Os Beatniks foram um
movimento socio-cultural nos anos 50 e princípios dos anos 60 que subscreveram
um estilo de vida anti-materialista, foi nos anos 64 ou 65, mais ou menos, que
os conheci pela primeira vez, tratava-se de um grupo de jovens com cabelos
compridos, mulheres livres, roupas rotas e inusitadas que invadiram o Conjunto
Nacional - um edifício famoso da Av. Paulista que abrigava a embaixada americana,
o restaurante Fazano e muitos outros estabelecimentos famosos. Era lá que eu
trabalhava como office-boy - um trabalho que nem existe mais. Pois é, esses
beatinicks chegaram cheirando mal (eles não tomavam muito banho) esparramaram
seus desenhos neo-surrealistas pintados a pastel pelo chão e lá se instalaram
sem nenhuma cerimônia.
Embora não fossem seus
desenhos de uma qualidade indiscutível, me encantei com a novidade que sugeriam
e tive a coragem de mostrar meus desenhos para eles.
Foi aí que abismados com
minha arte, o grupo se fechou curioso em torno de mim, me convidaram para ir com eles à Irlanda,
pois tinham um veleiro ancorado na Ilha Bela que os levaria para lá, desde que
trabalhassem na embarcação.
Nossa! Tive um misto de
susto com sonho de aventura, mas esquivei-me pois tinha 14 ou 15 anos, minha
educação, à moda brasileira - fora bastante castrante - dessas que tolhem toda
iniciativa libertária de um jovem. Além do mais, eles com aquele aspecto me
pareciam, naquela época, um tanto ameaçadores. Tive medo, muito medo mesmo.
Daí por diante o espírito
de aventura e de liberdade permaneceu forte em minha alma, na década de 70
participava de um grupo naturalista destes que queriam uma casa no campo, com
meus livros, meus discos, meus amigos e filhos de cuca legal como a Elis
cantava na época, daí juntei minhas tralhas, vendi minha casa e vim com os
filhos bem novinhos para Avaré numa kombi abarrotada de coisas para ser
apicultor.
Deixei de ser apicultor
porque fui muito roubado e vandalizado, mas não deixei de minha arte e agradeço
ao Criador todos os dias porque tive coragem, pois além de ter o que a música
falava, sou pintor, escultor e vivo do trabalho que toda vida me empolgou.
Tenho meus cabelos compridos, bermuda, camiseta, havaianas e é assim, livre e
feliz com filhos de cuca legal que vivo em Avaré. O melhor de tudo é não ter
mais nenhum medo.
Não posso dizer que sou um
velho beatnick porque gosto de tomar muitos banhos e nadar bastante. Mas com
certeza sou um anarquista tupiniquim.
Rubens Prata
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