ricamente como um ser humano.
Esqueci-me que os normais não ouvem, não vêem, não sentem.
Estão ocupados demais com a fazendinha virtual, o big-brothers, o fim do Zebedeu à bala perdida, a traição do cônjuge, o prato de amanhã.

Estou com raiva de mim,
Aporrinhei meus amigos
Com desejos normais,
Com incontinências verbais.
Estou com raiva de mim,
Desculpem-me todos,
Vou tomar tento,
Ficar logo, muito loucooooo!

Rubens Prata 16/01/09

CELEBRIDADES

Não quero viajar num disco voador,
Nem conhecer o espaço sideral.
Cá na Terra, a vida está repleta de sabor.
Meus inimigos, não estão no poder.
Quanto aos corruptos,
Um dia, vão sofrer.
Meus amigos, não morrem de overdose.
Eles cobrem as casas,
Iluminam os lares,
Dirigem caminhões,
Trazem alimentos para mesa,
Atendem o público nas suas necessidades,
Iluminam os ares.
Minhas celebridades,
Não estão na tv.
Estão bem perto,
No melhor da vida,
No meu cotidiano.

Rubens Prata – 04/01/09

{ POEMA DO NADA }

Há dias fico remoendo
Um sonho bem caro,
Escrever perfeito e claro,
Um poema,
Sem tema,
Que fale do nada,
Do nada absoluto,
E mesmo assim,
Sem ficar mudo,
Contando tudo
De um jeito resoluto,
Daquilo que é nada,
O nada com o qual eu luto.
É preciso ser Deus
Para tirar do nada
Um dia claro.
É preciso ser
Muita coisa:
Vinícius, Neruda, Camões
E todos os leões
Da palavra
Para extrair do nada,
Palavras iluminadas
Que exprimam com perfeição
O impropositado nada.

Rubens Prata 30/12/09

A NOITE DO MEU BEM,

Na intimidade do quarto,
Velo por ti.

A obscuridade quase não consente
A contemplação do seu rosto,
Cuja idade, só eterniza os traços de uma Angélica criança.
Rezo por ti.

Certifico-me que cada coisa esteja em seu devido lugar
Temperatura do corpo, suor, respiração.
Amo a ti.

Rememoro nossas aventuras,
Intimidades,
Cumplicidades.
Sei que a amo,
Sei que me amas
Como ninguém,
Sei que por mim, de tudo és capaz.

Adormeces em meus braços e,
Daqui a pouco toda poesia anoitecerá também
E quando, de novo, o Sol travestido de alegria dourada incendiar de luz sua face,
Nossa poesia renascerá - meu bem.

Rubens Prata 14/12/09 – 23 horas

CHUVAS

Chove chuva,
Chove sem parar.

Chove chuva,
Eu não vou reclamar.

Chove chuva,
Faz de novo a árvore brotar.

Chove chuva,
Limpa bem o ar,

Chove Chuva,
Lave tudo que o homem sujar.

Chove chuva serena,
Vem regar as plantas terrenas,
Colocar tudo em seu devido lugar.

Vendeta da Terra chegou,
Enchente em todo lugar,
Muito morro desabou,
Para mostrar ao homem
Quanta coisa ele errou.
O rio que assoreou,
O ar que contaminou.

Venta um vento arretado,
Arranca da Terra
A semente do mal plantado
Vingança do ar violado,
Justiça de um planeta roubado.


Rubens Prata 08/12/09

TEMPO CURTO

Já sofri de muita revolução,
Hoje que a idade chegou,
Sou mais novo do que fui.
Pouca coisa me abala,
Já sofri todos os vexames,
Enfrentei até tiro de bala. Sou artista com certeza,
O tempo para mim é sempre curto
Para tanta coisa que quero criar e “curto”.
Meu amor não é pelo dinheiro,
Penso em arte o tempo inteiro.

Correr atrás da fama eu não vou
Trabalhar até extenuar a última força,
Do último minuto, do meu último dia.
É tudo que espero fazer.

Que o Criador me proteja até lá.

