29 de março de 2011

OPZ!

Despenquei a falar
Não sei de quê
Não sei por quê?
Despenquei a falar
Sem beira,
Sem eira,
Não sei porque
Falo sem estribeira
Asneira
Minha mãe morreu ontem
Não sei o porquê
Falo besteira
Sem ponto nem vírgula
Sobre o que não tem palavras
Das lágrimas que não produzem águas
Das poucas e pequenas mágoas
A vida não é brincadeira
Morte, alegria, tristeza
São a sina verdadeira
A vida é uma luta
Ninguém me escuta
Meu Deus me acuda
Não sei se é um RAP
Mais sei que o duro
É que Homem maduro
É sempre um doente
Esperando a morte chegar
Esperando a morte chegar
R . Prata

Espelho, espelho meu.
Existiria alguém mais egocêntrico do que eu?
R. Prata
Trago dentro de mim
Um montão de histórias para contar
Das viagens que pensei em fazer
Das aventuras que não realizei
Das paisagens que observei
Da janela do meu ateliê
Das lutas que não lutei
Das mulheres que não amei
Dos livros que nunca li.

Traga dentro de mim
Um montão de histórias
E, por mais que já as tenha contado
Nunca terão fim
E embora sempre novas
Serão sempre só pedaços de mim.
R. Prata

Tenho palavras esquentando no forno
Espero que logo fiquem prontas
Com temperos de versos e recheios de amor.

Tudo. Apenas faço
Não penso no lucro. Apenas faço
Faço porque quero
Faço porque amo
Faço porque sou menino a brincar
Faço porque me deslumbro
Faço porque encanto
Faço porque sou louco,
Anarquista, anormal.
Apenas faço, sem pensar na vantagem.
O resto...
O Criador faz por mim.
R. Prata

Amor, amor, amor.
O ápice da realização humana.
R. Prata

CANTO


Nessa hora do planeta
Na penumbra
Um voz canta
Canta um canto diferente
Canta um canto mudo
Para o insensível
Um canto doce
Para o apaixonado
Um canto de coragem
Para o exausto
Um canto de silêncio
No compasso do meu coração
Um canto explosão
Retido nas profundezas da alma
Um canto  triste que:
Não sai, não sai, não sai...
R. Prata

24 de março de 2011

Escultura realizada por Rubens Prata
A estética é ainda mais importante que a ética na formação de uma criança.
Dizia Oscar Wild

 Sem estética vc não produz seres com todas as suas possibilidades, emocionais, afetivas, intelectuais.


UM DIAMANTE AZUL NA IMENSIDÃO DO UNIVERSO
Um privilégio agradável  do século vinte e um é receber E-mails bem humorados, trazendo imagens dos lugares mais lindos do planeta, artes plásticas, o capricho de certos homens; acompanhados de maravilhosa música de artistas fora da mídia.
São detalhes que escapam ao interesse comercial, aos desejos de nivelar por baixo a raça humana.
.
Vê-los com encanto e discernimento leva-nos a concluir que o paraíso é mesmo aqui, a começar pela imagem da Terra no espaço – um diamante azul na imensidão do universo. Afinal, se o Criador pôde vestir tão bem um simples lírio do campo o que não daria aos homens?

Para vivermos bem, bastariam poucas coisas como: gado, galinha e para variar um pouco, três tipos de peixes, algumas hortaliças, três tipos de frutas. Para alegrar nossa vista, uma dúzia de estrelas, uns pássaros pelo céu. Mas não! O Criador fez questão de dar-nos variedade extrema, abundância infinita, beleza a perder de vista.

Infelizmente – sugestionados pelos grandes conglomerados industriais – o ser humano só tem olhos para o consumo. Para o ter e não para a vida. Não é de se estranhar tanta competição, ansiedade, deseducação, violência, corrupção.

O ser humano é lindo e também co-criador de maravilhas nesse território terráqueo, mas é equivocado em relação ao propósito da existência humana, é equivocado em relação aos reais valores da vida. Esses equívocos não são por acaso, resultam da construção de uma sociedade mercantilista que vem sendo montada a séculos somadas a uma proposital e crescente instituição da ignorância.

