O Brasil é a 2ª maior nação negra do mundo em habitantes
e, sem dúvida, tamanha negritude, influenciou sobremaneira esta terra. No
entanto, tornou-se este pais um caldo de miscigenação, possivelmente pela característica
antropofágica tupiniquim, pois já no princípio os nativos recebiam fraternalmente os portugueses, engoliam seus costumes, transavam e os inseriam na vida
cotidiana. Fato este, repetido até hoje, pois admirar-se o estrangeiro a ponto
de alguns brasileiros, ignorantes de suas raízes se tornarem os chamados
vira-latas.
Assim prossegue este antropofagismo a assimilar tanto o melhor como o pior dos
imigrantes, bem como o modo de vida e cultura provindo de mídias estrangeiras.
Não se percebe a nação como mistura de todos os gens do
planeta, como soma de conhecimentos, usos e costumes, como sendo um lugar único
e original capaz de mudar paradigmas existenciais.
Dos negros vieram não só música, comida, prosa, servidão,
mas também virtudes como: resignação, paciência, superação, humildade,
criatividade, etc.
Os diferentes imigrantes* trouxeram ferramentas
desconhecidas, conhecimentos para construir, fabricar e organizar, filosofias,
medicinas.
Porém, trouxeram também o vírus do velho mundo, Ou seja, as divisões:
capital-trabalho, esquerda-direita,
“instruído”-não instruído, a meritocracia,o dinheiro, riqueza-pobreza, cristão-ateu,
guerra-paz, patrão-empregado, liberdade-escravidão.
Como se não bastasse, essas divisões também trazem
consigo vaidades inconseqüentes como a petulância de se achar melhor,
prepotência, racismo, preconceito, ódio, intriga, fascismo, corrupção.
Então os estrangeiros trouxeram muito mal para cá? Não!
Isso tudo é o que somos, é o reflexo do que estava no mundo, mundo a qual nós
próprios criamos, pertencemos e aceitamos. Este é um mal que precisamos reconhecer
como nosso porque só o identificando é que podemos encontrar outras
alternativas de vida.
Alternativas estas que estão nas próprias raízes do
brasileiro, caso as conheçamos, pois um povo sem uma raiz que não conhece sua
própria identidade consequentemente não terá motivo ou iniciativa para fazer
nada.
Pois bem, descendemos de brancos imigrantes, negros e
índios, mas não atinamos e nem assimilamos nossa raiz mais antiga, mais
significativa, a dos índios. Sem isso, não encontrar-se á um porto seguro onde
se ancore a raiz brasileira,onde se tenha um princípio que apoie e sustente nossos ideais.
Não quero dizer que os índios sejam perfeitos, incorruptíveis.
Longe disso! Além de não serem nada
perfeitos, há muitos que adquiriram os vícios do colonizador. Além do mais, se
houver alguém um mínimo mais perfeito do que nós terráqueos, este alguém não
nasceria neste planeta.
Embora já sermos antropofágicos como os índios, de
gostarmos de mandioca de todos os jeitos, de uma boa rede, ainda nos resta o
desprendimento das coisas materiais, assimilar a preservação da natureza a
qualquer custo, o conhecimento e uso
melhor da diversidade biológica desta terra, a compreensão que a Terra, a fauna
e a flora é uma dádiva do Criador para o
benefício de todos, que toda propriedade não é nossa e sim do mundo, que
devemos ser hospitaleiros, solidários, fraternos, que nossa família são a
comunidade inteira e não só pai, mãe, filhos, tios e tias. Que o respeito ao
outro é fundamental, que a educação dos filhos é inalienável embora seja também
tarefa de toda a comunidade.
Enfim, prolongar, explicar e detalhar mais valores, usos
e costumes indígenas prolongaria muito este texto. No entanto, este resumo já
mostra uma raiz bastante resistente, uma identidade bem promissora e parâmetros
mais aceitáveis para um mundo melhor ainda se constituiria numa barreira ao
poder que manipula o mundo inteiro.
Rubens Prata
(A imagem é de uma índia Shibipo que vivia na divisa do Amazonas com Peru. Curandeira Shaman e artesã que foi assassinada aos 91 anos)
O entalhe em madeira é de minha propria produção.
--------Peço que curtam minha pagina e compartilhem já que todo artista precisa de divulgação para viver--------
*Imigrantes: sou neto de italianos e portugueses Portanto, possuo suas poucas virtudes e seus muitos vícios. Porém, me identifico mais com a cultura negra e especialmente com a dos nativos.