Rubens Prata 9/12/09

SÓ AMOR

Amor não tem que se acabar
Amor é como flor
Tem que se regar
Deve estar exposto a um Sol de paixão
Sempre iluminado
Com carícia, beijo e muita emoção.
Deve ser adubado,
Com nutrientes de palavras
Que digam:
Eu te amo,
Durma bem. Querida!
Há que ser bem tratado
Com leite bem quentinho
E pão esquentado
Servido na cama
Tudo misturado
Com palavras meigas
Bem adoçadas.

Rubens Prata 12/12/09

TODA UMA VIDA

Todos os anos
Todos os sonhos
Todas as noites
Todos os beijos
Todos os pecados
Não tem como desamarrar
Tanta cumplicidade.

Todos os fatos
Todos os atos
Todos os tratos
Não tem como não desabrochar
Tanto amor, todo cuidado.

Todos os tempos
Sempre juntos
Não tem como evitar
Todos os filhos
Todos os netos
E, um amor eterno.

Rubens Prata 11/12/09
PROSPERIDADE?
Acontecerá quando uma lata de lixo ficar muito cheia,
Quando seu carrão importado, a diesel, soltar bastante gás carbônico,
Quando sua conta de luz e água for bastante alta,
Quando você não souber como descartar seu PC,
Quando não conseguir se livrar do seu celular
??????

Rubens Prata 07/12/09

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Enfim, mais uns dias se passaram, recapitulei aqui os novos pensamentos da semana. O interessante é que percebi, mais uma vez, que o universo conspira mesmo sempre a nosso favor realizando nossas aspirações. Pois desejei escrever com extrema simplicidade e realmente consegui simplificar minhas pequenas notas e pensamentos. Até cheguei a ser mesmo um grande caipirão.
Digo notas e pensamentos, porque realmente nunca aprendi poesia de fato. Digo mesmo que são estes escritos, meu besteirol diário. São pequenas observações de uma vida comum e em comum com muita prole.

Rubens Prata 12/12/09 às 22 horas


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OLHAR INSUBORDINADO

No metrô de N.Y., o jovem músico,
Durante o dia inteiro,
Interpretou ao violino, sublime música.
Nnguém parou para ouví-lo.
Há noite, no teatro, milhares de pessoas pagaram $150,00 para assisti-lo.
O jovem era considerado o maior violinista do mundo.
O violino era um Stradivarius.
Seria por cau sa do rótulo?

Num asilo,
Um velho decrepto,
Cobiça em sonho
A enfermeira formosa.

No farol,
O menino instiga o motorista.
Com frutas na mão.
- Compra laranja “doto”!
No quarteirão,
O Mac Donalds
Abre mais um novo salão.

Na TV,
A mulher exuberante diz:
- Não são de silicone meus seios!
Na pobre casa,
A mulher magra,
Não tem leite para seu bebê feio.

Na academia, exercita-se
A mulher do Banqueiro.
Nas ruas,
Um atleta corre o dia inteiro.
É o lixeiro.

Rubens Prata – 04-01-09
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Eu sou do tamanho daquilo que vejo e sinto e não do tamanho da minha altura.
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REGRAS IMPRESCINDÍVEIS PARA UM CAPITALISTA VENCEDOR

Se você é empresário, industrial, trabalhe no mínimo 18 horas por dia.
O lucro, a qualquer custo, deverá ser sempre a meta principal. Recuse dar remunerações acima do mínimo possível.
Descubra a maneira de burlar a lei, para pagar menos imposto.
Se desejar realizar uma obra altamente lucrativa, ficará mais fácil corrompendo algum político.
Seja criativo. A concorrência pode lhe passar a perna.
Recicle-se semanalmente.
Invente mensalmente alguma coisa nova, mesmo que não tenha como e o que inventar, pois sua empresa morrerá sem inovar-se.
Não seja nem gordo, nem magro demais, pois o visual pode ser bom para os negócios.
Dê festas e sorria sempre, até para os imbecis.
Não fume, beba só socialmente, porque pode causar má impressão aos clientes. Além do mais, pra que tanto lucro se você vai morrer de câncer logo-logo.
Não transe muito. Você pode ganhar um aspecto cansado, ou ser confundido com um viciado sexual.
Elimine a norma anterior, porque se você trabalhar 18 horas por dia, reciclar-se constantemente, inventar mensalmente você também não transará mais.
Use os meios de comunicação para provocar insatisfação no maior número de pessoas possíveis. Pois o desenvolvimento de sua empresa depende da insatisfação crônica de todo mundo para empurrar o consumo de seus produtos.