Como se não bastasse, no fim da guerra, grandes grupos empresarias – com assessoria muito competente – combinaram que para a produção continuar a crescer dever-se-ia estimular o consumo e produzir bens cada vez mais descartáveis. Assim a produção se perpetuaria a fabricar cada vez mais novos produtos. Nem mesmo se cogitou, de melhorar a educação, a saúde, o saneamento, a moradia. Muito menos de se criar uma sociedade sustentável.

Está certo, as imperfeições da natureza humana pioram esse paraíso terrestre, mas esse equívoco da produção & trabalho multiplicam tais imperfeições ao infinito.

R. Prata
OBS: Não coloquei fontes, e mais detalhes para não esticar em demasia o assunto que já é bastante cansativo. Mas espero provocar reflexões produtoras de melhores caminhos para existência de todos nós.
É mais eficaz uma hora no bosque do que uma hora no psicanalista
O padeiro retira uma fornada
O aroma do pão no ar
Abre o apetite do bairro
O leiteiro traz o leite
Ainda quentinho da fazenda
A professora ministra a aula
A Dona da casa
Prepara o almoço
Com temperos de carinho
Manjericão, salsa, cebolinha, alho
Eles não têm títulos
Não possuem fortunas
Nem pleiteiam posição de poder
Mas cumprem o propósito da vida

R. Prata
A chuva despenca desesperada
A árvore de braços abertos agradece
O campo veste-se de verde
O rio engorda
R. Prata

O PARAÍSO É AQUI

Por do Sol na represa em Avaré
Nunca parti
Do pedaço que escolhi
Quando era novo
O medo
Não me deixava sair daqui

Agora velho
Cheio de fé e coragem
Por causa da saúde
Continuo por aqui

Vejo as fotos
Dos lugares do mundo
Convenço-me
O paraíso é a Terra

O tempo mostrou-me
As vidas que não vivi
Mas o que importa
Se as rosas desabrocham
Na minha porta

O que importa
Quando o Sol adormece na minha janela
As maritacas
Reclamam de boca torta

O tempo mostrou-me
O dourado ipê do vizinho
O amor do neto pequenino
O paraíso que existe a nossa volta
 Certos homens constroem templos
Paras chegarem a Deus
Outros – os poetas – com tristeza, alegria, ou loucura,
Estão em Deus.
R. Prata

ÁGUAS DE MARÇO

A vontade vai embora
Nas águas de março
Com céu cinzento
O espírito nublado
Nada faço
Mas bastou
Um tostão de azul
Para por fim
Ao meu asco
Para parar
O rio no asfalto
Para animar-me
A caminhar de novo
A trabalhar horas com gosto
A sonhar com o novo
Foi só uma pincelada de azul no céu
Para dar um pouco de cor a minha alma
Obrigado Senhor

10 de março de 2011

“Perdoe-me se não podes me conhecer. Nem mesmo eu me conheço.”
R. Prata
LUCUBRAÇÕES DE UM NOTÍVAGO

É madrugada,
O pensamento pulula
A mente varia
Invade a alma
Um universo
Conto, crônica,
Prosa ou verso?

Não tenho tema fixo
Nenhuma consistência
Falta-me existência
Não durmo
E a cabeça?

Falta-me meditação
Um pouco de ação
O mundo é bonito
Mas o homem o faz feio
Sinal dos tempos?

Cultuam o corpo
Nunca o caráter
O programa é sexo
O valor é consumo
Nada tem nexo
Ninguém entra no prumo
A humanidade
Perdeu o rumo?

Calvino está a solta
A igreja valoriza a riqueza
O negócio é na “moita”
O culto é exterior
Onde está o amor ao próximo?

Nada é consistente
A droga prolifera
Amor não é tão resistente
Os homens
Tornaram-se fera?

Criança não brinca mais na rua
Mulher mesmo, é bom nua
Tomo um banho de lua
O fulano responde:
É a tua!

O pensamento não se ordena
Minha mãe está na cama
Virou vegetal
A consciência me condena
E coisa e tal

A insônia é um problema
To ficando louco
Qualquer dia eu morro
A vida passa num sopro

Não consigo me ater a um só tema
Minha ânsia é extrema
Escrevo, pinto, esculpo?
Aboliram o trema?
E bla, blá, blá.

