13 de maio de 2011

OS FANTASMAS DE ANDRADE SILVA




O apicultor Ubirajara em conversa com o administrador, soube dos fenômenos ocorridos naquela casa de fazenda, escutavam-se ruídos e caiam pedras surgidas em pleno ar.
Os moradores do lugar tinham na ponta da língua as mais esdrúxulas histórias. Uns diziam que ao abrir determinada porteira os espíritos apareciam, outros contavam que ao pé de um gigantesco eucalipto foram enterradas duas meninas vivas. Dizia-se que na casa grande da vila ouvia-se sons de correntes, gente gemendo.
O fato é que aquela pequena vila, perdida entre enormes árvores tinha mesmo aspecto tenebroso e ninguém contaria tantas histórias se nada houvesse. De modo que precaução nunca seria demais.
Era justamente lá pela grande quantidade de antigos eucaliptos dando flor em abundância quase o ano inteiro que o Sr. Ubirajara mantinha três grandes apiários com 30 colméias cada. Bira fazia apicultura migratória, isto é, na florada da laranja levava suas colméias para distantes laranjais, ao término da florada retornava com as caixas de abelhas para o eucalipal, conseguindo assim, produzir maior quantidade de mel.
O medo é contagiante, basta alguém começar a contar histórias fantasmagóricas e todo mundo fica logo sentindo que alguma coisa ruim está para acontecer e, Bira por prudência nunca contara sobre o que sabia aos três ajudantes, a esposa e seus dois medrosos cunhados. No entanto, certa noite quando trazia os enxames de volta dos laranjais, o medo tomou conta de todos e, sem nenhuma explicação, ninguém queria descer para abrir a famigerada porteira e por mais que Bira argumentasse teve, ele mesmo, que descer do veículo para abrir e fechar a porteira novamente.
A tarefa era mesmo difícil e apavorante, pois entravam por um caminho onde não se podia manobrar o carro, isto é, tinham que voltar de marcha a ré, com o auxílio de um lampião bem forte a gás. Além do mais, as gigantescas madeirais destinadas ao céu rangiam, como a gemer noite adentro. O chão era coberto de folhas secas a ponto das pernas ficarem atoladas até os joelhos.
Já no colmeal, com dois lampiões a gás ligados, os quatro com colméias na mão prontas para descarregar no estaleiro, entre os gemidos das árvores, o fenômeno ou poltergeist, sei lá como se chama, começou.
Uma gritaria ensurdecedora aconteceu em volta dos quatro, ao mesmo tempo, as folhas do chão rodopiavam em volta dos apicultores, como se tivessem muita gente correndo em torno deles e movimentando as folhas no chão. Escutavam-se gritos ou grunhidos irreconhecíveis, mas não se viam as pessoas. Era como se um grupo de almas ferozes dançassem em torno deles ameaçando-os com gritos de guerra horripilantes.
O cabelo do seu Ubirajara arrepiou até fazer doer o couro cabeludo e os outros três, quase desmaiando gritavam de medo, até quando o Ubirajara propôs soltar as caixas ali mesmo e voltarem todos para perua a fim de orarem.
Assim fizeram, todos no veículo de portas e janelas fechadas rezaram por longo tempo até que a algazzarra das almas parassem. Mas eles tinham que sair do lugar, era preciso descarregar e alguém ir iluminando o caminho atrás da perua para saírem do lugar de ré.
Com muito custo, Bira convenceu-os de terminar a tarefa.
Para falar a verdade, nunca ninguém descarregou e saiu tão depressa daquele lugar como naquela noite.  Nada mais aconteceu e ninguém queria nem falar no assunto de medo de atrair mais alguma coisa.
Durante toda a atividade e até na viagem de volta as orações não terminaram.
Anos se passaram e o acontecido nunca saira da lembrança do apicultor, mesmo porque ele não admitia passar por situação a qual não pudesse entender, e o que ouvira de comentários do local não corroborava com sua experiência. Até que um dia, o professor de história Franzolin dando uma entrevista na rádio da cidade, esclareceu que ocorrera um grande massacre de uma tribo indígena inteira naquela região.
Bira, ao ouvir, pôde acalmar suas dúvidas, pois aqueles gritos em volta deles mais parecia com uma tribo de índios dançando em torno de seus inimigos e os ameaçando. A língua que falavam, era lógico que não se pudesse entender pois só podia ser Caiowá.
A lembrança do ocorrido, até hoje, chega a ouriçar os pelos do braço e ainda é muito custoso contá-la.

R. Prata

P.S. Essa história é verdadeira e só mudei um nome.

P.S. Em conversa recente com o professor Franzolin, ele me relatou que o governo de uns tempos atrás até pagava para matar índios e que havia pessoas que viviam dessa matança.