O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO DEPENDE DA ANSIEDADE PELO DESEJADO E NÃO PELO NECESSÁRIO.

Agora, se você for banqueiro, basta confiar no Banco Central que ele fará tudo por você.

Rubens Prata – 02-11-09

A SAGA DE UM NAVEGANTE

A SAGA DE UM NAVEGANTE

Capítulo: 1

Desejava fazer um blogue para comunicar-me diariamente com amigos. Mas além de ser inexperiente no assunto, estou incluso nesta modernidade capenga da era da comunicação que dia falha e outro também.

Pois é, há trinta dias, dedico horas preciosas para mandar recados aos amigos e... Nada.

É verdade, o fim do mundo chegou. Se não morrermos de bala perdida, trânsito estagnado, efeito estufa. Faleceremos de mal de orkut.

Para começar, tem as senhas, senha para o banco, o
MSN, o orkut, o site, o twitter etc.

Bem, o negócio é mais em cima, começa lá na tal da conexão, quando se acessa o discador e vem o recado malfadado dizendo que tem cabo solto.
Após verificação minuciosa... Nada.

Aparecem os códigos do por que você não conecta. Você retorna aos procedimentos para sanar as dificuldades. Anota tudo, com todo cuidado para não errar, executa a tarefa e... Nada.

Como somos brasileiros e brasileiros não desiste nunca, abrimos o programa, executamos novos procedimentos. As horas passam e... Nada.

Você liga para a Itelefonica, espera, passa por muitos, finalmente anota o número do código da reclamação e... Nada.

Depois de trinta dias atarefado, você conclui que seu computador está mesmo é com vírus. Vírus de pobre, é lógico, já que seu PC só tem 248 MB e a banda é estreitíssima, para economizar.

Claro, desistir é para os fracos. Então, você pega seu CPU, leva ao técnico e se tudo der certo e não precisar voltar, teremos pelo menos, mais uma semana, quem sabe, de grata e satisfatória comunicação.

É claro, comunicação esta, sem vídeos, já que eles não cabem na sua banda pobre.

Enfim, nesse ínterim, a gente já perdeu muito serviço, não fez mais sexo, discutiu com o cônjuge e, quem sabe, não foi morar com os anjos.

Ah! Seja bem-vindo à nova era da comunicação.


PS. Não percam o capítulo: 2. Se não estiver satisfeito, você poderá se “instruir”, fazendo cursos de Hardware, Software...

PS. Capítulo: 3. Esqueci dos Celulares, do micro-ondas, da super-máquina de lavar, do mecânico...

Rubens Prata
O internauta solitário

SEMENTES DE NATAL

Neste Natal...
Não há como não pensar nos compromissos na vida, na posteridade.
Tenhamos dias felizes ou difíceis,
Não há como não considerar,
O aparato colocado pelo Criador
A nosso dispor.
Portanto, desejo a todos um maravilhoso Natal.
Que o usufruto do planeta,
Seja também para nossos filhos e netos.
Que tenhamos ano novo próspero,
Não exatamente de consumo, mas de consciência, de saúde, de alegria.
Que aprendamos a reciclar, não só lixo,
Mas sementes.
Sim. Sementes!
Pois as sementes jogadas da janela de um trem, um dia florescerão o caminho de nossos filhos.
Semente de laranja, já tive a experiência, as formigas comem fácil.
Mas sementes de abacate, manga, tamarindo, palmeira, paineira, mamão, ypê, brotam rápido e fácil.
Sempre haverá um jardim, mesmo público, um ilha, um terreno baldio, uma cerca a beira da estrada onde plantar esta nova vida.
Aliás, neste natal, se há um consumo pelo menos, aceitável talvez seja uma bicicleta.
Poluiria nada, economizaria combustível. Melhoraria, com certeza, a saúde do ciclista.
Uma bicicleta para ir ao trabalho, às aulas, ao mercado, a padaria e, principalmente passear pelos campos com o neto esparramando sementes no ar.
É o que desejo a todos os meus amigos.