R. Prata - (Sempre louco)
P.S. Olha! Esse tema já entupiu o saco e todo mundo já o conhece. Penso mesmo, que nada novo consigo escrever.
“Quase ninguém entende quando pensa que entende. Só se entende mesmo, quando são os olhos da alma que vêem e ouvem”
R. Prata

O BELZEBU DA CENTRAL DO BRASIL

É lá na Central do Brasil que os fatos ocorrem e ninguém fica sabendo. Lá o rapaz pratica surf em cima do trem, o pastor prega e recolhe o dízimo, o menino vende balas de goma, o pagode esquenta.

Pois é, lá o crime acontece e o Belzebu aparece.

Às vezes, um capeta vestido a caráter, com cavanhaque, chapéu coco, terno, gravata, botas tudo vermelho vinha mancando e rosnando como besta pelos trilhos.

De vez em sempre aparecia o outro; o Belzebu do vagão. Este era o pior, escolhia uma garota nova, encoxava e bulinava até fazê-la desmaiar. Todo mundo se sentia mal, mas ninguém se atrevia. Ele era grande e forte como cabia a um verdadeiro diabo, cheirava a enxofre, sua voz alta, grosseira, dava a sensação que ressoava das profundezas do inferno, era estúpido e ameaçador como o “coisa ruim”.

O Trem sempre lotado cheirava a misturas de urina, suores, desodorantes baratos, comida azeda. Podia ver-se a sujeira esparramada por todo lado, inclusive fezes reais. As pessoas viajavam apertadas ao extremo e de vez em quando, uma marmita amassava e entornava o caldo sobre outra pessoa. Atrasos, briga, gritaria, discussão sempre foram o cotidiano desse transporte.

Evitando a presença do Belzebu, tanto homens como mulheres, procuravam outro vagão ou até mesmo esperavam o próximo trem.

O tempo passava e esse inferno continuava na Central do Brasil, até quando, o Belzebu sumiu. Cogitou-se que uma gang o matara, ou um “rambo” sumira com ele, pensou-se até que as rezas do pastor o fizeram desaparecer. Mas qual nada, fora apenas uma pequena costureira, mãe de uma jovem molestada, que após retalhar o rosto do maldito com uma gilete, o recortou com sua tesoura.

Ah! Mulheres...
Como é bom tê-las para nossa proteção!

P.S. Apesar de o Belzebu sumir a Central do Brasil continua a mesma coisa.

R. Prata
“Se você me achar um cara meio estranho, me aceite assim mesmo. Até eu tive que me aceitar.”
R. Prata
O Sol levanta na cabeceira da minha rua
Radiante
Incendeia o dia
Os operários ressurgem
As fábricas acordam
Sirenes anunciam a hora
A vida acorda no bairro Jardim Paineiras.
R. Prata
“Música?
Música é imprescindível!.”
R. Prata

QUANDO O SOL ADORMECE














O Sol adormece no pé da rua
Nada tão sublime e íntimo.
À noite, a Lua me agasalha
E eu, sonhando com as luzes do entardecer,
Acordo,
Transcendo,
Procuro a palavra chave,
A senha da alma,
O sentimento profundo.
Palmilho versos,
Garimpo vocábulos,
Abstraio metáforas.
Astros nublados pipocam
No céu de minha alma,
Percorro as sílabas
Uma a uma.
Que a Lua conceda-me
No labirinto das palavras
A frase perfeita;
Como quem responde ao apelo do espírito,
Como quem viaja nas profundezas da alma,
Como quem salta ao infinito universo,
Como quem fica suspenso nas estrelas,
Na cadência do universo.
R. Prata
“Viver realmente é quando tudo o que se faz é proveniente das profundezas da alma.”
R. Prata/

A epidemia que estressa
A epidemia que destrata
A epidemia que adoece
A epidemia que separa
A epidemia que esmaga
A epidemia que mata
A epidemia que vicia
A epidemia que empobrece
A epidemia que escraviza
Tem nome:
CONSUMISMO

 

2 de março de 2011

“A gente pensa que sabe muito, mas quem poderia dizer-me que conhece sua própria alma? Por mais que eu tente, não consigo conhecer realmente o que é minha alma!”
R. Prata
Cá estou como sempre só
Abraçados eu e a noite
Companheira de sonhos
Que volitam no ar
Desejos de realizar
A arte de amanha
A palavra certeira
A música que encanta

Cá estou eu
Fumaça de cigarro
Tela de computador
Música suave
Palavra vadia
Silêncio noturno

Cá estou eu
A velar o sono dos meus
Amor transbordante
Respostas mudas
Desejos de amar

Cá estou eu
Palavras pensadas
A noite vazia
Solidão absoluta
Esperando uma permuta
De abraços
Beijos
Sôfregos de amor sobejante.

R. Prata
“Aprender, Entender, é sempre limitado. Sentir sim, é sublime.”
R. Prata

SEU JOÃO - “EM NOME DE JESUIS”

Religião, hoje em dia, está muito em voga. Parece moda do século vinte e um. Haja vista, a pregação televisiva, os Gospels, a proliferação de igrejas com seus neófitos.

Digo religião e não solidariedade, honestidade, honra, ética, respeito, compromisso. Esses princípios, por incrível que pareça, ficaram totalmente démodé. Com perdão da palavra antiga.

Diz-se até que fulano é de determinada religião, para confirmar sua honestidade. Quem não se lembra da campanha política, onde um dos candidatos se denominava: “do bem”.

Nunca esqueço de quando resolvi ampliar a casa, contratei um pedreiro religiosíssimo sem pechinchar, pois respeito o trabalho alheio. Cada duas palavras faladas colocava o nome de Jesus no meio. Aliás,“Jesuis”. Era educado e exaltava sempre as palestras do pastor. Fazia tudo em nome de Jesus. - Se Jesus quiser seu Rubens. - Fique com Deus seu Rubens . – Deus te abençoe seu Rubens. – Pode deixar, Jesus está com a gente seu Rubens. E assim, Jesus estava na boca dele diariamente.

Confiante nesse religioso, e para não atrasar a obra comprei todo o material para a construção antecipadamente.
Trabalhava todos os dias até 23 ou 24 horas para prover em dia o pagamento desse atencioso cristão. É lógico, no escuro da noite, via alguma coisa que não fora bem feito, mas...
Perdoar é divino! Principalmente quando não se tem dinheiro para comprar novamente o mesmo material.

Obra terminada à dois meses, tudo pago, podíamos dizer que nossa casa era como um hotel de mais de cinco estrelas. Pois, pelos rachos abertos na parede podíamos deitar olhando a Lua e muitas outras estrelas.

Tínhamos também duchas e sprinklers instaladas em vários cômodos da casa. A água esguichava pelos fios e globos das lâmpadas explodindo-as toda vez que chovia.

O bom mesmo era não precisar de despertador, porque o Sol brilhando cedinho pelas frestas criadas em nossa morada despertava-nos antes da hora de ir para o trabalho.

Mais tarde, soube que o referido profissional levava embora tudo o que podia até arrastou os ferros de minha construção pela cidade presos ao seu fusquinha. Terminara rápida a construção porque tinha proposta alvissareira para fazer um grande muro. Para ir embora depressa jogou os paus em cima da casa e esparramou as telhas sobre eles sem nenhum cuidado.

Durante um bom tempo refleti sobre as recompensas que teriam pessoas assim e, amargurado demais, deixei a casa por muitos anos até quando novamente pude juntar um bom dinheiro para consertá-la.

P.S. Seu João construiu um boteco para ele com o material levado de minha casa.
“Não se pode recriminar o fato de se estar triste. Pois, às vezes, é exatamente a tristeza a inspiradora dos melhores poemas, músicas ou peças de arte.”
R. Prata

A ILHA

Há anos, ciente de não ter mais todo o tempo do mundo, decidi só viver o melhor que o mundo teria a oferecer-me.

Precavido, mantive minha centena de long-plays. Vieram os CDs, DVDs, Pen-Drivers. Nenhuma destas novidades reproduzia as melhores orquestras, os grandes intérpretes e bons compositores. Como se não bastasse, o som dessa modernidade dita: “perfeita” parecia ressoar numa caixa de plástico.