Um abraço fraterno

Rubens Prata

NATAL

Hoje é dia de Natal.
O verão começou a duas luas.
Umas poucas flores nos vasos insistem em alegrar a vida.
Meu espírito anda arrefecido,
Talvez pela falta de rosas no jardim da calçada, a ausência de flores no Ypê amarelo do vizinho.
Atormentado, inclusive, pelo som
grosseiro vagando no ar - irradiado a milhares de watts pelo vizinho.
Na TV, aquele desfile de filmes de papai Noel repetidos anualmente.
Os shows escandalosos. A promessa da retrospectiva de fatos que a gente não deseja lembrar.

Meus sentidos violentados não ousam
Nem um pequeno ensaio de enlevo
Com o bom, o belo, o poético, o Aniversariante.
Este é mais um Natal “Fast-Foode”.

Mas enfim, é natal, o espírito – não do homem de vermelho – mas o do Cristo prevalece.
O som grotesco que invadia o ar é desligado.
Parte dos parentes chega, a refeição é saborosíssima, a conversa alegre. A sobremesa então, uma festa para o paladar.
A inspiração retorna e recomeço este diário por este tema.

Enfim, é natal e, espera-se paz aos homens de boa vontade.

Rubens Prata – 25/12/09

EU NÃO POSSO SER PRESIDENTE

A noite é quente,
A lua, provavelmente cheia,
E eu, como sempre, insone,
Querendo falar a toda gente:
Não posso ser presidente.
O Arnaldo Jabor,
Chamar-me-ia de psicopata.
Não vim da elite.
Que um raio o parta.

Minha parede não ostenta Diploma,
Em coisa nenhuma sou bacharel.
No rádio, uma canção da Madona,
Desejo ser apenas um menestrel
A vagar por aí,
Cantando em Avaré ou em Roma.

A noite é quente,
Viajo, canto, recito,
Tomo iogurte,
Ponho em dia,
A conversa no orkut.

Não fico restrito
A nenhum recinto.
Pelas palavras indígenas,
Antevejo, do mundo, um fim em 2012,
Caminho entre as naves prateadas alienígenas
Vou a Paris. Eu não minto.

É. Eu não posso ser presidente.

Rubens Prata 19-11-09 às 0,20 hs.

BRINCAR DE VIVER

Dizem por aí,
Que estou assim
Ou assado.
Muito pelo contrário,
Só de idade um pouco passado.
Mas, a alma, continua criança
A distrair-se lúdica
Brincando de desenhar,
Esculpindo idéias,
A entalhar,
Caçando passarinhos
Armado de uma máquina fotográfica,
A escrever
Sem importar-se
Se tem alguém para ler,


De vez em quando,
A brincadeira rende uns trocos.
Afinal. Toda criança, de dinheiro,
Precisa um pouco.
Com certeza,
O Criador protege os loucos,
As crianças.

Rubens Prata – 02-11-09

AVIDA É ASSIM

A vida é assim:
Termina o ano,
Entra novo ano.
O melhor de tudo
É o cotidiano.
Eu te levo café na cama,
Noutro dia você me ama.

A vida é assim:
Fui feito para você,
Você feita para mim.
Amor avalizado pelo tempo,
Nunca vai ter um fim.

Pão para ser gostoso,
Tem que ser esquentado.
Vida para ser gostosa,
Tem que ter cuidado.

Você faz a janta apressada,
Eu, com desenho atarefado.
Você deita cansada,
Fico a seu lado acordado,
Velando seu estado.

Meia noite,
Sirvo-te dois comprimidos receitados,
Leite com carinho esquentado,
Pão quentinho bem recheado.

A vida é assim:
Feita com carinho e cuidado.

Rubens Prata - 30 – 10 – 09