Pois é, nada como o encanto dos velhos vinis ecoando numa antiga vitrola. O único incoveniente é trocar o disco toda hora.

Mas, qual a relação da música com viver o melhor que o mundo tem a oferecer?

Bom, música é imprescindível, influencia nosso estado de humor e sendo eu um escultor, uso orquestradas no ato da criação, rock e blues durante a elaboração da obra a ponto do ritmo marcar o compasso e a velocidade do bater do meu macete nas goivas (instrumentos de trabalho) e durante o prazer da lida, sobram minutos para ensaiar uns passinhos de dança.

É lógico, neste planeta, não há como evitar, vez ou outra, situações indesejáveis e nem a música resolve nossos problemas.

Quem desejar viver o melhor do mundo, há de se munir de muita atitude e apetrechos apropriados.

Se não tiver dinheiro para comprar uma ilha particular deverá construir a sua própria, esteja onde estiver. O que sai mais em conta é fazer da própria casa uma ilha.

É natural, cada um muda de atitude como melhor lhe convém.

No meu caso, afastei-me irremediavelmente de todo político de plantão, de pessoas dadas ao exagero na bebida, Aperfeiçoei-me em dizer não, fugi dos religiosos, aproximei-me mais dos amigos solidários. Desobriguei-me dos horários e haja o que houver, os compromissos esperarão enquanto me delicio com todos os por do sol pelo resto da vida. No mínimo, banhar-me-ei na Jurumirim uma vez por semana. Cerveja será bem vinda nos momentos oportunos.

Um ato difícil foi aposentar a TV aberta com tudo que ela tem de “bom” como: o desfile ininterrupto de marginais e corruptos, o oportunismo dos religiosos ocupando vários canais, as “celebridades”, os heróis vampiros, os heróis do Bial que tem “muito a dizer” no big-brother e suas respectivas companheiras curvilíneas, a música “maravilhosa”, o exibicionismo de certos apresentadores entre outras coisas.

Agora o apetrecho indispensável para qualquer possuidor de uma ilha é um PC com muitos gigas, uma banda bem larga e com as caixas de som trocadas por outras bem melhores.

Pasmem, pela internet você encontra rádio para o mais refinado ouvido, milhões de bons músicos jamais mostrados pela mídia do consumo, livros, os melhores artistas plásticos, os poetas e pessoas que sempre desejamos conhecer. Através dela faço pesquisas, escolho programas e filmes, ainda recebo lindas mensagens ilustradas com slides incríveis.

Penso que finalmente, agora posso desocupar o espaço dos meus queridos discos.

R. Prata

25 de fevereiro de 2011

“Não espero verdade absoluta. Mesmo porque a inferioridade humana não é capaz de abrangê-la.”

SEM PROBLEMAS

Venha ver o por do sol.
Mas, sem os problemas que o dia esqueceu.
Venha
Sem compromissos noturnos,
O amanha a Deus pertence.
Sinta o entardecer
Desarmada,
Sem reservas,
Sem remorsos por aquilo que não fez
Hoje,
Ontem,
No passado.
Esqueça-se,
Seja só alma.
Abebere-se do amarelo
Que estampa a rua,
As casas,
O seu semblante.
É vida,
É luz,
É saúde,
É beleza,
É encanto,
É a criação,
É o Criador.
Nada repara tanto
Nada tão inspirador.
Não é mesmo?
Pois é,
Nem só de Lua vive um poeta.
“Meus pais, acho, planejaram uma vida para mim. Mas na verdade, alienaram-me de mim.”

SÓ QUERO VOAR NAS ASAS DE UMA ÁGUIA

Não quero a voz plena da razão
Mas o brilho nas profundezas da alma.
Não quero discussões acadêmicas
Mas o perfume do jasmim
Não quero especialista a mostrar-me o caminho
Mas caminhar com um índio Sioux
Não quero a fórmula descrita pelo professor
Mas enxergar a forma real do mundo das formas de Platão
Não quero viajar para Disney Word
Mas voar na alma de uma águia
“Simplicidade é uma conquista aflorada através do trabalho constante, experiência e exercício da alma.”
Há tempos venho me desconstruindo
Arrancando ervas daninhas
Tirando os tabus da minha geração
O medo que os pais me incutiram
O inferno que a religião me propôs
A rigidez que me impus
Os “Tenho que”.

“Arte? Arte é fundamental!”

POUCAS COISAS BASTAM PARA MIM

Não sou consumista,
Poucas coisas bastam para mim,
Nenhum bem material em vista,
Só desejo banhar-me na Jurumirim.

Poucas coisas bastam para mim,
Uma bermuda surrada,
Poucas rosas no jardim,
Boa música, bem cantada.

Poucas coisas bastam para mim,
Um Deus te abençoe meu neto,
Um aroma de jasmim,
Um amigo sempre por perto.

Com Deus, tenho uma aliança.
O beijo da amada,
O carinho da criança,
Um bom prato com salada.

Tenho tudo o que quero,
As goivas, o tronco virgem.
Só saúde eu espero
Para lavrar no tronco a bela imagem.
“Minha força, minha motivação para a vida provém do amor. Do amor pela Arte, do amor por pessoas.”

PERDI MEU POEMA

Já faz muito tempo,
Perdi meu poema
Agora, de alma vazia,
Vivo um problema,
Encontro eu a palavra
Que ponha fim a esse dilema?
O meu poema anda por aí,
Aposentado,
A vadiar com a brisa de Avaré.
Adormecido,
No ventre de um tronco de grevilha,
Esperando que eu retire dele
Encantadora musa.
Talvez, só talvez...
Volte quando a rosa da calçada desabrochar,
O Ipê amarelo do vizinho florir,
Quando a chuva parar,
O Sol surgir,
Talvez, só talvez...
“Eu me entrego, me rendo à arte nascida do fundo da alma, quando brota da madeira”

VENHAM

Venham as estrelas,
Tragam-me sonhos estelares,
Vem Lua clara iluminar minha alma,
Vem abundância da natureza,
Traga-me mil palavras com beleza
Vem lembranças,
Tragam-me os sonhos de criança,
A curiosidade, a descoberta, o encanto.
Venham amigos,
Tragam-me a prosa e verso.
Venham os anjos,
Encham-me de carinhos e paz.
Venha Universo
Realize meu desejo de escrever, de criar.
Pois sei que conspiras a meu favor.
Venha meu Criador,
Que seja feita vossa vontade.
“O que me traz a maior alegria do mundo é ver a tela branca de um PC com alma aberta e muita inspiração”

VELHOS

Quando a gente fica velho,
Tudo cai
É a lei da gravidade,
Do desgaste,
Do tempo,
Sei lá!

Quando o homem fica velho,
Dizem: “Mija no pé”.
Tudo murcha.
Só barriga cresce,
Fica exuberante.
A próstata, também cresce.

OBSESSÃO INFERNAL

O tempo passou e descobri que:
Não tenho que ser importante,
Não preciso de cartão de crédito,
Não é tão necessário ser macho,
Não é imprescindível falar inglês,
Não preciso mesmo visitar Paris,
Não tenho que ser magro,
Não preciso acumular,
Não preciso ter a mente jovem,
Não preciso de uma mente aberta,
Só preciso da mente que me cabe.
Não preciso ser o melhor amigo do filho
Porque já sou seu melhor amigo com algo a mais;
Não preciso de carro zero comprado a 80 prestações,
Com 60 ele já estará velho;
Não preciso de religião, só de religiosidade;
Não preciso de partido para ser político,
Não preciso ser politicamente correto,
Pois a preocupação em acertar só realça a diferença,
Não necessito disfarçar quando estou triste,
Ficar triste não é feio;
Nem preciso envergonhar-me por ter alegria.

Enfim, NÃO PRECISO DESSA VIDA MODERNA.
“Felicidade acontece quando eu tenho as goivas, a madeira é macia e a inspiração é farta.”

19 de setembro de 2010

A MULHER DO GATO

Em “Sampa” acontecia o Revelando São Paulo no Parque da Água Branca, uma festa onde os melhores e mais variados grupos musicais regionais se apresentam. Você podia comer inusitados pratos paulistas, inclusive alimentos antigos usados pelos bandeirantes. Lá se expõe também as peças originais dos maiores artesões do estado.

Embora não seja muito divulgado trata-se do maior espetáculo artístico do estado. A grandiosidade é tal que imagino ser pário duro para o próprio carnaval carioca.

Pois bem, nesta festa cujos adjetivos não são suficientes para classificar sua grandiosidade, estava eu, de mala e cuia acampado com minha pesada tralha de arte esculpida. Foi lá que uma jovem senhora se encantou pelo meu gato elaborado em cedro rosa. Paparicou a peça, elogiou-me e disse em seguida:

- É o Jonathan com certeza, escarrado e cuspido!

Na verdade, não poderia ser a cara de gato nenhum, pois era obra moderna de formas estilizadas. Depois de contar-me a história do dito cujo, desde bebê, da mamadeira que usava, da caixinha com areia, do jeito no qual o bicho dormia com ela, da comida balanceada, do câncer que adquirira na velhice despediu-se, tecendo novos elogios a meu respeito prometendo retorno.

E assim, não passava um dia sem sua visita elogiando-me e pedindo para não vender o gato . Um dia reclamava dos R$ 1400,00 gastos com a químio do amado felino. Dizia que meu gatinho era caro para quem estava tão debilitada de dinheiro. Noutro dia, reclamava porque gastará R$ 400,00 com remédios e pedia desconto. Novo dia, mais gasto com o bichano, ora era novo remédio, ora ambulância, ora alimento, ora banho. A dona pensava seriamente num analista para o bichinho, mas embora já tivesse dado desconto ela queria mais.

Assim transcorreram os sete dias da festa, com visitas freqüentes da infeliz, choramingando pelo sofrimento do Sr. Jonathan, elogios ao “grande artista” e pedidos de descontos até o último dia quando a coitadinha que gastara dezenas de salários mínimos com o precioso levou meu gato de madeira de R$ 180,00 por R$ 60,00.

Pois é, depois de passar sete dias sem defecar porque banheiro químico nem morto uso. Depois de tomar só 3 banhos na semana, pois concorrer com outros 100 artesões um só chuveiro era duro “pra cachorro”, depois de passar uma semana sem dormir em meio a uma multidão de camas, depois de,todos os dias, ter saído às cinco da manhã e ficado na feira até 22 horas. Não podia levar todas as obras de volta sem deixar a família e as contas pra lá.

Afinal, nem todo mundo pode ser um Jonathan na vida.

A feira acabou e, consciente de que o ocorrido representava bem a nossa nova sociedade contemporânea (indiferente, fútil e hipócrita), a promessa de um descanso breve me deu forças para cantar na viagem de volta a canção do Eduardo Dusek : “Troque seu cachorro por uma criança pobre...”

JABÁ

Foi numa noite de outono do ano passado quando minha esposa manifestou o desejo de comer carne seca. Fiquei contente e havia motivos para isso, pois há anos não pedia qualquer coisa especial, algo para si mesma. Portanto, essa era a oportunidade de agradar essa mulher que tanto amo, companheira no trabalho e ainda cuida com carinho de todo mundo sem nada exigir.

Está certo, o pedido era muito simples, coisa que qualquer um poderia cumprir, mas era a única ocasião de servir alguém tão bondosa, cujo bom senso nunca permitia dar o passo maior que a perna. Daí o motivo de um desejo tão simplório.

Pus-me na rua, em busca da carninha saborosa, ansioso por satisfazer a amada que tanto merecia. Durante o caminho lembrava-me daquelas carnes secas penduradas em ferros por ganchos, junto com salaminhos e outras carnes nos açougues, das carnes secas que vinham em pacotinhos de plástico transparente e sem rótulos que há tempos não comprava.

No supermercado mais próximo aquela exposição – bem elaborada – de frios e queijos com todo tipo de carnes salames e carnes saturadas, estrangeiras com todo tipo de rótulo faziam uma festa para os olhos e uma mina de saliva na boca. Mas, cadê a carne seca?

Estava escurecendo, corri apressado a uns dos últimos açougues ainda resistindo à modernidade e nada achei.

A semana correra depressa comigo garimpando carne seca em supermercados diversos. Essa empreita já se tornara uma questão de honra. Três semanas após quando decidi que traria a tal carne nem que fosse ao nordeste buscá-la comentei com uma funcionária do supermercado mais perto de casa que não achava mais carne seca em lugar nenhum, justo um produto tão comum na nação brasileira não deveria ter sumido assim. Ela respondeu-me:

- Olha aqui a carne seca, é da Mondeli uma boa marca.

Peguei o pacote todo desenhado com carnes rodeadas de alface e li devagar:

- JER-KE-ED - BE-EF. Nossa! Jerkeed Beef é o nome do jabá agora, justo esse produto tão nacional, herança dos navegadores portugueses e talvez até de índios.
Cansado mas satisfeito, resolvi incrementar o pedido com couve, laranja, feijão preto, farinha de mandioca, paio e um pouco de toucinho bem vermelhinho – que hoje chamam de bacon.

Sai pensando nos absurdos de hoje, os quais não posso entender como: fast food, delivery, place, dowloads, self-service, ...

7 de setembro de 2010

Não me arrependo jamais,
Amei muito, profundamente,
Incondicionalmente,
Amei demais
Minhas irmãs, esposa, filhos, netos,
Os filhos dos outros,
Os amigos.
Não me arrependo de nada do que fiz,
Mesmo das horas nas quais errei.
Só me arrependo das coisas que não fiz:
Dos sonhos que não vivi
Dos abraços apertados que não dei
Do beijo que não roubei,
Da música que não dancei,
Da desculpa que pedi,
E daquela que não pedi,
Da palavra que não falei,
Da risada que contive,
Da lágrima que aprisionei.

Por que ter nostalgia de uma geração
cujo medo, covardia, machismo, comodismo, tabus
foram dominantes e nem sequer admitíamos?

NOTA: Acho que já usei algumas frases repetidas que está em outro verso, mas enfim, era o que estava pensando ontem a respeito das pessoas um pouco mais velhas como eu por exemplo

A VELHA SENHORA

Tenho na Praça Padre Tavares um quiosque, onde exponho minha arte. Visitam-me no local muita gente de fora que encantadas, tiram fotos, filmam fazendo-me acreditar que o box tornara-se um novo ponto turístico da cidade. De vez em nunca, vendo uma peça.

Passam por lá boas pessoas que gosto e também gente má que não desgosto. Há umas especiais e outras essenciais.

Entre elas, há a velha senhora paupérrima mãe de dezoito filhos, é analfabeta, mas nunca pediu qualquer coisa. Ela não lembra, mas a conheço do tempo quando passava em casa e perguntava se tinha um terreno para carpir ou um jardim para cuidar.

Pois é, exatamente ela que apanhou do marido por anos a fio, que pariu em quase todo cio, que agora feliz e viúva visita-me uma vez por mês para apreciar minhas obras e apesar da pouca instrução que a existência não lhe permitiu, ainda é ela cuja sensibilidade artística ultrapassa de longe a de qualquer letrado prá lá de instruído a afirmar ter encontrado alguém como eu com o Dom de Deus, com mãos de anjo e coração de santo.

Passa horas admirando tudo, comenta sobre as peças e me segreda que sempre vê – com a vidência própria de quem guarda relações íntimas com a natureza – minhas personagens vagando por aí, pelo mundo astral ao nosso redor.

Sempre cogita de comprar um pilão mostrando um violeiro na parte exterior. Propõe me pagar a prestação, mas sempre consigo dissuadi-la da idéia, porque apesar de seu amor a arte, imagino as privações que passaria para possuir tal obra.

Sempre antes de se despedir, derrama sobre minha mesa de trabalho, uma sacola com balas, frutas e legumes repartindo-a criteriosamente comigo – meio a meio – o conteúdo de sua pobre sacola.

As pessoas ficam abismadas, sem entender o que leva uma pessoa tão pobre a agir assim. Mas eu, bem lá no fundo da alma, percebo o motivo deste gesto e acato com prazer e respeito.